Em pauta

Uma tarde na casa de Hans Christian Andersen 

Por Camila Saraiva

Estimativa de leitura: 3min 56seg

6 de novembro de 2023

Durante as férias, enquanto compartilhava fotos de viagem no Instagram, uma autora de literatura infantil me escreveu no direct: “Você não vai deixar de dar um pulo em Odense, né?”. Parei, dei aquela espiada no Google e confirmei: era a cidade natal de Hans Christian Andersen. Eu estava em Copenhague, na Dinamarca, e já tinha visto a escultura da Pequena Sereia, mas não planejava visitar Odense.  

Ainda ficaríamos alguns dias em outra cidade dinamarquesa, e Odense estava bem no meio do caminho. Como era minha vez de assumir a direção do carro naquele trecho da viagem, planejei uma parada na cidade. Duas horas depois de sair de Copenhague, percorrendo uma estrada cênica com direito à travessia de uma ponte de sete quilômetros de extensão entre as ilhas de Zelândia e Fiônia, chegamos a Odense. Eram duas horas da tarde de uma sexta-feira ensolarada. Odense é a terceira maior cidade do país, com duzentos mil habitantes. Poucos estavam na rua. Entre eles, uma simpática senhora com o cachorro: “Ele está feliz porque viu as crianças. Está com saudades dos meus netos, que estavam em casa, mas foram embora ontem”. Essa foi uma das poucas vezes que alguém foi simpático com as crianças na viagem. Talvez na cidade de Hans Christian Andersen fosse diferente mesmo. A poucos passos dali, encontramos a casa onde o dinamarquês mais famoso do mundo passou a infância.   

Ao entrar no museu Hans Christian Andersen, uma senhora argentina nos recebeu. Ela explicou que os ingressos dariam acesso à exposição permanente e, depois, poderíamos conhecer a casa onde Andersen viveu. Os visitantes recebem um fone de ouvido e, a cada parada perto de um ícone, é possível ouvir trechos da biografia do escritor, assistir a vídeos, observar objetos, manuscritos, cartas e fotos. A visitação começa pela história de vida de Andersen, e logo percebo que será narrada como se estivéssemos dentro de um livro. A forma como a visita é guiada diz muito como será a experiência e o contato com a obra do artista. No museu, todo o acervo de literatura infantojuvenil se encontra no fim da exposição. Na primeira parte, descobrimos que a infância do escritor foi humilde e sofrida. Ouvir histórias era uma forma de passar o tempo e entreter a criança que não tinha brinquedos nem amigos. Andersen também gostava de observar fenômenos da natureza no modesto jardim do local.  

O prédio do museu foi inspirado na vida e nas histórias do escritor e é uma verdadeira obra de arte. Segundo o arquiteto japonês responsável pelo projeto, Kengo Kuma: “O que mais me impressionou na história do autor foi o contraste entre a pequena casa em que ele viveu e a grande personalidade que ele se tornou no mundo”.   

Ao final da exposição, os visitantes entram em uma ala na qual podem participar de jogos interativos que falam dos principais contos do autor, entre eles A Pequena Sereia, A roupa nova do imperador, A princesa e a ervilha e A pequena vendedora de fósforos.  

O mais famoso de todos é o conto que encerra a exposição e traz um depoimento autobiográfico: Andersen conta que O patinho feio foi inspirado em sua própria vida —ele sofreu bullying e sempre se sentiu deslocado. Os contos de Andersen no geral são tristes, melancólicos e trazem personagens que passam por provações e privações. Tal qual O patinho feio, muitos foram inspirados em experiências e vivências do próprio autor, que publicou mais de 150 contos populares, além de poemas e peças teatrais para adultos. Andersen era o mestre do “viveram infelizes para sempre”, e a narrativa escolhida para encerrar a exposição não poderia ser outra. 

O museu consegue equilibrar o acervo analógico e digital, sem ser muito moderno nem muito arcaico, tornando a experiência do visitante contemplativa e interativa na medida certa.  

Enfim chegamos à modesta casa onde Andersen passou a infância: a emoção vem à tona ao imaginar que ali o escritor ouviu histórias folclóricas contadas pelos familiares e foi incentivado a narrar suas primeiras versões de seus famosos contos, que, posteriormente, chegariam a escolas e lares do mundo inteiro.  

Obrigada, querida Telma Guimarães, pela indicação! Nem só de textos e ilustrações se alimenta uma relação entre autora e editora. Adoro trocar experiências de viagem com você. 

Para saber mais, acesse: https://hcandersenshus.dk/

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