Nos últimos anos, nos tornamos tão grudados nas telas que pouco a pouco fomos deixando de telefonar, olhar nos olhos e conviver. Nunca estivemos com tantos dispositivos de contato, mas ao mesmo tempo, tão sozinhos.
A solidão crônica cresce velozmente e corrói a saúde física, sendo hoje reconhecida como fator de redução da expectativa de vida.
Diante deste vazio de afetos, o uso de telas explodiu e nos tornamos todos (mais ou menos) viciados em conteúdos que, consumidos de forma personalizada, a partir de nossos likes ou curtidas, do tempo que olhamos uma foto ou série, reforçam nossa bolha de realidade, nos indispondo a lidar com o outro, com o diferente e com o divergente. Incomodou-me? Não sigo mais. Chateou-me? Cancelo. Discordou de mim de forma incisiva? Denuncio.
Vamos nos esvaziando do contraditório, do diálogo, do outro. Desaprendendo a olhar nos olhos, aceitar a vida e o mundo tal como são, nos tornamos especialistas apaixonados por nós mesmos.
Fechados em nossas bolhas narcísicas, nos sentimos ainda mais solitários e assim, mais tendemos a buscar as telas atrás daquela sensação de dopamina que nos distraia do vazio e da desconexão.
Para apimentar ainda mais o caldo desta feijoada insossa que se tornou nossa vida, já nem percebemos o quanto vemos, ouvimos e aceitamos os conteúdos violentos. Dos realities shows que invariavelmente fomentam a fofoca e a exclusão aos games mais vendidos, dos noticiários sanguinolentos às séries mais vistas, vamos aspergindo o ar da violência a violar nossa paz, nosso sono, nossa família, nossos jantares com amigos.
Normalizamos tanto a violência que nos tornamos cínicos a ponto de vermos familiares que quando chamados à escola por terem um filho que agride de forma intencional, cruel, sistemática e pública (leia-se, bullying), dão de ombros, justificam, ‘passam pano’. Não raro, agem com a orientadora ou a diretora do mesmo modo que seus filhos.
E vai piorar. Muito. Simplesmente porque o ciclo da violência nos alivia temporariamente do nosso vazio. É o whisky da alma, da dor que sentimos diante de uma sociedade já tão abandonada, polarizada, machucada. Por isso, tão importante quanto as campanhas pela paz, as palestras e rodas de conversa, além de projetos culturais sobre relações saudáveis, precisamos ensinar as crianças e jovens a desenvolverem uma maior independência emocional. Leandro Karnal, historiador e professor, em um de seus vídeos comentou que aquele que sabe quem é, dificilmente se sente ofendido. Ele diz que um dia um estudante o chamou de careca e ele, no lugar de se ofender, lhe perguntou: “Pois não?”.
Arthur Schopenhauer, importante filósofo do século XIX, nos ensina a lidar com a crítica de uma maneira sábia. Segundo ele, se ela vem de uma autoridade no assunto e revela algo que realmente podemos melhorar, o melhor a fazer é acatar, agradecer e nos aprimorar. Mas se a crítica vem de uma fonte que não nos conhece ou é sabidamente maldosa, basta ignorar. Ouvir e descartar. Não é fácil, mas é um bom exercício a ser praticado, concorda?
O senso de identidade de um estudante da Educação Básica ainda não está desenvolvido a ponto de torná-lo indiferente à opinião alheia (e é bom que saibamos ouvir o que os outros pensam e sentem sobre nós, desde que lembremos que mais importante do que o que fizeram conosco, é o que faremos com o que os outros fizeram de nós, como nos ensina Jean Paul Sartre, um dos mais importantes filósofos existencialistas).
- O que você sentiu quando o outro fez _______?
- O que pensou quando seu colega disse _________?
- Que conselho daria para o seu melhor amigo se ele estivesse passando por isso agora?
- Como uma pessoa muito sábia e madura lidaria com isso?
Perguntas como estas fortalecem a flexibilidade cognitiva e ensinam que não tendo controle sobre a realidade externa ou sobre as atitudes dos outros, ainda assim, temos escolha do que e como agir quando a vida ou os outros nos ferem.
O jiu-jitsu e outras artes marciais, com o intuito de autodefesa, podem ajudar em situações nas quais a integridade, não só emocional, como física, está ameaçada. Aulas de teatro, música e outras expressões artísticas também podem trazer alívio às dores emocionais. E claro, a psicoterapia, em especial as de abordagens que dispõem de técnicas para aliviar sintomas advindos de traumas como a psicoterapia cognitiva, a logoterapia e outras.
Infelizmente estamos ainda engatinhando em direção a uma maior consciência sobre temas como saúde mental e responsabilidade emocional, por isso se tornou praticamente um consenso nos últimos anos a necessidade de oferecermos aulas de Projeto de Vida e competências socioemocionais.
Pessoas que vivem em famílias e escolas que lhes transmitem valores e lhes lembram do poder que temos, nós todos, de melhorar o mundo com a nossa presença, têm chances muito maiores de se tornarem os melhores estudantes para o mundo. Não é o que você mais quer para seu filho?