Conteúdo formativo Evolution Teacher Talks Podcast Professor

Educação inclusiva no Ensino Bilíngue

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 31min 20seg

4 de maio de 2022

Para o terceiro episódio do nosso Evolution Teacher Talks, Gabriel Falk recebeu duas grandes estudiosas da Educação inclusiva e do bilinguismo: Juliana Dias e Lilian Leventhal. 

O papo foi marcado pela reflexão de como as pessoas com necessidades especiais são tratadas, mas também por sugestões e caminhos de se trabalhar o ensino de um segundo idioma na sala de aula, de modo que todos os alunos se sintam acolhidos. 
 

Abaixo, nossa audiodescrição. 
 

Bom podcast! 


Transcrição Evolution Teacher Talks 3 – 3ª Temporada

LL – Lilian Leventhal 
JD – Juliana Dias 
GF – Gabriel Falk   

Gabriel Falk: Oi, ouvintes! Eu sou o Gabriel Falk, e sejam bem vindos a mais um episódio do Evolution Teacher Talks, um podcast da StandFor, o selo de língua inglesa da FTD Educação. Todo episódio, eu convido professores e profissionais do ensino e aprendizagem de idiomas, e hoje a gente vai conversar com duas pessoas incríveis, a Lilian Leventhal e a Juliana Dias, sobre educação inclusiva no ensino bilíngue. Toda escola, sem exceção, precisa ser um ambiente seguro para receber alunos de todos os tipos de necessidade. Porém, criar e desenvolver esse ambiente é um desafio imenso, não apenas para as instituições mas para os professores e educadores também. Como respeitar as características do aluno? O que a lei fala sobre a inclusão nas escolas? Como professores, como devemos nos preparar e o que podemos fazer para receber bem todos os tipos de estudantes? Bom, esse papo promete, então eu vou apresentar a Lilian e a Juliana para vocês, e aí a gente começa a nossa conversa. A Lilian é mestre em Educação, com formação em Pedagogia, Letras e Tradução. Autora de livros didáticos e livros práticos para professores de língua adicional na Educação Infantil, Fundamental e Ensino Médio. Diretora da Potential Consultoria, especializada em escolas, e coordenadora do departamento de Inglês em um colégio particular. Também coordena o programa bilíngue e cursos de High School International. A Lilian também é coautora do livro Práticas inclusivas e o ensino de Inglês. Oi, Lilian, muito obrigado por aceitar o nosso convite. Tá animada para o nosso bate-papo? 

Lilian Leventhal: Muito obrigada pelo convite. Tô, tô muito animada para a gente conversar a respeito desse assunto que eu adoro tanto.  

GF: A Juliana é formada em Ciências Biológicas, Pedagogia, Letras Português-Inglês, pós-graduada em prática em educação bilíngue e coautora também do livro Práticas inclusivas e o ensino de Inglês, junto com a Lilian. Ela trabalha há mais de 15 anos como professora de Inglês, já tendo atuado no Ensino Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais e Anos Finais, e cursinhos preparatórios para o vestibular. É ativa nas redes sociais, onde compartilha conhecimento sobre educação bilíngue e bilinguismo na primeira infância.  

[Música] 

GF: Ju, super bem-vinda ao Evolution Teacher Talks. Como é que você tá? 

Juliana Dias: Obrigada, Gabriel, tô super bem, tô muito animada também para o nosso bate-papo de hoje.  

GF: E gente, o título do episódio já carrega uma palavra muito importante, que a gente vai usar até o final aqui desse cast, que é “inclusão”. Eu sempre gosto de começar com o pé direito esses episódios, então eu queria perguntar para vocês: como vocês costumam definir a palavra “inclusão”? 

JD: Eu gosto muito de falar na inclusão como um direito. A gente precisa primeiro entender que a inclusão, ela tá, dentro da escola, como um direito dos estudantes. E, além disso, eu acho que a gente tem esse cenário todo, né, de práticas inclusivas, a inclusão, essas palavras tão sempre aí permeando, eu acho que é mais fácil a gente entender o que não é inclusão. O que não é inclusão para gente é quando a gente acaba gerando a exclusão. Então os próprios professores, né, através de atividades completamente diferentes, desconectadas do conteúdo que tá sendo abordado aí com os outros alunos, ou então através de práticas que são completamente diferentes do que foi planejado, do que está ali no currículo, que precisa ser passado para aquele aluno. Então isso é a não inclusão, né? E o que que você me diz, Lilian? Para você, o que é inclusão?  

