variação linguistica: o que é
Conteúdo para Aulas Educador

Variação linguística não é erro, é jeito de falar

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 6min 21seg

12 de junho de 2025

Entenda por que a variação linguística deve ser valorizada na escola e na sociedade — e como ela revela a riqueza do português falado no Brasil. 

Na sala de aula, no pátio da escola, no grupo da família ou na fila do mercado: o português está em constante transformação. E, diferente do que muitos pensam, não existe uma única forma “certa” de falar. O que existe é a variação linguística — um fenômeno natural, rico e essencial para compreendermos não só a linguagem, mas também as relações sociais, culturais e históricas que ela carrega. 

O que é variação linguística? 

Variação linguística é a forma como a língua muda de acordo com o tempo, o lugar, o grupo social, o contexto ou o propósito da comunicação. Ela mostra que a linguagem não é estática: ela se adapta e se transforma conforme os falantes. E essa flexibilidade não é um problema, é justamente o que mantém a língua viva. 

Do ponto de vista da Linguística, nenhuma forma de falar é inferior à outra. Todas as variedades têm regras, coerência interna e funcionam perfeitamente nos contextos em que são usadas. O que ocorre, muitas vezes, é o preconceito linguístico: o julgamento negativo de certas formas de falar, geralmente associadas a grupos marginalizados socialmente. 

Tipos de variação linguística 

1. Variação linguística geográfica (diatópica) 

Ocorre quando a forma de falar muda conforme a região. Isso inclui sotaques, vocabulário e até mesmo a forma de construir frases Exemplos: 

Vocabulário:  

  • “Mandioca” em São Paulo; 
  • “Macaxeira” no Nordeste; 
  • “Aipim” no Rio de Janeiro. 

Sintaxe: 

  • “Tu vais à escola hoje?” (comum no Sul e no Norte do país). 
  • “Você vai à escola hoje?” (mais comum no Sudeste e no Centro-Oeste). 

Para mais exemplos de regionalismos navegue pelo nosso infográfico, é só clicar e acessar! 

­

2. Variação linguística social (diastráticas) 

Relacionada às diferenças entre grupos sociais — como classe, escolaridade, profissão, idade ou gênero. Pessoas de contextos sociais diferentes podem usar palavras ou construções distintas, mesmo vivendo na mesma cidade. 

Variação linguística

­

3. Variação histórica (diacrônicas ) 

Mostra como a língua muda ao longo do tempo. Palavras e estruturas que eram comuns no passado caem em desuso ou ganham novos significados. Por exemplo, palavras como “vossa mercê” viraram “você”, e depois se encurtaram para “cê” ou “ocê” em muitas regiões. Na imagem abaixo, confiram mais exemplos deste tipo de variação. 

variação histórica

­

4. Variação situacional (diafásicas) 

O famoso formal x informal. Uma mesma pessoa pode usar formas diferentes de falar se estiver em uma entrevista de emprego, em uma conversa com amigos ou explicando uma tarefa para os filhos. 

variação formal
Fonte: Reprodução Pinterest

 ­

Preconceito linguístico: um desafio silencioso 

O preconceito linguístico acontece quando uma forma de falar é julgada como errada ou inferior. Geralmente, essas críticas têm menos a ver com a linguagem em si e mais com os grupos sociais que a utilizam. 

Na escola, esse tipo de julgamento pode gerar vergonha, insegurança e exclusão. O estudante que ouve que “fala errado” pode sentir que sua origem ou sua cultura também são erradas. 

Por que a escola deve respeitar a variação linguística? 

A escola é, muitas vezes, o primeiro espaço onde o estudante tem contato sistemático com a norma-padrão da língua, aquela ensinada nos livros didáticos, usada em exames formais e exigida em contextos institucionais. No entanto, é fundamental que esse processo não desvalorize as formas de fala que os estudantes já dominam em seu cotidiano. 

Essas formas, muitas vezes ligadas à região, classe social, cultura ou geração, são expressões legítimas de identidade e pertencimento. Desmerecê-las significa não apenas desrespeitar a riqueza da língua, mas também negar parte da história de vida deles. 

O papel da educação, portanto, é ampliar o repertório linguístico dos estudantes: ajudá-los a transitar com competência entre diferentes registros e estilos de fala e escrita, de maneira consciente e crítica. Isso não se trata de impor uma única maneira “certa” de se expressar, mas de mostrar que diferentes situações exigem diferentes formas de comunicação, e dominar essa variedade é uma poderosa ferramenta de cidadania. 

