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Elas na linha de frente: A carreira militar e o papel da mulher em servir e proteger a sociedade

Por Juliana Piccoli

Estimativa de leitura: 8min 56seg

4 de março de 2024

As mulheres estão encarando cada vez mais desafios profissionais que um dia, disseram que elas não poderiam.  

“Hei, garota, o que você quer ser quando crescer?” 

Qual a resposta mais comum que se espera ouvir de uma garota diante dessa pergunta? Talvez: “Eu quero ser médica!”; “Eu gostaria de ser professora.”; “Eu sonho em ser veterinária.”; “Eu penso em ser enfermeira…”; “Meus pais querem que eu seja advogada.” 

Agora uma outra pergunta: Qual a reação mais comum de se ouvir, se essa garota respondesse: “Eu quero ser bombeira!”; “Meu sonho é ser policial….”. Talvez a mais comum seja afirmar, ou questionar a equidade da mulher em profissões relacionadas ao gênero masculino. É muito comum ouvir, nesses casos, argumentos como: “Você não tem força pra isso!”; “Será trabalho pesado para uma mulher…”, mesmo nos tempos atuais, em que a mulher tem a equidade de gênero assegurada pela Constituição Federal Brasileira. 

Não se trata de perceber carreiras com menor ou maior importância.  
Trata-se de perceber que essas carreiras também são de interesse das mulheres. 

Muitas garotas sonham com carreiras relacionadas aos homens e por vezes, desistem de realizar-se profissionalmente porque não são incentivadas, ou não sabem que as oportunidades de ingresso são as mesmas para elas. Nos primórdios, mulheres que desejavam ser combatentes, por exemplo, tinham que elaborar planos para ir à linha de frente e é aí que entra um nome famoso de nossa história: Maria Quitéria de Jesus Medeiros.  

Retrato de Maria Quitéria de Medeiros no Museu do Ipiranga, em São Paulo – SP | Foto: Juliana Piccoli 

Em 1823, Maria Quitéria travestiu-se de homem e se alistou no serviço militar para lutar na Guerra da Independência Brasileira, à frente da resistência baiana, sob a alcunha de Medeiros, integrando o Batalhão dos Periquitos. Pós-descoberta, foi então considerada a primeira mulher militar brasileira e recebeu, do então Imperador D. Pedro I, o título de Cavaleiro da Ordem Imperial da Cruz. Em 1996, foi instituída como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, por meio de Decreto de 28 de junho de 1996. 

Hoje, uma garota pode realizar o sonho em ser bombeira, ou policial, sem precisar passar pelo mesmo que a Maria Quitéria passou e a presença das mulheres está cada vez mais evidente nas corporações. Atualmente, por exemplo, são cerca de 7.695 mulheres na ativa do Corpo de Bombeiros no Brasil, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Pode parecer um número pequeno no comparativo, mas se pegarmos São Paulo como exemplo, no ano de 1991, quando a primeira turma com mulheres se formou, eram apenas 37 formadas e, hoje, são cerca de 800 em atividade.  

Se o seu sonho é ser bombeira ou policial, você pode! 

Eu conversei com duas mulheres que realizaram seu sonho na profissão: a Jéssica Libanori, Bombeira Militar; e a Nicoly Gonçalves, Aluna Oficial da Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Ambas sempre acreditaram que o fato de serem mulheres, não as impediria de conquistar seu espaço. 

> A experiência de uma Bombeira: 

“Antes de me apresentar, gostaria de expressar minha gratidão pela oportunidade e compartilhar minha felicidade em discutir a profissão que escolhi. Além disso, quero contar um pouco sobre minha vida: sou mãe de três filhos e casada. Tenho 30 anos e atualmente resido em Campinas, no interior de São Paulo. 

Desde cedo, desenvolvi uma grande admiração pela profissão, influenciada pela presença de vários familiares nesse meio. No entanto, o momento decisivo para ingressar nessa carreira ocorreu após concluir minha primeira faculdade. Na época, enfrentei alguma resistência por parte dos meus pais, devido aos riscos associados à profissão. Mesmo assim, permaneci firme em minha decisão e prestei o concurso. Ao passar por todas as etapas e chegar ao momento de escolher minha especialidade, deparei-me com preconceitos por ser mulher. O serviço de bombeiro, em particular, demanda força física, resistência e resiliência para enfrentar os diversos cenários encontrados. 

Acredito firmemente que não existe um trabalho perfeito; o que importa é sentir gratidão pelo que demanda nossa energia e tempo. Sou grata por poder ajudar o próximo, por oferecer conforto e segurança às pessoas em momentos de dor e desespero. Portanto, ser militar é desafiador e ser mulher nessa profissão torna o desafio ainda mais emocionante!”  

Jéssica Libanori, bombeira militar do Estado de São Paulo | Foto: Bob Lira 

> A experiência de uma Policial Militar: 

“Olá, eu sou a Nicoly Gonçalves, tenho 23 anos, sou de Campinas/SP, mas atualmente moro em São Paulo e sou Policial Militar do Estado de São Paulo desde 2021. Em 2017, estava me formando no 3º ano do Ensino Médio e estava incluída no extenso grupo de adolescentes que não sabiam o que gostariam de fazer para o resto da vida. 

Em dezembro de 2017 eu precisava decidir o que eu queria, iria para a faculdade em Minas Gerais ou estudaria mais um ano em cursos preparatórios? Um dia, fui conhecer a Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) e a primeira coisa que olhei, foi o telhado do refeitório, onde está escrito “Escola de Comandantes”, naquele momento, admirando essa frase, após escutar diversas histórias sobre a carreira, eu tive certeza, enfim, que era o que eu queria para o resto da minha vida. 