LL: Olha, eu acho que, para o ensino ser efetivo, é essencial que ele tenha significado para criança, ou para o adolescente. Eu parto desse princípio, precisa ser motivador, precisa ter sentido. Então quando você faz inclusão, você trabalha de formas diversificadas. E, através disso, você inclui, e inclui a todos, tenho muito este olhar.  

GF: E a inclusão não é uma disciplina isolada dentro do ensino bilíngue. Eu sempre falo isso para os ouvintes, que eu não sou professor, né, mas meu entendimento é que ela deve acompanhar todos os tópicos que são abordados pelos professores em todos os momentos. Em um dos episódios da terceira temporada do Evolution Teacher Talks, a gente tá programado para falar sobre diversidade. E uma coisa que a gente comenta e pensa é que a diversidade não tem uma data para ser abordada. Eu não posso decidir, “ah não, em novembro, nesse dia, eu vou falar sobre diversidade”. E eu acho que quando a gente tá falando aqui sobre inclusão, a inclusão também não pode ter uma data. Vou definir uma data para falar sobre inclusão, ou só essa disciplina tem que levar isso em consideração, e o restante não importa. Então, o que eu queria perguntar para vocês é como que a educação inclusiva é adicionada dentro do processo do ensino bilíngue, acho que, considerando ali, todas as esferas que tocam o aluno e o professor? 

JD: Bom, a gente tem que entender que os desafios dentro da educação bilíngue para os professores de Inglês vão ser muito parecidos com os professores dos outros componentes curriculares, somada aí, né, a dificuldade da comunicação em língua estrangeira. Então existe, sim, uma dificuldade a mais, mas, ao mesmo tempo, as aulas de Inglês permitem que a gente traga muita ludicidade. Esses desafios, eu acredito que eles são, não posso dizer facilmente contornados, mas são desafios muito possíveis de serem contornados. Justamente por essa ludicidade, né, pela multimodalidade nas aulas de Inglês. A gente traz através de infográficos, vídeos, vlogs, instruções, descrições, tudo isso faz com que a aula fique mais inclusiva. 

GF: E ferramental, né? A utilização de algumas ferramentas que ajudam nesse processo. 

JD: Sim. E que já vem muito dentro do ensino de Inglês. A gente usa muito áudio, né, muito vídeo, isso não é uma prática nova dentro do ensino de Inglês. Então eu acho que isso é um ponto a favor dos professores. Mas, de qualquer forma, é preciso, sim, que ainda exista um olhar, porque a dificuldade, ela existe, mas que pode ser contornada. 

LL: Eu vou acrescentar o seguinte, eu vejo assim: o aluno tá aprendendo determinado conteúdo, por exemplo, Ciências, e essas aulas são em inglês, e as dificuldades do aluno de inclusão são as mesmas do que quando ele aprende História ou Geografia. Diferente das linguagens, porque, nas linguagens, dependendo do que você tem, da síndrome ou do tipo de inclusão, você tem mais facilidade, ou até mais dificuldade. Mas a grande questão é: não tem um saber mais, um saber menos, como dizia Paulo Freire, é tudo diferente. O saber é diferente. Então o professor precisa pensar nas estratégias e alternativas, e maneiras diferentes de alcançar esse aluno em todas as áreas do conhecimento. Então é todo dia e é o tempo todo.  

GF: Uma curiosidade que eu sempre tenho é como que esse assunto hoje ele é abordado e discutido e trazido à tona entre os profissionais? Porque a evolução é muito clara quando a gente pensa em, por exemplo, representatividade, e a gente olha há 15, 20 anos atrás, quando o Falk aqui fez aula no cursinho de inglês e ele só encontrava exemplos iguais a ele: branco, hétero, loiro, né, que tinha ali uma ascendência europeia, e todos os exemplos eram parecidos com o Gabriel. E a gente vê que esse processo de inclusão e de diversidade tão, cada vez mais, ganhando evidência, e a devida evidência, e precisam ganhar. Então, vocês que são profissionais já por muitos anos, como que vocês enxergam essa evolução da discussão da inclusão dentro do ensino bilíngue?  

