O desenvolvimento da inteligência emocional das crianças acontece em casa, mas a escola também tem muito a contribuir para o exercício dessa habilidade. Saiba mais!
A inteligência emocional está relacionada a muitos resultados importantes para crianças e adultos. Quem é estimulado a desenvolver essa habilidade desde cedo se torna capaz de prestar atenção, ter relacionamentos positivos e, até, ser mais empático.
As famílias não estão sozinhas para ajudar seus filhos a serem mais inteligentes do ponto de vista emocional. Tanto o ambiente doméstico quanto o escolar têm muito a contribuir com essa parte importante do desenvolvimento infantil.
Aqui, vamos entender sobre o que está por trás da inteligência emocional e como os educadores podem contribuir com o exercício dessa habilidade. Confira!
O que é inteligência emocional?
A inteligência emocional (também conhecida como quociente emocional ou QE) é definida como a capacidade de compreender e gerenciar suas emoções, bem como reconhecer e influenciar as emoções das pessoas ao seu redor.
Esse tipo de inteligência não é medido por testes de QI. Ainda assim, é fundamental para ajudar as pessoas a superar desafios e responder às situações de conflito.
A expressão “inteligência emocional” foi cunhada pela primeira vez em 1990 pelos pesquisadores John Mayer e Peter Salovey. Mais tarde, foi popularizada pelo psicólogo Daniel Goleman, no livro “Inteligência Emocional: por que pode ser mais importante que o QI”, 1995).
Em entrevista para a revista Harvard Business Review, Goleman explica sobre essa capacidade na prática:
“Os líderes mais eficazes são todos semelhantes num aspecto crucial: todos têm um elevado grau daquilo que veio a ser conhecido como inteligência emocional. (…) A minha investigação, junta a outros estudos recentes, mostra claramente que a inteligência emocional é a condição sine qua non da liderança.”
A relação entre liderança e inteligência emocional faz sentido. Uma pessoa que consegue se acalmar quando sente raiva provavelmente se sairá bem em circunstâncias difíceis.
E uma pessoa que consegue expressar suas emoções de maneira saudável manterá relacionamentos mais saudáveis do que alguém que grita ou diz coisas maldosas quando está com raiva.
A boa notícia é que todos têm a capacidade de aprender habilidades de inteligência emocional. No caso das crianças, elas só precisam de adultos para ensiná-las como.
Quais são os pilares?
A inteligência emocional é normalmente dividida em quatro competências essenciais: autoconsciência, autogerenciamento, consciência social e gestão de relacionamento. Entenda, a seguir, como esses pilares funcionam.
Autoconsciência
Pensar sobre nossas próprias emoções pode parecer um exercício simples, mas é um dos primeiros passos para desenvolver a inteligência emocional.
A autoconsciência é a habilidade de reconhecer nossas próprias emoções, assim como os efeitos que elas têm em nossos pensamentos e comportamentos. Ter uma compreensão clara de como nos sentimos em diferentes situações nos ajuda a tomar decisões.
Autogerenciamento
Já se pegou em uma situação em que precisava manter a calma, mas suas emoções estavam prestes a transbordar? O autogerenciamento é o pilar da inteligência emocional que entra em ação nessas horas. Essa habilidade tem a ver com o controle e direcionamento das suas emoções de maneira saudável e produtiva.
Trata-se de autorregulação, resiliência e a capacidade de se manter calmo sob pressão. O autogerenciamento ajuda a evitar reações impulsivas e permite que você mantenha o equilíbrio mesmo em situações desafiadoras.
Consciência social
Frequentemente, as interações na escola e em todos os ambientes são marcadas pela capacidade de compreender e sentir o que os outros passam.
A consciência social é a habilidade de reconhecer e ter empatia pelas emoções das pessoas. Colocar-se no lugar do outro e perceber seus sentimentos e perspectivas melhora as relações interpessoais.
Gestão de relacionamento
A gestão de relacionamento, o quarto pilar da inteligência emocional, envolve o uso integrado da autoconsciência, do autogerenciamento e da consciência social. Isso se traduz em habilidades como comunicação eficaz, resolução de conflitos e a capacidade de inspirar e influenciar os outros.
