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Booktok, Booksgram e outras tendências literárias 

Por Caroline Lina

Estimativa de leitura: 10min 54seg

4 de outubro de 2023

Como eu passei a ser uma leitora mais assídua consumindo conteúdos literários nas redes sociais. 

Que o TikTok deixou de ser um aplicativo de dancinhas há muito tempo, você já sabe, afinal, na “rede vizinha” tem espaço para tudo. Mas que o TikTok é um aporte de referências literárias para muitos jovens e adultos, muito provavelmente não. Bem, eu sou uma dessas pessoas. Não no TikTok propriamente dito, mas nos efeitos que ele gerou em outras redes sociais, como o Instagram. 

“Sim, eu amo ler!” – Matilda (1996) | Giphy

Os vídeos sobre literatura começaram a viralizar na pandemia e o sucesso foi tão grande (e contínuo) que hoje tem até nome – BookTok. Uma verdadeira comunidade, com espaço para divulgação de obras de diversos gêneros literários, de grandes e pequenas editoras, recomendadas para as mais diversas idades. Tem conteúdo para os adolescentes, para os jovens (esse aqui bomba com os livros “young adults”) e até clube do livro para adultos (e sêniores). 

30 a 60 segundos é o tempo suficiente para resumir uma história e elencar os motivos para ler aquela obra. E é assim que funcionam os vídeos e as trends do BookTok. Não te recorda alguma coisa? Então, esse fenômeno não é atual, ele só foi remodelado. Há um tempo não tão-tão-tão distante, YouTubers (ou Booktubers, como eram chamados) usavam o YouTube para os mesmos fins. Agora, os vídeos são gravados na vertical, mais curtos e usam ferramentas de áudio em tendência e edição do próprio TikTok. 

Youtube, onde o conteúdo literário nasceu, e TikTok, onde o conteúdo literário atualmente é tendência.

E a variedade dos conteúdos do TikTok é grande: tem vídeo de resenha literária, trends (as tendências, como, “5 livros que me fizeram chorar”, “Livros que você deveria ler se curte tal autor”, “X livros de suspense que você vai devorar em um único dia”), desafios, reações ao final das histórias, indicações de livrarias e lojas on-line, cafés literários para visitar, citações, “unboxing” (o ato de abrir novos produtos, no caso, livros) e até vídeos do estilo “maquia e fala”, enquanto a influencer se maquia, conta a história de um livro que leu recentemente. 

[Eu, honestamente, sou viciada nos vídeos de trends e é de lá que saem muitas inspirações para minhas leituras.]  

A comunidade já ultrapassou 170 bilhões de visualizações pelo mundo e, só aqui no Brasil, já ultrapassa os 15 bilhões. Esse sucesso pode ser atribuído ao uso da linguagem mais simples e do dia a dia, aliada a possibilidade de qualquer pessoa poder criar conteúdo e expor suas opiniões, sem nem sequer precisar mostrar o rosto, transformando os vídeos em algo realmente influenciador. 

Isso faz com que quem está do outro lado, se sinta representado por se ver em comentários e pensamentos, que por vezes teria sozinho em seu próprio canto, mas que agora vê em outra pessoa e pode expandir o debate com vários outros leitores. Assim, as pessoas se sentem até mesmo acolhidas e próximas umas das outras. O verdadeiro sentido de comunidade, né?

#BookTok

Quer provas do sucesso dos Booktokers?  

O impacto do BookTok na indústria literária mundial é visível nas livrarias e, principalmente, financeiro. Entre as obras mais vendidas de 2021 e 2022, mais da metade são “sucesso do TikTok”, com destaque para as autoras Collen Hoover e Taylor Jenkins Reid – que figuram com as autoras mais vendidas dos dois ultimos anos. A tag “sucesso do TikTok” já ocupa a primeira prateleira das livrarias, na Amazon há uma sessão específica com todos os livros que estão em alta na rede social.

Cena comum: toda livraria tem um espaço reservado para os livros que são sucesso nas redes sociais.

Essa onda de influência também trouxe o retorno de vendas de livros que foram lançados há muitos anos, como “Mulheres que correm com os lobos”, publicado há 27 anos. “A canção de Aquiles” (de 2011) vendeu mais de 600 mil cópias e “Os dois morrem no final” (de 2017) somou quase 700 mil livros em 2021. Já “É assim que acaba” (de 2016), de Colleen Hoover, está há dois anos nas listas de mais vendidos – encaminhando para o terceiro ano consecutivo. Aqui no Brasil, ela é uma sensação absoluta e é a autora mais vendida (eu, particularmente, ADORO! 🥰). 

