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10 Dicas de curtas-metragens para trabalhar em sala de aula

Por Marcello Miyake

Estimativa de leitura: 10min 24seg

17 de junho de 2024

Confira seleção de curtas-metragens que vão ajudar a ampliar o repertório cultural dos estudantes.

Os curtas-metragens são obras cinematográficas de curta duração, geralmente com menos de 40 minutos, que têm desempenhado um papel fundamental na história do cinema.  

Desde os primórdios da sétima arte, os curtas têm sido veículos importantes para contar histórias, explorar temas complexos e experimentar técnicas de filmagem.  

Os curtas-metragens oferecem uma oportunidade única para os educadores enriquecerem o currículo e engajarem os alunos de maneira criativa. Por meio de histórias envolventes, imagens poderosas e mensagens profundas, os curtas podem estimular a imaginação, promover a empatia e iniciar discussões significativas sobre uma ampla gama de temas.  

Além disso, sua curta duração os torna ideais para serem incorporados em aulas de diversas disciplinas, proporcionando uma pausa bem-vinda na rotina escolar e inspirando os alunos a verem o mundo de novas maneiras.  

Com uma seleção cuidadosa de curtas-metragens, os educadores podem transformar a sala de aula em um espaço de aprendizado dinâmico e inspirador, onde cada filme conta uma história e cada história ensina lições, que podem se estender de forma multidisciplinar. 

Confira 10 dicas de curtas-metragens, nacionais e internacionais, que podem enriquecer a experiência educacional 

1. Curtas-metragens internacionais: 

1.1 “Sorry I Drowned” (2015) – Dirigido por Hussein Nakhal, David Habchy, Yaza al-Saadi 

Este curta-metragem de animação produzido pela organização MSF (Médicos Sem Fronteiras) aborda a crise dos refugiados de uma perspectiva emocional, realista, mas ao mesmo tempo, poética. Inspirada numa carta aparentemente encontrada em uma vítima de afogamento no Mar Mediterrâneo, esta animação aborda a realidade de milhões de pessoas que fogem de guerras e de perseguições políticas. Embora não possamos saber a verdade sobre quem escreveu a carta, sabemos que o que ela descreve é real.  

Por meio de seus visuais inspirados na “glitch art” (arte inspirada em falhas técnicas de sistemas digitais), o curta impacta visualmente pelo contraste dos horrores experienciados pelos refugiados, com o mundo supostamente “futurista” e tecnológico no qual vivemos, que por muitas vezes mascaram uma realidade distópica.

E por meio desta linguagem experimental, “Sorry I Drowned” pode oferecer aos estudantes uma oportunidade para discutir empatia, migração forçada e a crise humanitária global, em aulas de história, geografia ou para sustentar argumentos sobre atualidades.   

1.2 “World of Tomorrow” (2015) – Dirigido por Don Hertzfeldt 

Uma jornada surreal e poética pelo futuro distópico, este curta-metragem de animação americano oferece uma visão única da humanidade e da tecnologia. “World of Tomorrow” é uma experiência visualmente deslumbrante que estimula a reflexão sobre a natureza da vida, da consciência e da existência humana. 

O filme por si só é uma aula de linguagem, e explora como poucos as infinitas possibilidades da arte e da imaginação.

Nas salas de aulas, pode inspirar e emocionar estudantes a serem criativos ao contarem uma história ou desenvolverem uma linha de pensamento. Além disso, é uma ótima pedida para explicar pontos de vista filosóficos sobre a vida, o mundo e a contemporaneidade. 

1.3 “Period. End of Sentence” (2018) – Dirigido por Rayka Zehtabchi 

Vencedor do Oscar de Melhor Curta Documentário em 2019, este curta-metragem americano segue um grupo de mulheres em uma aldeia rural da Índia que lutam contra o estigma em torno da menstruação e buscam autonomia econômica produzindo absorventes.  