LL: Eu queria colocar o seguinte: nós temos ainda 3% da população do país que fala inglês. É muito pouco ainda. Então isso é uma grande dificuldade que a gente tem. Inglês ainda é considerado a língua adicional de elite, então a gente ainda tem essa dificuldade. Em vários lugares, eu vou falar pensando aqui na lei, por exemplo, a primeira língua em determinados locais é Libras, e às vezes o português vem como segunda. E isso é bilinguismo também. Então depende da deficiência. Quando você for falar sobre os índios [indígenas], por exemplo, na região em que eles moram você vai ter lá 20, 30 línguas diferentes, que eles estudam na escola1. Então, a diversidade existe, e a beleza do que eu vejo é assim, que não é só escola particular que proporciona essa língua adicional para os alunos. A gente já tem, no país, no nordeste, na região norte, escolas públicas fazendo esse trabalho bilíngue, usando inglês como língua adicional. Então, é bonito quando a gente vê isso, porque quebra este padrão, e que tem que ser quebrado, porque é um direito de todos.  

JD: É, e realmente, Lilian, assim, quando a gente analisa o cenário brasileiro, a gente vê que nós temos muitos avanços, né, nessa integração dos alunos com deficiência nesse ambiente escolar. Mas a gente também encontra muitos obstáculos. Na prática, tem muita coisa ainda que dificulta esse processo, né, então a gente observa realmente um aumento dos alunos com deficiência no sistema de ensino, tanto público quanto privado, mas as escolas ainda não têm a estrutura adequada para incluir efetivamente. Então a gente parte desde as dependências, né, então você não tem os banheiros adaptados, rampa de acesso, materiais de apoio, né, as salas de atendimento especializado, até a falta de profissionais preparados. Então os professores, teoricamente, eles são preparados lá na faculdade, né, mas quando se deparam com o desafio, mesmo, de uma criança de inclusão, eles não sabem nem por onde começar.  

GF: Vocês duas usaram uma palavra muito importante para mim, que é “direito”. Eu gostaria de entender como que o Estado, né, o que a lei diz sobre a inclusão nas escolas. Quais são os direitos da criança e do aluno, porque acho que ninguém mais importante e relevante para falar o que deve ser feito, e realmente incentivar e impor isso, do que o Estado. O que que o Estado fala sobre inclusão? 

LL: Vou voltar um pouquinho para trás só para a gente entender esse histórico. No Brasil, em 1960, foram lançados os primeiros estudos políticos para ter uma política de educação especial no Brasil. E isso só começou efetivamente a acontecer em 1994. Trinta anos depois, a gente teve a declaração de Salamanca na UNESCO, então isso tomou uma proporção mais interessante. Em 2001, olha os saltos de tempo, em 2001 a gente teve aqui a PNE [Plano Nacional de Educação], que são as diretrizes nacionais para a educação especial na Educação Básica, e isso então virou uma política nacional. Engatinhando. Em 2014, lançou-se um plano nacional e, efetivamente, em 2015, que é o que vem vigente até agora, foi promulgada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que dava direito à educação especial, oferta de educação bilíngue, em Libras, que eu tinha mencionado, estudo de caso, apoio de profissionais. Então o que diz a lei, essa lei de 2015? É uma lei longa, que tem muitos parágrafos, mas poucos são cumpridos no país, infelizmente. Então ela diz assim ó: é direito o atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências da instituição. Juliana mencionou, às vezes não tem rampa, não tem lugar para sentar, falta acompanhamento, falta equipamento. E, além disso, eles têm direito também à adoção de práticas pedagógicas inclusivas. Então o Estado, teoricamente, garante isso, porém não provê para os profissionais o treinamento adequado, literatura para que eles possam estudar, cursos são poucos, né, os cursos que você tem gratuitos ou num preço mais popular para que o professor possa se preparar. Então você hoje olha para BNCC, e a BNCC promove muito essa questão da socialização, da integração, da acessibilidade de todos em todos os conteúdos e as áreas do saber, mas quando você vai pensar no país, nas escolas, na nossa realidade, a gente ainda tem uma minoria que consegue realizar e entregar esse tipo de trabalho.  

GF: Lilian, eu não consigo nem acreditar que a gente saiu de 1960 e deu um salto de 55 anos, para 2015, e ainda para ter esses gaps, esses pulos, que a gente vai precisar construir pontes, muitas vezes o professor quase que sozinho ali junto com a instituição, por muitas vezes falta de amparo. É um pouco doloroso ouvir essa tua resposta, sendo bem sincero, como alguém que não conhecia sobre isso, é um pouco doloroso, para ver o quanto que a gente deixa de lado esse assunto e o quanto a gente não pode deixar de lado. E aí eu pergunto para vocês, pensando no processo de graduação, licenciatura de profissionais que querem se tornar professores, o quanto que hoje as universidades preparam a realidade do professor para conseguir atender alunos de maneira inclusiva? Cada pessoa é uma pessoa diferente, com maneiras de aprender diferentes, e o quanto que o processo hoje de ensino formal da licenciatura tá preparando o profissional atual para conseguir lidar e conseguir ser bem homogêneo com alunos tão heterogêneos? 

LL: Eu acho que tem uma parte prática no curso de licenciatura, que é quando o aluno faz o estágio. Então ele faz o estágio lá na Educação Infantil, ele faz no Fundamental. Nesta prática não tem como, ele vai esbarrar em casos de inclusão. Então ele vai tomar contato e observar como é que aquela instituição lida com a situação. E daí surge um pensamento crítico que essa nossa nova geração traz. Então isso nos dá uma luz ali no túnel. “Ah, isso aqui tá certo, isso aqui tá errado, aqui não faz nada”, e leva essa discussão de volta para sala de aula e trabalha isso, então acho que isso abre, amplia um pouco as chances de a gente ter melhoras em geral. Porém eu ainda acho que o conteúdo curricular da parte de inclusão ainda é muito pequeno, é pouco explorado, o professor acaba tendo que buscar isso numa pós-graduação. E aí eu vejo, pelo que eu conheço, do que eu pesquiso, a gente encontra na maioria [das vezes] cursos particulares, né, dificilmente você vai ter coisas gratuitas. Até existe; Senac dá um curso livre aberto, Fundação Bradesco também tem alguma coisinha, mas o resto, normalmente, é pago. 

GF: Parece que o ideal é se a gente conseguisse ao máximo trazer para grade normal, né, para que todo mundo tivesse acesso e não tivesse que, de uma forma particular, ir lá e buscar esse tipo de conteúdo, que é essencial. Ele é essencial.  

JD: É, e, assim, existe, sim, então, essa formação dentro dos cursos, mas, como a Lilian falou, é uma parte pequena, embora tenha a prática, é na prática que o professor vai procurar se aprofundar nisso daí. Porque você tem muita teoria, mas quando você se vê no papel, quando você conhece o aluno que precisa de você ali, aí sim você vai procurar focar naquela especificidade. Então tem muitas formações particulares por aí, mas eu entendo que o professor, embora ele vá buscar por si só essa formação, tudo mais, ele precisa do apoio da instituição onde ele está. E porque, assim, o aluno de inclusão não é um aluno do professor de inglês, ele é um aluno da escola, então a inclusão é de todos, é de toda a comunidade, desde a moça que tá ali fazendo a faxina, de quem tá ali servindo o alimento na cantina, como dos próprios professores, que estão ali mais próximos dos alunos. Então eu acredito que as reuniões pedagógicas têm que ter momentos focados para essa troca de prática entre os professores, isso é muito especial e muito importante, porque esses são os profissionais que estão ali lidando com as crianças, que estão conhecendo no dia a dia, ouvindo as dores daquela criança e as dificuldades. A troca entre os professores é importante não só entre a equipe de Inglês, que é o que a gente traz hoje, mas também entre os diferentes componentes curriculares. Quais são as práticas, quais são as técnicas, né, que os outros tão utilizando e que tá funcionando? Então isso é muito rico. E, especial também, então acho que a gente tem que focar na valorização desse professor, que tá se esforçando ali, que tá se interessando, buscando fora, lendo, ouvindo podcasts, que tá ali vendo webinars sobre isso, lives no Instagram. Então, assim, esse professor tá fazendo o possível ali, adaptando suas atividades, porque entende que aquela criança precisa estar ali e precisa aprender, precisa se desenvolver. 

GF: Ele tá tentando buscar formas de dar acesso, né, e um acesso muito humanizado e muito justo para todo mundo, né, dando esse direito. Eu acredito que um dos grandes desafios no papel do professor, além de como você muito bem falou, Ju, a teoria vai te falar uma coisa, mas a prática vai te colocar em situações que é impossível você conseguir descrever tudo num livro. Então a prática é muito importante para o profissional, para o professor. E uma questão prática que eu, como aluno, nunca gostei é a parte da avaliação. Então eu queria falar com vocês sobre a parte da avaliação e entender sobre os principais desafios ou, principalmente, como que um professor deve tratar o processo de avaliação de um aluno, considerando a inclusão? Porque, a gente, falou, né, os alunos, as pessoas têm maneiras diferentes de aprender, então como que eu coloco uma mesma avaliação e consigo ser justo com todo mundo, considerando esse processo? Como fazer justiça através de uma nota, considerando esse processo de inclusão? Como vocês enxergam tudo isso?  

LL: Eu acho tão interessante, esse é um dos meus assuntos favoritos quando a gente fala de inclusão. Porque você tem todo um trabalho processual, mas nosso sistema demanda um trabalho pontual ali, de pontuação mesmo. O mais importante de tudo é o olhar que você tem para esse aluno, de acordo com as necessidades específicas dele é que você vai fazer adaptações durante o curso. Adaptação pode ser de conteúdo, ela pode ser de formato, pode ser de visual. Depende, tem tantas possibilidades. E aí, na hora de você fazer, então, uma avaliativa, você também vai fazer adaptações. Se você tá trabalhando o mesmo conteúdo e, vamos supor, você tem uma leitura de ciências com aquilo, “leia o texto, interprete e responda às perguntas”, este aluno de inclusão tem mais dificuldade, por exemplo, de produção, mas ele tem facilidade para identificação. Então você vai pela estratégia de identificação para acessar esse conhecimento e entender se ele tá adquirindo ou não. Você quebra parágrafo, então, ao invés de dar o texto ali de 30 linhas, você quebra 10 linhas, as perguntas que você quer, mais dez linhas, perguntas que você quer, isso é uma outra fórmula. Às vezes esse aluno não consegue escrever. A gente tem tantos casos em que a criança, às vezes, é uma autista que não escreve, por exemplo, ou tem outra questão. Então o que que você faz? Faz uma avaliação oral, aquela mesma avaliação, só que você faz isso tudo de uma forma oral. Ou o aluno consegue entender, consegue interpretar, mas não consegue ler, porque tem uma questão de dislexia, às vezes é questão matemática de discalculia, então você faz a leitura para ele, você coloca um ledor. Não é que alguém vai dar a resposta, mas ele se torna o ledor. E tem criança que vai escutando e vai respondendo tudo. Às vezes, você vai trabalhar no texto numa aula de língua inglesa, aí naquela prova você tem lá um texto fazendo perguntas. Mas aí você sabe que você tem um autista de altas habilidades, ou um Asperger, que responde muito bem à matemática, ache um texto que tenha linhas matemáticas ali no meio, trabalhe esse texto e faça as questões. Esse aluno acaba indo sempre muito bem, porque ele consegue se identificar e usar as estratégias de leitura que você ensinou. Então a avaliação não pode ser considerada um bicho de sete cabeças, porque não é. A avaliação faz parte do processo, e da mesma forma que você ensinou é a forma que você vai poder cobrar. E o “cobrar”, entre aspas ali, nada mais é do que acessar o conhecimento dessa criança. Importantíssimo: você vai comparar o aluno de inclusão com ele mesmo. Não pode comparar com a sala, porque é diferente. Todos são diferentes, mas ali você tem um padrão numérico, que você usa de acordo com os padrões. Mas o aluno de inclusão, a gente compara com ele mesmo.  

GF: E uma coisa que eu sempre me pergunto é sobre o relacionamento do professor não só com a instituição mas com os pais, porque o pai vai conversar com a escola, falar “olha, o meu filho precisa de uma forma de inclusão dentro da sala de aula”. O pai também tem expectativa de que o aluno consiga aprender. Nenhum pai gostaria de ver, tanto o seu filho quanto o filho de qualquer outra pessoa, não só num relacionamento, naquela sociedade, entre os colegas, e também só que não conseguindo absorver aquele conteúdo. Como que funciona a comunicação, do papel ali do professor em dar feedback, conversar com os pais, conversar com a instituição e quem sabe criar até um processo de expectativa, como que é essa comunicação? Papel do professor, e com os pais? 

JD: Olha, Gabriel, são três palavras aí fundamentais. Então a gente, primeiro, tem que pensar na parceria entre família e escola, transparência, também, e confiança. Então esses são os três pilares aí desse relacionamento. A parceria é fundamental justamente porque tudo o que tá sendo feito, a forma que a gente vai trabalhar com essa criança, ela precisa ter uma continuação em casa. Então não adianta a gente trabalhar de uma forma, tá lá se esforçando para sistematizar, trazer a rotina para criança, trazer a criança para dentro de uma estrutura escolar ali, e quando chegar em casa tudo fica diferente, “ah, não, faz do jeito que você quiser, tudo bem não precisa fazer”, não, né. Então tem que existir essa parceria da escola e essa confiança da família no trabalho da escola. Como você falou, realmente, esse feedback de ambos os lados. A escola tem que estar sempre em contato com a família, para que a escola passe o que tá acontecendo, quais são os ganhos, o que ainda não tá bom. “Bom” que eu digo, assim, o que ainda precisa melhorar no sentido relacionando com a própria criança né, como a Lilian falou, a gente não tá comparando com o resto da escola, com o resto da turma, mas a gente vê o potencial da criança, então a gente sabe o que ela consegue. Isso é importante, né, a gente colocar para os pais, porque às vezes eles pensam que “ah, não, faça só o que ele é capaz por enquanto”. Acham que a gente precisa fechar ali, no raso. Na verdade, a gente tem, sim, que estimular essa criança para que ela avance, para que ela se desenvolva. Então trazer desafios reais para essa criança. Essa transparência é importante também para que os professores sempre falem do real, né, o que tá acontecendo na realidade, quais são as reais dificuldades, o que os pais podem fazer em casa para ajudar nessa conversa com o aluno. E o principal, também, é o registro da parte do professor, para você ter como mostrar esse desempenho, esse desenvolvimento do aluno. Então sempre registrar quais foram as estratégias que você utilizou que deram certo, registrar conversas que vocês tiveram, “olha, ele me contou que naquele dia ele não tava bem… ele não quis fazer a atividade por tal e tal motivo…”. Então, é muito importante que exista, sim, esse registro, para uma conversa com os pais. A gente já faz isso normalmente com os outros alunos, né, Lilian, então esse report que a gente entrega para os pais aí, com os menores, à medida que eles vão crescendo, essa entrega, essa troca com os pais diminui um pouco, se foca mais para reunião de pais e tudo, mas é importante manter esse registro. Existem documentos dentro da escola que são direcionados para isso, mas o próprio professor pode ter o seu próprio registro também.  

GF: Perfeito. Lilian e Juliana, uma pergunta. A gente tava conversando anteriormente, num dos pontos desse podcast, sobre a formação do professor, e vocês mencionaram o quanto muitas vezes se faz necessário do profissional precisar ir para mercado, ou fazer algum curso, ler algum conteúdo para conseguir se especializar, porque todo esse conteúdo programático não tá ali já dentro, totalmente, do processo de licenciatura, ou dentro da universidade. Por isso, eu pergunto para vocês de uma forma bem de recomendação para os nossos ouvintes, a gente gosta, quando a gente se encaminha  para o final dos episódios, começar a dar algumas recomendações, para que o ouvinte continue a aprender sobre. A gente não quer que esse seja o ponto final, mas, sim, o ponto de partida. A gente quer incentivar que as pessoas e os ouvintes aprendam mais. Qual formação ou qual curso vocês recomendariam para um professor que quer realizar práticas inclusivas no bilinguismo, como que ele pode pensar em estratégias, aprender um pouco mais sobre esses processos?  

