Em A angústia das pequenas coisas ridículas, fazer listas, descobrir receitas e ler versos de Fernando Pessoa ou frases de Clarice Lispector são ferramentas para lidar com os sentimentos e sensações da adolescência
Falta de diálogo com o pai, distanciamento da melhor amiga, discussões com o chefe. Dilemas que fazem parte da vida de muitos jovens são abordados de maneira original e bem-humorada no novo romance da premiada escritora Luisa Geisler, ilustrado por Deborah Salles.
Em A angústia das pequenas coisas ridículas, lançamento da FTD Educação, a protagonista é uma adolescente que tem a mania de organizar as situações da vida em listas e tópicos, fazendo do hábito da enumeração uma saída para entender a si mesma em momentos de confusão e dúvidas.
Nessa tentativa de administrar suas questões internas, além de fazer listas a jovem passa a madrugada preparando doces e estuda francês por meio de um aplicativo. Mas é nas receitas da avó, nos versos de Fernando Pessoa e nas frases de Clarice Lispector que ela encontra um verdadeiro alento: a descoberta de que a angústia que sente já foi vivenciada por incontáveis pessoas de outras épocas e lugares.
“Todos os meus livros surgem da vontade de escrever algo que eu queria ter, surgem de ser leitora. Quis fazer um livro de temas importantes para mim — saúde mental, o poder da literatura perante a solidão —, mas com uma linguagem inteligente e com humor. Se pudesse, abriria um vórtex no tempo-espaço e levaria esse livro para minha eu mesma de 13 anos”, comenta Luisa Geisler.
Aos 31 anos, a escritora já recebeu o prêmio de melhor narrativa infantojuvenil da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), o prêmio Açorianos de narrativa longa e duas vezes o prêmio Sesc de Literatura, além de ter sido finalista de prêmios, como o Jabuti e o São Paulo de Literatura.
Narrado por uma estudante do segundo ano do Ensino Médio de uma escola pública brasileira, o novo livro de Luisa Geisler tem como ponto forte a linguagem original e dinâmica, que atrai os leitores não só pela identificação que a protagonista desperta, mas também pela maneira como ela expressa sensações e sentimentos típicos dessa fase da vida.
Entre os temas abordados no livro, estão as dificuldades enfrentadas no primeiro emprego e no ambiente escolar, a busca por se adaptar à sociedade, o esforço para construir amizades e as inseguranças sobre as próprias qualidades e habilidades.
A história começa quando a mãe da protagonista é internada em uma clínica para se recuperar de uma depressão; o enredo se desenvolve durante as três semanas em que a jovem aguarda o retorno da mãe. Entre as tentativas de falar com ela por telefone, as discussões com o pai, que tem dificuldade de revelar o que está acontecendo, e os problemas cotidianos na escola e no trabalho, a adolescente percorre um caminho de descobertas sobre si, sobre as pessoas que a rodeiam e sobre seu lugar no mundo.
Num desses momentos de dúvida e angústia, a protagonista redescobre a avó, uma cozinheira e quituteira de mão cheia, a quem não visitava havia muito tempo. Lá, estreita laços familiares que serão uma das chaves para abrir portas na construção de seu projeto de vida.
Na história, a personagem percorre um caminho de angústias e autoconhecimento, como no “Poema em linha reta”, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), que inspira o título da obra. Estes dois elementos — comida e literatura — permeiam todo o processo de amadurecimento da protagonista.
“Talvez, pela primeira vez, tenha conseguido juntar minhas duas paixões, comida e livros, como temas literários. Desenvolvi essas paixões na época do Ensino Médio, e muitos eventos da época se assemelham aos do livro”, relembra Luisa.
A AUTORA
Luisa Geisler nasceu em Canoas, no interior do Rio Grande do Sul, em 1991, e hoje vive na capital, Porto Alegre. É escritora, tradutora literária e mestre em Processo Criativo pela National University of Ireland. Escreveu, entre outros livros, Luzes de emergência se acenderão automaticamente (Alfaguara, 2014), De espaços abandonados (Alfaguara, 2018) e Enfim, capivaras (Seguinte, 2019). Além da conquista de diversos prêmios, participou de várias iniciativas multidisciplinares com literatura, inclusive com a Serpentine Gallery, de Londres, e foi autora residente do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba, e do Art Omi, de Nova York, um programa que hospeda autores e tradutores do mundo todo para residências artísticas. Tem textos e livros publicados em mais de quinze países, como Argentina e Japão.