Abrace a campanha Setembro Amarelo! Vamos juntos construir um ambiente acolhedor e consciente na prevenção ao suicídio.
Neste mês dedicado à conscientização sobre a importância da campanha Setembro Amarelo, para a prevenção da automutilação, depressão e do suicídio, é essencial que as escolas se tornem faróis de luz e afeto, onde cada jovem possa encontrar um refúgio seguro e compreensivo.
As salas de aula e os corredores não são apenas locais de aprendizado acadêmico, mas também espaços onde a saúde mental pode e deve ser cultivada com a mesma dedicação que se dá ao conhecimento.
Para os professores e famílias, a missão é clara: criar um ambiente em que os sentimentos possam ser expressos livremente, onde a escuta atenta e o apoio genuíno se tornem o alicerce das relações.
É um convite para que a comunidade escolar se una em um esforço coletivo para desmantelar o silêncio que muitas vezes cerca o sofrimento mental, substituindo-o por uma rede de apoio sólida e acolhedora.
Ao abraçar o Setembro Amarelo, somos chamados a tornar cada dia uma oportunidade de conexão e compreensão, reforçando que cada jovem, cada história e cada vida importa.
Por isso, vamos compreender como a escola pode ser uma aliada essencial na prevenção ao suicídio, para garantir que todos os corações encontrados em seus corredores tenham a chance de florescer com esperança e resiliência. Boa leitura!
O que é o Setembro Amarelo?
Setembro Amarelo é muito mais do que uma campanha de conscientização: é um movimento global que visa alertar sobre a importância de prevenir o suicídio, promovendo diálogos abertos, informação e apoio para aqueles que precisam.
Essa iniciativa, que teve início no Brasil em 2013, se espalhou pelo mundo, envolvendo escolas, comunidades, profissionais de saúde e mídias sociais em uma rede de solidariedade e cuidado.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que aproximadamente 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que representa uma a cada 100 mortes registradas.
Além disso, estima-se que para cada morte, há muitas mais tentativas de suicídio. Este fenômeno não escolhe idade, gênero, raça ou classe social – todos podem ser afetados de alguma forma.
A busca por ajuda: um estigma a ser enfrentado por todos!
Nos últimos anos, tem havido um aumento preocupante nas taxas de suicídio entre jovens. Fatores como pressões acadêmicas, problemas familiares, bullying e problemas de saúde mental estão entre os principais impulsionadores dessas estatísticas alarmantes.
A falta de apoio emocional adequado, estigma social e acesso limitado aos serviços de saúde mental são barreiras adicionais que contribuem para essa crise.
Em entrevista, a psicóloga Tatiane Zan afirma que o maior obstáculo que enfrentamos é o medo que existe tanto na família quanto na sociedade quando se trata de discutir sobre saúde mental.
“Ainda falamos pouco sobre saúde mental, temos preconceitos sobre os adoecimentos psíquicos. Alguns pais ainda acham bobagem ir ao psicólogo e acreditam que tomar remédio para depressão vai deixar os jovens “viciados”. E com isso acabam empurrando com a barriga e não cuidamos dos filhos, deixamos chegar no limite, e muitas vezes o limite já é o final da linha.”
Sendo assim, é crucial mudar essa realidade. Segundo Tatiane Zan, “Precisamos começar a conversar sobre os aspectos normais da vida; ninguém está feliz o tempo todo e o sofrimento faz parte da nossa existência. Superar desafios é uma experiência comum e deve ser incentivada. Vivemos em uma sociedade que aplaude as grandes vitórias apenas, como se fosse possível a gente sempre vencer, mas deveríamos aplaudir e nos alegrar com nossos pequenos avanços, como o dia que não queríamos levantar da cama e ainda assim levantamos e fomos para a vida. O dia que quase desistimos, mas decidimos tentar mais uma vez! O dia em que aprendemos algo novo. O dia que diante de uma perda choramos e nos abraçamos, ficamos tristes, mas depois nos levantamos e seguimos, e o sorriso sempre vem. Em algum momento ele retorna”.