Mesmo que seja um tema universal, ainda é tabu em diversos lugares do planeta, e isso gera consequências sociais e na saúde pública. O curta-metragem mostra um ponto de vista importante acerca do assunto e, para nós no Ocidente, é uma forma de ampliar nossa visão do mundo, de modo a não nos mantermos alheios às diferentes realidades do nosso planeta.

Para os estudantes, “Period. End of Sentence” pode ser útil em aulas de biologia, geografia e atualidades, como uma oportunidade para discutir questões de gênero, saúde reprodutiva e empoderamento feminino. 

1.4 “Scent of Geranium” (2017) – Dirigido por Naghmeh Farzaneh 

Este curta-metragem iraniano explora a experiência de uma mãe imigrante em um país estrangeiro através de suas memórias e reflexões. O ponto de vista de Naghmeh, como uma mulher imigrante, é forte e necessário.  

Com uma abordagem poética e intimista, “Scent of Geranium” oferece uma oportunidade para discutir temas de identidade cultural, saudade e pertencimento. Para a sala de aula, o filme introduz debates sobre preconceito e adaptação, além de atividades de reflexão e conexões interdisciplinares com História, Geografia e Sociologia.

O filme enriquece o repertório cultural dos alunos, oferecendo material para redações e um entendimento mais profundo das questões globais contemporâneas. 

1.5 “Noite e Neblina” (1955) – Dirigido por Chris Marker, Mario Ruspoli 

Sem medo de enfrentar a brutalidade dos fatos, “Noite e Neblina” nos leva a uma jornada através dos campos de concentração nazistas. Utilizando imagens de arquivo chocantes e uma narração eloquente, o filme nos confronta com a escala da destruição e o sofrimento indizível enfrentado pelas vítimas do Holocausto. 

Expondo a brutalidade do genocídio e questionando a memória e a responsabilidade coletiva, este filme tornou-se uma ferramenta essencial para a Educação ao redor do mundo. Ao discutir o Holocausto, a Segunda Guerra Mundial e os direitos humanos de forma didática, promove debates sobre a importância da memória histórica e a prevenção de atrocidades futuras. Além disso, “Noite e Neblina” serve como um rico repertório cultural para redações e um recurso crucial para o entendimento profundo de um dos períodos mais sombrios da história mundial. 

2. Curtas-metragens nacionais: 

2.1 “Você também pode dar um presunto legal” (1985) – Dirigido por Sérgio Muniz 

Sergio Muniz resolveu documentar a ação do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio que existia dentro da polícia nas décadas de 60 e 70. Até então, a imprensa ainda tinha alguma liberdade para expor o trabalho desses grupos formados por policiais de diversas patentes, que atuavam nas periferias de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. As vítimas, geralmente homens, pobres e negros, eram frequentemente rotuladas como criminosos pela sociedade. 

Exibir este documentário é fundamental para compreender o impacto da repressão estatal e a violência policial durante um período sombrio na história do Brasil. O filme permite uma reflexão crítica sobre temas como direitos humanos, racismo e a marginalização social.

Além de enriquecer o conhecimento histórico dos estudantes, o documentário pode ajudar a explicar parte da história do nosso país, e dos problemas que nos assolam até hoje, sob uma lente que questiona a ética, cidadania e justiça social. 

2.2 “Ruim é ter que trabalhar” (2015) – Dirigido por Lincoln Péricles 

A Copa do Mundo no Brasil está para acontecer. Dias antes, um operário reflete sobre seu trabalho. A sinopse aparentemente simples pode mascarar sua profundidade, mas a verdade é que este filme é um importante retrato de identificação para os brasileiros.

Ao contrapor um evento de proporções globais, que movimenta bilhões de dólares, à realidade de um trabalhador, o curta-metragem serve como uma poderosa ferramenta para compreender a realidade do nosso país. Ao mesmo tempo, ajuda a mostrar como as histórias mais triviais conseguem ser profundas e frutíferas, inspirando outros a também buscarem se expressar por meio do cinema e da arte. 