Os autores brasileiros também têm seu espaço conquistado entre os booktokers e entre as listas de mais vendidos com Pedro Rhuas, “Enquanto eu não te encontro”; Clara Alves, com “Romance real” e “Conectadas”; Giu Domingues emplacando livros fantasias; e “Torto arado”, um grande bestseller escrito pelo nordestino Itamar Vieira Junior. A hashtag #livronacional já soma mais de 260 milhões de acessos no TikTok.  

Clara Alves e Pedro Rhuas, autores brasileiros que são grandes destaques nas redes sociais.

Uma pesquisa realizada no Reino Unido revelou que mais da metade dos jovens é influenciada pelo TikTok na hora de escolherem suas próximas leituras. O estudo ainda destacou que a rede social também é responsável por ajudar o público a descobrir a paixão pela leitura. 

Gente que lê e adora essa produção de conteúdo 

Eu era a menina das revistinhas e livretos, cheia de amigos imaginários que eu criava a partir de todas as histórias que lia. Cresci leitora de todas as “trends” da minha época: “Melancia”, de Marian Keyes; “O Diário da Princesa”, de Meg Cabot; e como boa garota dos anos 2000, “Harry Potter” e a saga “Crepúsculo”. Mais moderninha, também fui do clube das pessoas que amavam “Jogos Vorazes”, mas larguei “Divergente” e “Cidade dos Ossos” pelo caminho. 

E com o passar dos anos, engolida pela rotina, trabalho e a vida adulta, a leitura foi perdendo espaço na minha vida. O Kindle, coitado, ficava descarregado e jogado de lado. Até que os vídeos literários apareceram e eu, que nem tenho TikTok para ser franca com você que me lê, me sinto pessoalmente atingida pelos virais que são reproduzidos e criados também no Instagram. E foi aí que o tudo começou a mudar e voltei a ser uma leitora mais assídua.  

Quem tem uma história parecida com a minha é Amanda Guastti (28), que também sempre amou literatura e está sempre com um livro ou com o Kindle do lado. Ela traçou as primeiras páginas de Harry Potter quando criança e nunca mais parou. E, se antes ela tinha gêneros literários bem definidos e consumia apenas aqueles autores que lhe agradavam, hoje, é influenciada pelos conteúdos dos booktokers a maior parte do tempo: 

“Eu comecei a ter um leque de opções muito maior e comecei a conhecer uma infinidade de autores que nunca tinha ouvido falar. Me arrisquei em histórias diferentes, o que é muito bom. Óbvio que todo leitor que se prese, tem o seu gênero conforto que sempre vai te tirar de uma ressaca literária. Mas, acho que esse aumento de informação em relação a livros foi um ponto muito positivo, porque as pessoas começaram a enxergar outras histórias que talvez nunca chegariam até elas, se não fosse por essa comunidade.” 

Daisy Jones & The Six é tão bom que tem até uma minissérie muito bem adaptada pelo streaming Prime Video. Mas meu conselho é: leia primeiro o livro, depois se delicie na maratona da série!

Hoje, eu leio muito e 90% da minha lista de leitura vem de indicação dos bookgrams (que também são booktokers). Com esses vídeos, encontrei meus gêneros literários de conforto (romance e suspense, algo que, quando mais nova, passava a milhas de distância) e me imerso em um livro atrás do outro, sem tantas pausas. Dentre todas as descobertas que fiz, Taylor Jenkins Reid e Colleen Hoover foram, sem dúvida, as melhores que eu poderia ter. Se, hoje, alguém me perguntar qual o meu livro favorito, com certeza citaria “Daisy Jones & The Six”, da Taylor. 

Com Amanda não foi muito diferente, conheceu diversos autores e se aventurou por outras leituras, até de livros nacionais, que era algo que não estava no seu hall literário. “Conheci a Ali Hazelwood, Emily Henry e Elena Armas através do BookTok e adorei, porque sou apaixonada num romance clichê. Mas a minha maior surpresa foi a Taylor Jenkins Reid: virou a minha autora favorita! Entre os brasileiros, citaria o Raphael Montes, sou apaixonada pelos livros dele, que fogem totalmente do que eu estou acostumada a consumir.” 

