Ruby Goka é uma mulher, negra, jovem, ganense e escritora, cujo livro punjente atravessou o oceano para conversar com os adolescentes brasileiros. Mesmo quando sua voz falhar retrata o conflito vivido por Amerley, dividida entre manter o emprego que sustenta sua família ou denunciar os abusos que sofre de seu empregador. A ficcção criada por Goka tem um pé na realidade de muitas meninas negras de Gana e do Brasil. Com sensibilidade, Goka captou a voz dessas meninas na tentativa de abrir uma porta de diálogo para uma questão, quase sempre, negligenciada.
O livro de Goka chega ao público brasileiro em um momento muito especial. Estamos vivendo uma nova agenda mundial, que tem forçado a revisão de fatos históricos, trazidos à tona assuntos antes considerados tabus e, no caso da literatura, um novo olhar para os cânones. No Brasil, quem está a frente dessa discussão é o poeta e ensaista Edimilson de Almeida Pereira, cujo trabalho acadêmico valoriza o resgate e releitura das matrizes africanas na cultura literária brasileira. Não à toa, também escreveu uma obra linda para crianças de todas as idades, o livro Cada bicho um seu canto, com ilustrações de Edson Ikê. Nesse livro de poemas, Edimilson faz um dueto com o espanhol Federico Garcia Lorca na brincadeira de revelar e esconder os animais, propondo uma nova fabulação poética para os leitores.
Ainda em consonância com essa nova agenda, a FTD Educação teve o prazer de participar do 2º encontro promovido pelo Colégio Santa Cruz, em São Paulo, cujo tema “Qualidade literária e racismo na obra de Monteiro Lobato” ainda se faz extremamente importante para que os agentes comprometidos com a boa Educação literária estejam mais bem preparados para lidar com temas urgentes na sala de aula. Em um formato dialético, o evento trouxe ideias de inciativas para a escola a partir da leitura de Lobato, como a oportunidade de ampliar a discussão sobre desigualdade social do país. Para que, desde cedo, os estudantes possam ter consciência e percebam dados tão nítidos, mas que são silenciados no dia a dia, como, por exemplo: o que é racismo? O racismo como tema da formação do nosso país ainda não é um assunto incorporado na nossa Educação e a literatura pode ser uma grande porta de entrada para discussões sensíveis, baseadas no respeito e na igualdade.
Tais iniciativas da área de literatura da FTD Educação revelam uma vocação para repensar as demandas imediatas que clamam por espaço na discussão pública, aproveitando oportunidades para ressignificar a permanência de obras em face às questões urgentes que se colocam no nosso tempo, como a Educação antirrascista, além de abrir espaço para a inclusão de novos cânones. Nesse sentido, é com orgulho que damos às boas-vindas aos novos autores e convidamos os leitores a participarem dessa nova jornada.
Assista na íntegra o 2º encontro promovido pelo Colégio Santa Cruz, em São Paulo, cujo tema é “Qualidade literária e racismo na obra de Monteiro Lobato”
