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Palavras nem sempre são necessárias: o poder educativo dos documentários não narrativos 

Por Marcello Miyake

Estimativa de leitura: 4min 45seg

12 de março de 2024

Descubra como os filmes da trilogia Qaatsi, o Microcosmos, o Baraka e o Samsara transcendem as barreiras linguísticas para transmitir poderosas mensagens sem dizer uma única palavra. 

Uma vez me perguntaram qual filme eu mandaria para o espaço, a fim de explicar a humanidade e o Planeta Terra, caso fosse encontrado vida extraterrestre.

Desde que um professor de antropologia da faculdade me indicou um filme, minha resposta é a mesma: “Koyaanisqatsi”. É uma palavra diferente, eu sei. Mas ainda continua sendo o filme que explicaria a vida humana na Terra da forma mais didática e crível possível. 

Por isso, falo: sempre que algum antropólogo ou antropóloga indicar algum filme, anote.  

Posso afirmar, por experiência própria, que essa indicação pode tornar-se algo maior do que esperava. Um nome minimamente curioso, mas que, após assisti-lo, imediatamente voltou minha atenção para todo um gênero novo e fascinante, dos documentários não narrativos (ou não verbais). Não sei se ele esperava causar este efeito, mas foi o que aconteceu. 

Koyaanisqatsi | Reprodução: Fio Condutor 

Em um mundo onde as palavras muitas vezes dominam a comunicação, essa forma de arte cinematográfica desafia as normas “convencionais” de um documentário, não se apoiando em palavras para desenvolver seus respectivos argumentos. Em detrimento das palavras, estes filmes se destacam pela ausência de diálogos e narração tradicional, confiam na força das imagens e na música para contar histórias, documentar culturas e proporcionar experiências profundas. 

Antes de citar exemplos e indicações de alguns favoritos, vale ressaltar um detalhe curioso: mesmo muito tempo depois do “cinema mudo”, esse tipo de documentário resgatou a simplicidade da narrativa do cinema antigo. Por mais que usassem cartelas e música sobreposta, algumas vezes, ao vivo nas salas de cinema, tanto o “cinema mudo” quanto este tipo de documentário trabalham com a sincronia entre os visuais e o som, de modo semelhante a uma dança imagética e performática. 

1. Trilogia Qatsi 

“Sem nenhuma palavra” talvez seja exagero, uma vez que os próprios nomes dos filmes já carregam significados, muitas vezes amarrando o conceito que guiará toda a experiência. No caso da trilogia Qatsi, somos apresentados logo antes de cada filme, à palavra no idioma hopi que dá nome ao filme, e sua respectiva tradução.  

Koyaanisqatsi é o primeiro filme da trilogia Qaatsi. Seu título, em hopi, significa “vida desequilibrada” ou “vida em desordem”. Powaqqatsi significa “vida em transformação”. Por fim, o último filme Naqoyqatsi “vida como guerra” ou “guerra como um meio de vida”. 

Fica evidente como os conceitos dos três filmes se entrelaçam e o que estão dispostos a explorar. Eles nos permite ter experiências intensas regidas pela música magistral de Philip Glass e pela direção de Godfrey Reggio.  

1.1 Koyaanisqatsi (1982) 

O primeiro filme, “Koyaanisqatsi”, apresenta uma série de cenas que retratam a relação entre a natureza, a humanidade e a tecnologia, sugerindo uma reflexão sobre o impacto da civilização no meio ambiente e na sociedade.   

1.2 Powaqqatsi (1988)  

No segundo filme, as imagens levam os espectadores a uma viagem global, retratando a vida em várias culturas ao redor do mundo. Desde rituais tradicionais até a industrialização em rápida expansão, “Powaqqatsi” examina a interconexão entre diferentes sociedades e o impacto da modernidade na vida humana. 

1.3 Naqoyqatsi (2002)  

Concluindo a trilogia Qaatsi, “Naqoyqatsi” mergulha ainda mais fundo na interação entre humanidade, tecnologia e natureza. A narrativa sugere uma reflexão sobre os aspectos conflituosos da modernidade, combinando imagens impactantes de guerras, avanços tecnológicos e cultura de massa, explorando os dilemas éticos e existenciais da Era Digital.  

2. Microcosmos (1996) 

Dirigido por Claude Nuridsany e Marie Pérennou, “Microcosmos” oferece uma visão deslumbrante do mundo dos insetos através de imagens magnificamente detalhadas. Filmado em close-up com câmeras especiais, o documentário revela a beleza e a complexidade da vida minúscula que geralmente passa despercebida.

É a vida “cotidiana” dos insetos que constroem a narrativa. Sem palavras, o filme convida os espectadores a contemplar a incrível diversidade e interconexão da vida na Terra, mostrando como até mesmo os menores seres têm papéis vitais em seus ecossistemas. 

3. Baraka (1992) & Samsara (2011) 

Dirigido por Ron Fricke, cinematografista de “Koyanisqaatsi”, “Baraka” é uma palavra sufista comumente traduzida como “benção” ou “sopro da vida”. O filme viaja pelo mundo, explorando paisagens naturais deslumbrantes, rituais culturais e a condição humana.

Sem diálogos ou narrativa convencional, o filme utiliza imagens impactantes e música evocativa para transmitir uma mensagem sobre a interconexão de todas as coisas. De templos antigos a metrópoles modernas, “Baraka” convida os espectadores a contemplar a beleza e a diversidade do planeta Terra, bem como os desafios enfrentados pela humanidade em sua busca pela harmonia e significado. 

Continuando a tradição estabelecida por “Baraka”, “Samsara” significa mundo. É uma jornada visualmente deslumbrante que viaja pelo globo, explorando temas de vida, morte, espiritualidade e modernidade. Também dirigido por Ron Fricke, o filme apresenta uma sucessão de imagens cativantes que evocam uma ampla gama de emoções e reflexões. “Samsara” convida os espectadores a contemplar a beleza e a complexidade do mundo, enquanto questiona as consequências de nossas escolhas individuais e coletivas. 

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Marcello Miyake
Mineiro de nascimento e coração. Formado em Comunicação Social, atua há 6 anos como redator e roteirista.
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