É uma habilidade importante, porque os relacionamentos interpessoais afetam nosso bem-estar e sucesso. Ao dominá-la, você pode criar redes de apoio fortes, fomentar uma colaboração e liderar com empatia e compreensão.
Qual a importância de trabalhar a inteligência emocional na escola?
Durante décadas, o foco da educação esteve predominantemente nas habilidades cognitivas, como leitura, escrita e matemática. No entanto, à medida que nossa compreensão do desenvolvimento humano evolui, percebemos a importância das habilidades emocionais e socioemocionais.
Não à toa, o interesse em aplicar a inteligência emocional nas escolas tem crescido nos últimos anos. O objetivo dessa iniciativa vai além de melhorar a saúde e o bem-estar dos estudantes durante o ensino, pois também envolve ajudá-los a ter sucesso na vida pessoal e profissional.
Não são as pessoas mais inteligentes as mais bem-sucedidas ou as mais realizadas na vida. Pessoas que você conhece que são academicamente brilhantes, às vezes, também são socialmente inaptas e malsucedidas no trabalho ou em seus relacionamentos pessoais.
Em outras palavras, a capacidade intelectual ou o quociente de inteligência (QI) não são suficientes, por si só, para alcançar o sucesso nas relações ou no trabalho.
Sim, o QI pode, por exemplo, ajudar um jovem a entrar na faculdade, mas é o seu QE que o ajudará a controlar o estresse e as emoções ao enfrentar as provas de cada matéria e o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). QI e QE existem em conjunto e são mais eficazes quando se baseiam um no outro.
Como desenvolver a inteligência emocional das crianças na escola?
É bem verdade que os pais e familiares têm uma influência drástica na inteligência emocional das crianças, mas da porta da escola para dentro os professores também podem cumprir um papel no desenvolvimento dessa habilidade.
Continue e entenda mais sobre o papel da escola no exercício da inteligência emocional das nossas crianças e dos nossos jovens adolescentes.
Leitura em voz alta
Os professores podem usar a leitura em voz alta na sala de aula para apresentar às crianças um novo vocabulário para expressar emoções e depois relacionar os sentimentos das histórias com outros temas.
Livros infantis que exploram sentimentos como alegria, tristeza, medo, coragem e nervosismo são ótimos para serem usados para ensinar as crianças a identificar e nomear emoções.
Ao ouvir as histórias, os pequenos não apenas aprendem novas palavras para descrever seus sentimentos, mas também veem como os personagens lidam com essas emoções em diferentes contextos.
Por exemplo, lendo uma história que envolva uma visita ao consultório médico, os professores podem destacar palavras como “nervoso” e “corajoso”. Durante a leitura, o professor pode fazer pausas estratégicas para discutir com as crianças como os personagens se sentem e o porquê.
Perguntas como “Por que você acha que o personagem está nervoso ao ir ao médico?” ou “O que o personagem fez para ser corajoso?” ajudam a conectar as emoções dos personagens com as experiências das crianças.
Os professores também podem demonstrar como diferentes emoções costumam influenciar a comunicação verbal e não verbal, usando entonações de voz e expressões faciais apropriadas durante a leitura.
Esses detalhes ajudam as crianças a compreenderem melhor as nuances das emoções e a desenvolverem suas próprias habilidades de comunicação emocional.
Mural de sentimentos
Nas escolas que valorizam as emoções das crianças e dos educadores, há um esforço consciente para incentivar o uso de um vocabulário diversificado para descrever os sentimentos.
Se você perguntar a um grupo de crianças de 3 anos como elas estão se sentindo, o que elas diriam? Bom? Feliz? E se você perguntar a um grupo de educadores? As respostas podem não ser tão diferentes! A maioria de nós usa um vocabulário limitado para descrever nossos sentimentos ao responder à pergunta “Como vai você?”.
Com um mural de sentimentos na sala de aula, todos os dias as crianças podem ser incentivadas a escolher uma palavra ou expressão que represente como estão se sentindo e colocá-la em um espaço designado no mural.
Esse simples gesto ajuda as crianças a expandirem seu vocabulário emocional e promovem uma reflexão sobre suas próprias emoções.
Histórias pessoais
Outra maneira de os professores incorporarem a inteligência emocional na rotina da sala de aula é compartilhando histórias sobre seus próprios sentimentos.