Ao reconhecer e valorizar a variação linguística, o professor: 

  • Combate desigualdades e discriminações linguísticas; 
  • Fortalece a autoestima dos estudantes; 
  • Cria um ambiente de aprendizado mais acolhedor e inclusivo; 
  • Ensina que se comunicar bem é saber se adaptar aos contextos.  

Respeitar a variação linguística, portanto, é não apenas um compromisso com a língua viva e real, mas também um ato de promoção de igualdade e de formação cidadã. 

Como trabalhar o tema da variação linguística em sala de aula? 

1. Debates e rodas de conversa

Proponha momentos de escuta ativa com áudios, vídeos ou expressões do dia a dia, como trechos de conversas informais, entrevistas de rádio ou redes sociais. Estimule os estudantes a refletirem sobre os diferentes jeitos de falar em distintas regiões, faixas etárias ou contextos sociais. Pergunte: “Por que essa forma é mais comum aqui?” ou “Como falaríamos isso de outro jeito em outra situação?” 

2. Análise crítica de discursos

Utilize memes, letras de música, trechos de novelas e falas de influenciadores para discutir o uso da linguagem conforme o público, o objetivo e o meio. Incentive os estudantes a perceberem que a escolha das palavras pode reforçar pertencimento, identidade ou humor, e que toda linguagem tem seu valor em determinado contexto. 

3. Mapas linguísticos

Organize um “mapa da fala” da turma: peça que os alunos compartilhem palavras e expressões típicas usadas em casa ou na vizinhança. Depois, construam juntos um mapa geográfico ou sociolinguístico, mostrando como a língua varia de acordo com as regiões, origens familiares e gerações. 

4. Estudos comparativos

Traga textos que representem registros diferentes — como uma carta formal, uma conversa de WhatsApp, uma notícia de jornal e um poema popular. Promova a análise comparativa para que os estudantes percebam que a língua se adapta à situação comunicativa, e que dominar diversos registros é uma competência valiosa. 

5. Projetos interdisciplinares 

Enriqueça a discussão articulando conteúdos de Geografia (migrações e regionalismos), História (formação do português brasileiro) e Sociologia (diversidade e preconceito linguístico). Assim, os estudantes compreendem que a língua é viva, dinâmica e profundamente ligada às questões sociais. 

Ensinar a língua é também ensinar respeito 

Entender o que é variação linguística vai muito além de uma curiosidade acadêmica. É reconhecer que o português falado no Brasil é múltiplo, rico e profundamente ligado às vivências do nosso povo. 

A escola tem papel essencial nesse processo. Quando o educador reconhece, respeita e valoriza a diversidade linguística, ele está dizendo aos estudantes: “A sua forma de falar também tem valor. E você tem direito de aprender sem precisar apagar quem é.” 

Gostou do nosso conteúdo? Acesse as redes sociais do Portal  Conteúdo Aberto

O que achou dessa matéria?

O que achou dessa matéria?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

mais recentes
orçamento escolar
Educador

Aprenda a elaborar o orçamento escolar

Guia vestibular seriado UFMG
Dicas

Guia completo sobre o vestibular seriado da UFMG 

Guia vestibular seriado UFMG

Guia completo sobre o vestibular seriado da UFMG 

PNL NA EDUCAÇÃO
Educador

PNL na Educação: Um caminho para transformar a aprendizagem e o relacionamento em sala de aula 

PNL NA EDUCAÇÃO

PNL na Educação: Um caminho para transformar a aprendizagem e o relacionamento em sala de aula 

Luiz da gama
Conteúdo formativo

De escravizado a advogado, jornalista e poeta: a incrível história de Luiz Gama 

Luiz da gama

De escravizado a advogado, jornalista e poeta: a incrível história de Luiz Gama 

Olá! Que bom ter você conosco! :)

O Conteúdo Aberto oferece gratuitamente conteúdos com curadoria pedagógica para estudantes, escolas e famílias.
Para ter acesso aos melhores conteúdos, efetue seu login ou cadastro:

Olá! Que bom ter você conosco! :)

O Conteúdo Aberto oferece gratuitamente conteúdos com curadoria pedagógica para estudantes, escolas e famílias.
Para ter acesso aos melhores conteúdos, efetue seu login ou cadastro:

Olá! Que bom ter você conosco! :)

O Conteúdo Aberto oferece gratuitamente conteúdos com curadoria pedagógica para estudantes, escolas e famílias.
Para ter acesso aos melhores conteúdos, efetue seu login ou cadastro: