Quais são os próximos planos para o livro Mapinguari? Gabriela Yamaguchi conta como surgiu a ideia de fazer uma obra sobre esse ser folclórico tão pouco explorado em nossa literatura e o que o WWF-Brasil vem fazendo para levar sua mensagem de Educação e Sustentabilidade cada vez mais longe. Bora ler?
Como nasceu o livro Mapinguari? Foi uma encomenda ou o material foi enviado pronto até a ONG?
A história Mapinguari nasceu como um projeto educacional do WWF-Brasil, que distribuiu o livro inicialmente para escolas e jovens no Acre, em parceria com organizações como o Comitê Chico Mendes e o Conselho Nacional de Comunidades Extrativistas (CNS). Tudo começou com uma frente de Educação Ambiental da instituição nos projetos de conservação na região do Acre. A ideia era produzir material educativo, mas que fosse inovador e que promovesse o engajamento dos jovens para a valorização da história e cultura local. Para isso, a equipe do WWF-Brasil trabalhou com o editor Guilherme Noronha, o roteirista André Miranda e o ilustrador Gabriel Goes. Foi uma honra trabalhar em colaboração com esse time de autores, pois já conhecíamos o trabalho deles e tínhamos muitas expectativas em contribuir para que a linguagem das HQs representasse os desafios socioambientais da Amazônia.
Em um dos dois posfácios do livro, Ricardo Mello, gerente do WWF-Brasil para Amazônia, conta que o enredo foi baseado em diversas vivências da ONG no Acre. Algum caso real ou personagem destas vivências estão no livro?
O posfácio é a síntese de observação da atuação do WWF-Brasil, durante anos de atuação no Estado do Acre, onde a realidade quase sempre é marcada pela violência e usurpação dos direitos indígenas e dos povos tradicionais, especialmente as comunidades extrativistas.
O posfácio ainda conclui: “Faça como nosso protagonista. Escute a voz nos convidando a olhar para a Amazônia, para sua cultura, sua memória, sua floresta”. O que a floresta tem a contar que precisa ser ouvido?
A floresta nos conta sobre interdependência, ou seja, sobre como a sobrevivência de um depende de todos. Ela nos traz uma cultura de respeito pelos seres vivos e de cuidado com todas as formas de vida do planeta, nossa casa comum. Os modos de vida dos povos da floresta representam a potência de ser parte integrante do meio ambiente e de estar conectado com todos. Precisamos reaprender com eles como viver em harmonia com a natureza, ou seja, preservando e cuidando da vida, com justiça e inclusão. Esse é o modelo de desenvolvimento que precisamos.
Desenvolvimento e melhor qualidade de vida não é sinônimo de destruição da natureza e injustiça, como estamos vivendo hoje.
Mapinguari foi selecionado para o Programa Nacional do Livro Didático e do Material Didático (PNLD) do MEC. O que representa para a ONG levar a mensagem da obra para milhares de estudantes e escolas de todo Brasil?
Estar entre os selecionados para o PNLD é, antes de tudo, o reconhecimento de que o conteúdo desta obra é relevante para a Educação das pessoas de todas as idades. Essa, aliás, foi a premissa que orientou este projeto: o WWF-Brasil acredita que é preciso priorizar a Educação dos futuros cidadãos sobre as questões ambientais que afetam a todos nós. Ter este canal de relacionamento com os leitores e colocar em circulação uma obra com linguagem literária e roteiro visual único é para nós motivo de grande esperança.
O roteirista do livro, André Miranda, é diretor de cena, diretor de fotografia e roteirista em cinema e em publicidade. Mapinguari pode virar filme?
Embora no momento não exista qualquer plano nesse sentido, Mapinguari tem todos os elementos para ser transformado em filme e seria ótimo levar a mensagem de conscientização ambiental e valorização cultural dos povos da floresta em outra linguagem para mais públicos.
WWF-Brasil integra a rede WWF, presente em mais de 100 países. Essa capilaridade pode ampliar o alcance da obra? Já existe expectativa de lançamento em outros países?
Ainda não existe a perspectiva de lançamento da obra em outros países, embora o seu conteúdo tenha sido compartilhado com a Rede WWF.
Qual o papel da literatura na defesa do meio ambiente e da sustentabilidade?
A literatura rompe padrões, chega onde outras linguagens não têm facilidade de acesso, possibilita a vivência em mundos imaginários que inspiram a vida cotidiana. No atual contexto de destruição da natureza e violência contra os povos originários, a literatura propõe uma reflexão mais profunda a partir da empatia com os personagens. Ao proporcionar esse olhar mais amplo, alimentando sonhos e provocando inquietações, a literatura oferece ferramentas para a mudança que tanto almejamos, seja para agora ou para as futuras gerações.