Ouvir sobre as experiências emocionais de outras pessoas ajuda as crianças a compreender formas de expressar as emoções. Quando os educadores compartilham suas próprias histórias, eles modelam comportamentos saudáveis e criam um ambiente de apoio.
Você pode compartilhar histórias curtas, de 2 a 3 minutos, durante a reunião matinal, em grupos grandes ou pequenos, ou, até mesmo, em lanches ou refeições. O importante é que essas histórias sejam apropriadas ao desenvolvimento das crianças e transmitam lições sobre como lidar com diferentes emoções.
Por exemplo, um professor pode contar uma história sobre um momento em que se sentiu ansioso antes de uma apresentação importante. Ele pode descrever como essa ansiedade se manifestou fisicamente, como um coração acelerado ou mãos suadas, e o que fez para se acalmar, como respirar profundamente ou praticar a apresentação várias vezes.
Com esse relato, o professor demonstra que sentir ansiedade é normal e oferece estratégias para gerenciá-la. Essa história pessoal ajuda as crianças a ver que todos, inclusive os adultos, sentem emoções intensas e que existem maneiras saudáveis de lidar com elas.
Atividades extracurriculares
Pintar, desenhar, modelar com argila ou participar de projetos de arte em grupo pode ajudar as crianças a externalizar suas emoções de uma forma tangível.
Enquanto trabalham em suas criações, os educadores podem incentivar discussões sobre o que as crianças vêm sentindo e como essas emoções influenciam suas escolhas artísticas. Esse processo de reflexão ajuda as crianças a reconhecerem e nomearem suas emoções, fortalecendo sua autoconsciência.
A música é outra poderosa ferramenta para o desenvolvimento da inteligência emocional. Participar de atividades musicais, como cantar em um coro, tocar um instrumento ou, até, ouvir diferentes tipos de música ajuda as crianças a se conectarem com suas emoções.
A música tem o poder de evocar sentimentos e pode ser usada como uma forma de expressão. Os educadores têm a possibilidade de encorajar as crianças a escolherem músicas que refletem como se sentem ou a criarem suas próprias composições musicais para expressar seus estados emocionais.
Da mesma forma, esportes e atividades físicas em grupo oferecem oportunidades para desenvolver habilidades emocionais importantes, como o trabalho em equipe, a resolução de conflitos e a resiliência.
Jogar em um time ensina as crianças a lidar com a vitória e a derrota, a gerenciar a frustração e a apoiar os colegas. Essas experiências práticas são essenciais para construir a capacidade de enfrentar desafios emocionais e manter um equilíbrio saudável.
Envolver as famílias e os demais professores
Um professor não está só nessa missão! Envolver as famílias e demais educadores no desenvolvimento da inteligência emocional ajudará a criar um ambiente solidário onde as crianças podem aprender, reconhecer e expressar suas emoções.
Para entender melhor a importância desse envolvimento, vamos considerar um exemplo prático: como uma criança pode expressar raiva em sala de aula? Imagine uma situação em que ela está se sentindo frustrada e com raiva porque algo não saiu como esperava. É normal e saudável querer expressar esse sentimento.
Na sala de aula, seria apropriado se a criança pudesse verbalizar claramente: “Estou com raiva.” Por outro lado, se ela expuser sua raiva de forma física, como empurrando ou agredindo, essa ação não é aceitável.
Isso não só cria um ambiente inseguro, mas também não ajuda a criança a lidar com suas emoções de maneira produtiva. É aqui que a discussão entre educadores e o envolvimento das famílias se torna fundamental.
O debate entre educadores pode ajudar a definir normas escolares claras sobre expressão emocional e comportamento aceitável. Por exemplo, é importante que todos concordem em ensinar às crianças que é normal sentir raiva, mas não é aceitável expressá-la de maneira agressiva ou prejudicial a todos os outros alunos.
Os professores também podem realizar reuniões com os pais para explicar o que é ensinado na escola sobre inteligência emocional e discutir maneiras de apoiar essas habilidades em casa.
Lembre-se sempre: o desenvolvimento da inteligência emocional na escola é um trabalho coletivo, que envolve educadores, famílias e os próprios alunos. Criando um ambiente onde as emoções são valorizadas, estamos ajudando as crianças a crescerem emocionalmente saudáveis e preparadas para enfrentar os desafios da vida.
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