A psicóloga destaca que aceitar e encarar a vida como ela realmente é nos ajuda a enfrentar melhor os desafios. Por isso, é crucial normalizar a busca por ajuda terapêutica.
Conforme Tatiane Zan observa, “a terapia deveria ser uma experiência acessível desde a primeira infância ou em qualquer fase da vida. Todos nós deveríamos ter a oportunidade de refletir sobre nós mesmos e nossa história, pois há muito a aprender sobre nós mesmos ao longo da vida.”
“Acredito que trazer o tema durante o mês de setembro nos obriga a olhar para a existência desse problema e pensar em soluções para ele, e essa busca por solução fica ressonando antes, durante e depois do período da campanha. Fazendo com que fiquemos mais atentos e ávidos para ajudar os que sofrem”, afirma a terapeuta.
Quais são os sinais de alerta mais comuns que indicam que um adolescente pode estar em risco de suicídio?
Conforme Tatiane Zan, “quando o adolescente fica muito calado, isolado, principalmente em seu próprio quarto, tem pouca ou nenhuma interação social, mudança de apetite e na rotina do sono, perde o interesse por coisas que antes se interessava, mudanças no humor e no comportamento, vale observar”.
A psicóloga ressalta que, quando há um adolescente em risco de suicídio na família, é crucial oferecer suporte não apenas ao jovem, mas a toda a família:
“O adolescente em risco pode estar somatizando uma dor que existe em seu sistema familiar, e como possui poucos recursos internos para lidar com a situação, pode acabar chegando aos extremos, sim. Então, essa família precisa ser assistida, cuidada e acompanhada, para que essa dor possa ser elaborada e todos possam seguir a vida.”
É importante destacar, de acordo com a psicóloga, que as crianças menores também podem se automutilar, porém a consciência será um pouco diferente da do adolescente. As crianças também se angustiam, e nesse processo de angústia podem se ferir, muitas vezes com sua própria unha em sua pele, mordendo a si mesmas ou mesmo puxando pelos e cabelos. Sobre a ideação suicida, não é comum em crianças pequenas, pois dependendo da idade elas ainda não tiveram contato com a morte, não tem consciência sobre a finitude da vida.
Segundo Tatiane Zan, nenhuma pessoa que considera o suicídio como fim máximo quer acabar com a vida, “todos querem acabar com a dor que carregam em si, mas como não sabem como, escolhem acabar com a vida. Portanto, devemos ajudar com a dissolução da dor, ressignificando a história, aprendendo a perdoar e deixar para trás as situações que causam dor e vergonha, mudando a forma de olhar para a história que causa dor”.
Sinais de Alerta!
É fundamental que todos estejam cientes dos sinais de alerta que podem indicar que alguém está em risco de suicídio. Entre os sinais mais comuns estão:
- Expressões de desesperança: Comentários diretos ou indiretos sobre morte, não querer mais viver ou se sentir sem saída. Expressões como “Vou desaparecer”, “Vou deixar vocês em paz”, “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar” e “É inútil tentar fazer algo para mudar” são sinais sérios que merecem a atenção e cuidado dos pais e educadores.
- Isolamento social: Afastamento repentino de amigos, familiares e atividades sociais.
- Mudanças de comportamento: Alterações extremas de humor, aumento do consumo de álcool ou drogas, descuido com a aparência pessoal, entre outros.
- Uso de roupas de mangas longas: mesmo quando está calor, esse comportamento pode indicar marcas de automutilação nos braços ou antebraços.
- Diminuição do rendimento escolar: é frequente o estudante ter queda no rendimento e isso passar desapercebido. Um olhar atento pode salvar vidas!
Os perigos das telas, tecnologias e mídias sociais: como elas impactam a saúde mental dos jovens e o aumento do risco de suicídio?
A psicóloga Tatiane Zan comenta: “As mídias sociais, como não as transformar em vilãs? Difícil né! Pois a cada dia temos tido conhecimento do quanto elas impactam em nossas vidas e de forma negativa. Saber usar a tecnologia a nosso favor deveria ser transformado em curso. Somos seres sociais e, portanto, precisamos do contato humano para nos formar, porém o que temos percebido é que o contato via rede não substitui o cara a cara. As relações via redes não são calorosas e não preenchem nossa necessidade de um Outro na nossa vida. Porém, ela traz uma falsa sensação de que estamos abastecidos de contato social, o que na verdade estamos é intoxicados por vários contatos vazios de sentido e significado. Mas como temos a sensação de termos tido contatos sociais demais, acabamos nos afastando das pessoas reais, as que estão de verdade do nosso lado”.