LL: Especificamente de bilinguismo, Gabriel, você tem cursos voltados para bilinguismo, mas não o curso de inclusão para utilização no bilinguismo, então você tem que associar, tem que juntar essas coisas todas. A PUC oferece cursos de educação inclusiva. O Singularidades também oferece pós nesse sentido, o Descomplica. Você tem alguns cursos livres, até EaD, em universidades, Fundação Bradesco também tem curso curto, mas que oferece, se fosse recomendar mesmo ficaria nesses daí, para recomendar, eu acho que são cursos muito bons de mercado que podem atender essa demanda. 

GF: E para a gente finalizar esse episódio, duas perguntas em uma, também seguindo nessa mesma linha de recomendações. Um ouvinte nosso, a gente tem muito professor que ouve a gente, então um ouvinte nosso tá tendo essa primeira experiência que o livro não conta. Chegou numa sala de aula, tá tendo essa primeira oportunidade de lidar e realmente trabalhar com inclusão, porém ele não tem todas as respostas, não tem todas as experiências, ele precisa recorrer. E eu fico me perguntando, quem que é o ponto seguro, ponto com quem esse professor pode conversar, aprender mais, e quem sabe tirar dúvidas, em termos até desse sentimento de comunidade: precisei de um determinado suporte, preciso entender como lidar com esse tipo de situação, a quem um professor pode recorrer? A gente tem desde instituições ou grupos de trabalho em relação a isso, a própria instituição. O que que vocês recomendariam para professores que tão tendo essas primeiras experiências profissionais?  

LL: Não existe tanta coisa, mas tem um grupo no Facebook que é do Instituto Inclusão Brasil, vou dar a referência aí para vocês mencionarem para os ouvintes, é um grupo de educação inclusiva que compartilha materiais gratuitos. É bem legal, o pessoal dá bastante suporte, esse é um em português. Vou deixar umas dicas, depois, para vocês também passarem aí, de outros lugares, fora do Brasil, que podem contribuir nesse sentido. E aí, encaixa bem dentro do bilinguismo, você vai pegar coisas específicas. Poxa, e tem a gente. A gente fica aí sempre à disposição para trocar ideia, para conversar, para responder, tirar dúvidas, e tem a Ju. 

JD: Então, a gente tem o livro, primeiramente, assim, eu acho que é um ótimo começo, que é o Práticas inclusivas e o ensino de inglês, né, então ele vem como um guia mesmo para professores de língua estrangeira e educação bilíngue. Ele não tem fórmulas prontas. Ele tem alguns cases, sim, o nosso objetivo é justamente fazer o professor pensar esse começo: como é que eu posso começar, o que eu preciso, quais são as ferramentas que eu tenho em mãos. E nós temos aí um “baby” Instagram, né, Lilian, que é o InglêsInclusivo, que a ideia, na verdade, é compartilhar justamente essas práticas entre os professores, mas a gente sabe que o Instagram é bem complicado na parte da divulgação. Mas essa é a ideia, né, então, quem tiver interesse também, chega, pode chegar, porque por lá a gente vai compartilhar bastante sobre o assunto.  

GF: Legal. E, para finalizar, eu queria saber sobre materiais que vocês recomendam, mas eu já quero só falar pros nossos ouvintes que tudo que a gente tá mencionando aqui, desde links, materiais, livros, o livro da Lilian e o livro da Juliana, que eu quero que elas falem novamente, por favor, vai tá tudo na descrição do episódio, não precisa anotar absolutamente nada. Então, independente da plataforma de streaming que você tiver ouvindo a gente, todos os links vão estar disponíveis por lá. Mas e aí, Lilian e Ju, para a gente finalizar esse episódio, o que que a gente pode recomendar para o ouvinte continuar aprendendo um pouco mais sobre processos de inclusão?  

LL: A FutureLearn.com tem vários cursos gratuitos e um blog muito bom, e tá sempre compartilhando informação, então esse é um dos que eu recomendo. Tem um outro que é ClassCentral.com, para learning disabilities, também tem cursos gratuitos e bastante informação, eu acho que esse também vale muito a pena. E, depois, tem alguns mais específicos, né, então você vai encontrar um de dislexia especificamente, que tem na Inglaterra, no Brasil, Emílio Figueira, eu acho que é um grande autor de inclusão, por experiência própria e todos os artigos que ele publica, então ele tem um site que dá para acessar, também tem bastante informação. 