Para a sala de aula, pode ser utilizado em debates sobre a realidade brasileira, em aulas de Filosofia, Sociologia, História e Geografia, tal como repertório na construção de argumentos para a redação, por exemplo.  

2.3 “Recife Frio” (2009) – Dirigido por Kleber Mendonça Filho 

Este curta-metragem brasileiro apresenta uma visão surreal e melancólica da cidade de Recife durante uma onda de frio incomum. Com uma estética única e uma atmosfera misteriosa, “Recife Frio” oferece uma oportunidade para discutir temas como urbanização, solidão e alienação. 

Como uma forma de estimular o pensamento crítico sobre questões ambientais e sociais contemporâneas, o filme é interessante pela sua abordagem distópica, que flerta até mesmo com a ficção científica. É uma excelente maneira de abordar temas como urbanização, mudanças climáticas e a experiência humana na cidade. O filme permite discussões sobre a influência do ambiente nas interações sociais e na saúde mental, promovendo uma reflexão sobre a vida urbana e seus desafios. 

2.4 “Brasil” (1981) – Dirigido por Rogério Sganzerla 

Este curta-metragem apresenta uma visão única e vibrante do Brasil através de sua música e cultura. “Brasil” (1981), dirigido por Rogério Sganzerla, é um curta-metragem que registra os bastidores da gravação do icônico disco “Brasil”, de João Gilberto, com a participação de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. O filme também inclui performances raras e imagens de Orson Welles no Carnaval do Rio. 

O filme contribui para uma compreensão mais profunda do papel da arte na construção da identidade nacional, sendo considerados por muitos uma peça fundamental para explorar a rica herança musical e cultural do país.

O curta-metragem oferece uma janela para a história da música popular brasileira e as colaborações entre alguns de seus maiores ícones. Ele permite discussões sobre a importância da música na identidade nacional, além de contextualizar os movimentos culturais e sociais da época. Para aulas de Arte e de História brasileiras, é um prato cheio. 

2.5 “Di Cavalcanti Di Glauber” (1977) – Dirigido por Glauber Rocha 

“Di Cavalcanti Di Glauber” (1977), dirigido por Glauber Rocha, é um documentário que captura o velório e o enterro do renomado pintor Di Cavalcanti. Após ouvir no rádio sobre a morte do artista, Glauber Rocha reuniu uma pequena equipe para filmar as cerimônias, realizadas no saguão do Museu de Arte Moderna e no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O filme é uma homenagem ao pintor e uma reflexão sobre a morte e a arte. 

O curta-metragem aborda a interseção entre arte e cinema, a importância dos rituais fúnebres na cultura e a obra de dois gigantes da arte brasileira: Glauber Rocha e Di Cavalcanti.

O documentário oferece uma oportunidade para os estudantes explorarem a contribuição de Di Cavalcanti para a arte brasileira e a abordagem única de Glauber Rocha ao cinema. Além de enriquecer o repertório cultural, fornecendo material para redações e debates sobre arte, cultura e memória, o filme incentiva a reflexão sobre a preservação do legado artístico e a maneira como a arte pode capturar e perpetuar momentos significativos da história cultural do Brasil. 

Em suma, os curtas-metragens são mais do que simples obras cinematográficas de curta duração; são ferramentas poderosas para o enriquecimento educacional e o estímulo da criatividade dos estudantes.

Ao incorporá-los na sala de aula, os educadores têm a oportunidade de proporcionar experiências de aprendizado imaginativas, criativas e significativas. Sua curta duração torna-os acessíveis e versáteis, permitindo sua incorporação em diversas disciplinas e oferecendo uma pausa bem-vinda na rotina escolar. Cada filme conta uma história e cada história ensina lições valiosas maiores do que as fronteiras disciplinares. 

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Mineiro de nascimento e coração. Formado em Comunicação Social, atua há 6 anos como redator e roteirista.
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