A terapeuta destaca que, ao observar uma mesa cheia de pessoas, é comum ver cada um mergulhado em sua própria tela, sem diálogo ou contato visual real. Esse fenômeno também ocorre em nossos lares.
“Essa falta de conexão real tem nos deixado vazios, principalmente as crianças e adolescentes que muitas vezes tem sido educados através das telas. O que nos forma é um Outro ser humano e sem esse contato real, orientação, exemplo a ser seguido, valores a serem repassados e aprendidos. A internet, embora seja um espaço vasto e diversificado, torna-se um terreno fértil para a disseminação de uma infinidade de conteúdos, nem sempre construtivos”, afirma Tatiane Zan.
Os impactos dos jogos e como os pais devem se atentar
O jogo conhecido como Baleia Azul tem gerado preocupações significativas devido aos seus impactos negativos sobre os jovens. Esse jogo, que propõe uma série de desafios perigosos e prejudiciais, pode afetar profundamente a saúde mental e emocional dos adolescentes. Os pais precisam estar vigilantes para identificar sinais de que seus filhos possam estar envolvidos ou afetados por esse tipo de atividade.
Tatiane Zan comenta que esse jogo “incentivava as crianças a tirarem suas próprias vidas, e como elas estavam desabastecidas de sentido para a vida, valores sociais e distantes dos seus pais, acabavam seguindo as orientações de gente que elas nem conheciam, mas se sentiam mais conectadas do que com seus próprios pais. As crianças que possuíam ao menos uma fagulha de conexão com seus pais ou adultos responsáveis conseguiram preservar suas vidas ao contar a eles o que estava acontecendo”.
A psicóloga reforça o quão importante é gerar conexão com as crianças e adolescentes:
“Os pais precisam estar perto de seus filhos e gerar para eles um ambiente seguro e isso diz também sobre limitar o tempo de uso de telas e checarem sempre o que os filhos estão assistindo e com quem andam conversando, bem como os jogos que andam jogando. Lembrando que a região do cérebro responsável por julgamentos, ou seja, discernimento e elaborações complexas, só se forma aos 25 anos. Até lá as crianças precisam de muita orientação”.
Como destaca a terapeuta, “as redes sociais lucram cada vez mais com o aumento do uso, e, portanto, não têm interesse em limitar ou desestimular seu uso, como evidenciado no documentário Dilemas das Redes. É crucial que nós, como responsáveis, nos conscientizemos sobre o uso saudável das telas e da tecnologia, e que ensinemos nossas crianças e adolescentes a utilizá-las de maneira equilibrada e responsável”.
Como podemos ajudar na prevenção contra o suicídio?
Se você conhece algum estudante com os sinais acima, ofereça ajuda diretamente, perguntando se há algo que você possa fazer para apoiar – isso pode encorajá-lo a compartilhar o que está sentindo.
Ser um bom ouvinte é essencial nesses momentos. Mostre empatia, escute o que a pessoa tem a dizer sem julgar ou tentar resolver os problemas dela imediatamente. Respeitar os sentimentos do outro faz toda a diferença. Ouça com empatia e esteja presente para oferecer o suporte necessário.
Como estamos falando de estudantes, é necessário orientar os pais a buscar ajuda médica e psicológica. Para os jovens, em particular, é essencial que saibam como buscar apoio quando enfrentam dificuldades emocionais.
Por isso, a escola deve fazer campanhas de conscientização e deixar as portas abertas para o diálogo com os alunos. Conversar com um adulto de confiança, como um professor, conselheiro escolar, familiar ou amigo próximo, pode ser um primeiro passo crucial para salvar vidas.
Profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, também são recursos valiosos para fornecer suporte especializado e intervenção quando necessário.
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