Aluna Oficial PM Gonçalves – Presidente do Grêmio de Comunicação Social da APMBB| Foto: Acervo pessoal 

Segui estudando e em janeiro de 2021, assinei a posse para o cargo de Soldado 2ª Classe, e iniciei o Curso de Formação de Soldados.  

Em agosto de 2021, iniciei minha carreira no oficialato, me apresentei na APMBB, e o período de quatro anos de formação começou. Durante esse processo de ingresso, todas as etapas são totalmente transparentes, publicadas em Diário Oficial, e a única explicação para ter menos mulheres no concurso, é o número de inscritas, infelizmente muitas mulheres ainda não conhecem a carreira, e não sabem que podem e devem integrar essa área.” 

Para Nicoly, a profissão de Policial Militar é gratificante e prazerosa, mostrando que todos somos capazes de exercer o que queremos, e chegar aonde quisermos, a única coisa de que as mulheres precisam é determinação, ter um objetivo e lutar até conseguir.  

>>> Como ingressar  

Os editais para o concurso de Bombeiro Militar são relacionados a cada estado do Brasil, sem distinção de gênero, sendo tanto para homens, quanto para mulheres. Assim também acontece para a Polícia Militar, todos por meio de editais de concurso pelo Brasil. 

O ideal para as garotas que desejam realizar esse sonho é acompanhar, nas páginas oficiais desses órgãos na internet, as datas de publicação dos editais. 

Mulheres na Força Aérea, Exército e Marinha  

O serviço militar não é obrigatório para mulheres, mas elas podem se alistar voluntariamente e servir a Força Aérea, o Exército e a Marinha, e recebem a mesma instrução militar.  

Força Aérea: As mulheres podem atuar em diversas áreas da Aeronáutica, como Historiadoras, Aviadoras, Advogadas, Intendentes, Médicas, Controladoras de Tráfego Aéreo, Paraquedistas, Musicistas, entre outras. Ocupam postos de Terceiro-Sargento até Coronel. No entanto, em 2020, a Aeronáutica promoveu a médica Carla Lyrio Martins a Brigadeiro, tornando-a a primeira mulher a se tornar uma Oficial General na Força. 

>>> Como ingressar: Concurso EPCAR | Concurso AFA | Consurso EEAR  

Exército: Hoje há mulheres que alcançaram o posto de Oficial Superior no Exército, como Tenente-Coronel. No entanto, grande parte do corpo feminino está entre a graduação de Sargento, no caso dos Praças, até Major, no caso dos Oficiais. 

>>> Como ingressar: Por meio de concursos – ESA | EsFCEx | EsSEx | IME | EsPCEx | AMAN 

Marinha: A primeira mulher a ocupar um posto de Oficial General na Marinha do Brasil foi a Contra-Almirante Dalva Maria Carvalho Mendes, em 2012. Já em 2014, foi admitida a primeira turma de Aspirantes femininas da Escola Naval (EN). Esses são dois marcos expressivos na carreira militar feminina dentro da Marinha do Brasil. 

>>> Como ingressar:  Por meio de concursos – Escola Naval (EN); Corpo Auxiliar de Praças (CAP); Quadro Complementar de Intendentes (QC-IM); Quadro Técnico (QT); Corpo de Saúde da Marinha; Corpo de Engenheiros da Marinha (CEM); Quadro de Capelães Navais (CAPNAV); Serviço Militar Voluntário para Oficiais temporários; Colégio Naval (CN); Escola de Aprendizes Marinheiros (EAM) 

Mulheres na FAB: Em julho de 2023, o Sexto Esquadrão de Transporte Aéreo realizou o primeiro voo com tripulação totalmente feminina, com a aeronave C-98 Caravan. | Foto: Sd Bispo BaBr

Eu, quando adolescente, pensando na profissão que eu escolheria, não sabia de algumas oportunidades diferentes relacionadas a essas carreiras. Por exemplo: escolhi fazer Comunicação Social e, essa é uma das áreas nas quais uma pessoa pode atuar dentro da carreira militar, assim como Medicina, Odontologia, Enfermagem, entre outras. As coisas eram um tanto quanto diferentes quando eu terminei o Ensino Médio, em 2001. A internet discada mal dava seus primeiros passos, não havia o tanto de informações e possibilidades nas quais temos hoje. De qualquer forma, eu escolhi ser publicitária, já amando desde cedo a minha profissão e entendendo também que o meu lugar seria onde eu quisesse que ele fosse.  

Eu escolhi a minha profissão e tenho orgulho disso! E você, garota, pode e deve, sim, seguir firme em suas escolhas, sonhos, objetivos, independentemente se te dizem que ali não é o seu lugar. Muitas pessoas podem atravessar o seu caminho com negatividade, mas se você escolher algo que você gosta, além de uma profissão, ela se tornará também um amor para sua vida. Não existirá um caminho perfeito, existirá uma mulher determinada a conquistar aquilo que ela merece.  

Que a luz das mulheres brilhe em todos os cantos do planeta, em todas as profissões que elas sonhem alcançar. Feliz todos os dias, para todas nós! 

Juliana Piccoli 
Publicitária com 20 anos de experiência em Comunicação. Redatora por amor. Apaixonada por livros, cultura e muitas viagens por esse mundão à fora.
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