JD: Como eu gosto muito das redes sociais, né, eu acho que hoje a gente tem muitos profissionais aí compartilhando muita coisa gratuitamente, mas eu acho que você precisa realmente ver aquele que você se identifica mais, o que você precisa ler no momento, então não adianta você sair lendo sobre absolutamente tudo, sobre todas as deficiências. Foca no que você precisa. Troque muito, troque muito com pessoas que já trabalharam com inclusão, e eu acho que é isso, assim, a gente tem muita coisa disponível, você precisa, realmente, ver o que pega mais no seu coração, com quem você consegue inclusive maior conexão, porque a gente tem os livros, a gente tem muita teoria, só que, às vezes, não dá tempo de você ler tantos livros em relação ao assunto. Então, assim, é claro que você precisa dessa parte teórica, ela é importante, né, esses nomes, esses títulos, mas, às vezes, uma troca com um professor mais experiente, nesses grupos que a gente mencionou também, procurar uma coisa mais prática. Essa é a palavra, a prática vai fazer com que você alcance os seus objetivos. E tem o nosso livro também, que é o Práticas inclusivas e o ensino de inglês, como eu disse ele é um guia mesmo, né, ele vem aí como uma ferramenta didático-pedagógica, para servir como um apoio, realmente, para os professores. A gente incluiu uma abordagem bastante ampla de algumas deficiências, síndromes, transtornos e dificuldades de aprendizagem que a gente encontra mais frequentemente dentro da escola. Alguns aspectos que podem ser utilizados por profissionais que dão aula em escolas regulares, escolas bilíngues, pública, particular, instituto de idiomas também, e, inclusive, muita coisa que a gente fala pode ser utilizada por professores de outros componentes curriculares, então não só professores de inglês. Como a gente falou, né, quando tem essa troca, a gente percebe isso, que uma abordagem que foi utilizada na aula de inglês serve perfeitamente para outra matéria. A gente compartilhou aqui essas ideias, mas o professor tem que levar em consideração as características do aluno. Então por isso que não é uma receita de bolo, porque a gente vai ter muitas variações aí. A gente traz, também, práticas bem-sucedidas para o Ensino Fundamental, Médio, e depoimentos de profissionais também, pais, alunos, então é um conteúdo bem bacana aí para os professores. Ele é da Editora Dialética, então pode ser adquirido no site deles também, e acho que vamos divulgar também o link para vocês adquirirem.   

GF: Vai estar na descrição! Sensacional, Ju. Queria agradecer muito a participação de vocês, Ju, Lilian, por compartilhar o conhecimento e também incentivar que a gente não pare de estudar. Não parem nesse podcast, mas continuem lendo para sempre sobre o processo de inclusão. Muito obrigado pela participação, gente! 

LL: Obrigada! Tchau, tchau.  

JD: Obrigada vocês! Tchau, tchau.  

[Música] 

Se você gostou desse episódio, segue a gente lá no Spotify, Apple Podcasts ou na sua plataforma de streaming preferida. Afinal de contas, o Evolution Teacher Talks está disponível em todas elas, e a gente tem episódios novos a cada duas semanas. Eu quero te convidar também para seguir a gente lá no Instagram, através da @FTDEducacao, e conhecer os conteúdos extras no site portalconteudoaberto.com.br. E não esquece também de compartilhar esse episódio com colegas de trabalho, família e amigos, para conhecerem o projeto da FTD Educação. Eu te encontro no próximo episódio, e até a próxima, pessoal! 

[Música] 

Ficha técnica
Apresentação: Gabriel Falk  
Produção: Nathália Xavier Thomaz  
Roteiro: Gabriel Falk  
Pauta: Nathalia Xavier Thomaz, Isabel Lacombe  
Convidadas: Lilian Leventhal e Juliana Dias 
Realização: FTD Educação  
Edição: Maremoto 

Você também pode acompanhar pelas plataformas Deezer, Apple Podcast e Google Podcasts.

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