A Unesco lançou neste mês de maio, no Brasil, o relatório, escrito por alguns dos mais importantes pensadores da educação do planeta, “Reimaginar nossos futuros juntos”, fruto do trabalho da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação. O texto parte da constatação de que as escolas não estão conseguindo enfrentar as principais ameaças enfrentadas pelo mundo no século 21. Entre elas, a sobrecarga sobre o meio-ambiente, o que aliás inclui o surgimento de pandemias como a da COVID 19, a revolução digital, as guerras e os riscos à democracia em vários países.
Com isso, a possibilidade de um futuro pacífico, justo e sustentável para o planeta torna-se muito incerta. Mas é esta, justamente, de acordo com o relatório, a tarefa da educação hoje: repensar nosso futuro coletivo. E isso não é apenas uma ideia poética para enfeitar textos assinados por organismos internacionais. Trata-se de propostas viáveis, ao alcance de governantes que não pretendam destruir a grande promessa da educação que é a de permitir acesso ao saber e a oportunidades de crescimento para todos, condições necessárias para coesão social, crescimento econômico de longo prazo e instituições sólidas, fundamentais para frear o risco de populismos.
Mas o documento não adota um tom catastrófico ao apresentar eventuais futuros distópicos. Mostra que, embora o planeta esteja em perigo, uma mobilização da juventude por uma economia sustentável e por estilos de vida menos predatórios está em curso. No mesmo sentido, demonstra que retrocessos em governança democrática têm encontrado resistências no mundo todo e que a revolução digital não apenas desemprega, mas cria também oportunidades e obriga a educação a se repensar. Afinal, faz cada vez menos sentido memorizar fatos e dados que a Inteligência Artificial já processa bem e abre-se assim um espaço para um processo de ensino que leve os alunos a pensar e a resolver colaborativamente problemas com criatividade, o que os robôs ainda não sabem fazer.
E quais as novas tarefas da educação, no contrato social proposto pelo relatório? Promover uma pedagogia organizada com base em cooperação, enfatizar nos currículos uma aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar que ensine os alunos a pensar sistemicamente e a aprender ao longo da vida, uma maior profissionalização do ensino como esforço colaborativo e, finalmente, escolas como espaços a serem protegidos porque apoiam a inclusão, a equidade e o bem-estar individual e coletivo.
Numa leitura rápida, isso soa um pouco genérico, mas esta formulação inclui, na verdade, a profunda transformação necessária para que se construa um outro mundo possível.