E como leio mais e melhor? 

Aprenda a se reconhecer como leitor, respeitar seu tempo. E ouse experimentar! O tempo passa e a gente muda com ele: eu amava livros fantasia e grandes sagas, mas esse gênero não me acompanhou e fui percebendo que não me sentia envolvida com as histórias, empacava em capítulos, e com isso demorava muito para terminar um livro até mesmo de pouquíssimas páginas. Isso me desmotivava, e fui parando de ler aos poucos.  

Foi na aventura de novos tipos literários que me reencontrei com romances, mistérios, suspenses, afinal, queria ler por prazer, para relaxar, me desligar da rotina cansativa e ter um momento só meu. E acompanhar quem gosta do mesmo tipo de leitura que eu, facilita a minha busca por novas histórias, pois a probabilidade de errar e “perder” tempo é bem baixa. Claro, tem livros que a gente não gosta tanto quanto quem indica gostou (eu, por exemplo, odiei Layla, de Colleen Hoover, mas tem quem fale bem dele na web), mas o processo acaba sendo muito mais fácil. 

“Acho que a partir do momento que você tem acesso a uma infinidade de histórias e se conhece como leitor, tudo acaba fluindo. Não adianta eu levar em consideração a opinião de uma pessoa que não curte romance, sendo que é meu gênero favorito. Eu preciso seguir pessoas que estão alinhadas ao que eu busco numa história, ao que eu estou acostumada a ler. Acho que dessa forma, as coisas acabam funcionando e você consegue ler muita coisa e conhecer muitos personagens”, conta Amanda. 

E outro ponto importante é aproveitar a avalanche de conteúdos para valorizar (e conhecer) diversos autores – famosos ou não, com muito tempo de estrada, ou não. Como o algoritmo das redes sociais é veloz, a entrega e o conhecimento são maiores, dessa forma, autores e seus livros chegam em pessoas que talvez nunca conheceriam algo do tipo se não fosse por essas comunidades. Amanda se justifica com sua própria experiência, “li livros de autores durante esses dois últimos anos, que jamais pensei em ler se não fosse pelo conteúdo que eles fornecem através do BookTok e Bookgram.” 

Por onde começar? [+ indicações!] 

Entre os perfis que eu sigo, gosto de acompanhar o conteúdo literário e tiro muitas inspirações e leitura, destaco @conversas.literarias (indicações de livros e muitos romances), @o.prologo e @lendoaocontrario (resenhas, tags e indicações com bons suspenses), @letlivros_ (com vídeos que, com certeza, você vai sair querendo ler o livro indicado), e @anajulivros e @biaglion (com conteúdos do universo literário e entrevistas com pessoas comuns).  

Já Amanda, minha convidada para esses devaneios literários, tem outras indicações: “costumo acompanhar a Pam Gonçalves, Bel Rodrigues, Júlia dos Livros (no Instagram), Livros com Farofa e quando quero saber de algum livro em específico, acabo jogando o nome nas hashtags do Instagram e lendo algumas resenhas”.  

Se você ainda não está convencido de que a comunidade literária pode te trazer excelentes leituras, aqui vai uma lista com os melhores livros que lemos recentemente: 

Carol Amanda 
> Ex/Mulher (Tess Stimson) 
> Verity (Colleen Hoover) 
> Clube do Livro dos Homens (Lyssa Kay Adams) – são 4 e todos valem a pena 
> A empregada: Bem-vinda à família (Freida McFadden) 
> Malibu Renasce (Taylor Jenkins Reid) 
> Depois daquele verão – Carley Fortune  
> Amor, teoricamente – Ali Hazelwood  
> É assim que começa – Colleen Hoover  
> Onde Está Daisy Mason? – Cara Hunter  
> Carrie Soto está de volta – Taylor Jenkins Reid 

Pronto! Agora, você tem alguns perfis para começar a se aventurar pelo BookTok e Bookgram! Viu aí como tem como ler mais com o apoio das redes sociais? Quem diria, né?

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Caroline Lina
Editora, jornalista e especialista em Marketing pela USP. É baiana, mas vive em São Paulo. Adora literatura, esportes, cultura e latinidades.
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