construindo legado
Família

Construindo legados: Como a família pode inspirar na decisão profissional 

Por Bárbara Barbero

Estimativa de leitura: 8min 1seg

18 de março de 2024

É no núcleo familiar que as primeiras inspirações profissionais ganham vida, dando aos pequenos um leque de possibilidades e descobertas. 

A primeira referência profissional muitas vezes é construída dentro de casa com os pais, irmãos e parentes, ainda que os pequenos não entendam o que de fato aquela profissão representa. Por exemplo, quando os pais precisam sair para trabalhar e deixar os filhos com os avós, babá ou na escolinha, há aquela conversa sobre a importância do trabalho para conseguir comprar o que é preciso, levar a passeios, viagens e outras necessidades. Ali, a criança recebe a mensagem de que o trabalho é a fonte de renda e que é dele que se garante o conforto proporcionado pelos responsáveis. 

Conforme vamos crescendo, vamos entendendo a importância dessa mensagem e criando expectativas sobre a vida adulta. E, ao chegarmos numa determinada idade, as escolhas profissionais vão ganhando peso e importância, nos levando a olhar ao nosso redor e buscar referências, que podem estar dentro de casa. 

No interior, trabalhei como babá por muito tempo e me lembro de que uma das crianças que eu cuidava tinha o hábito de se vestir com as roupas e sapatos da mãe, que é fisioterapeuta, e sempre a imitava saindo para trabalhar. A cena, além de cômica, mostra o quanto os filhos prestam atenção em seus pais e reproduzem esses comportamentos no dia a dia. 

Se as crianças se espelham nos adultos na forma de falar e se vestir, elas também podem se espelhar na hora de escolher sua profissão. 

Crescer e a expectativa da vida adulta 

Pensar na vida adulta e em uma carreira sólida, significa se dividir entre a paixão por uma profissão e a estabilidade financeira que esta pode proporcionar. Se você der sorte, pode encontrar os dois em um só. 

Para os pequenos, crescer é um sonho e a vida adulta é uma expectativa idealizada sem as preocupações que o tempo nos mostra serem necessárias. Para os adultos, ver as crianças seguindo seus passos de forma voluntária é um orgulho e uma certeza de que os esforços valeram a pena. 

Histórias reais de inspirações reais 

Dona Nalva e Maiara são mãe e filha. Juntas, elas empreendem em um espaço de beleza localizado na cidade de Jundiaí-SP. A história de dona Nalva com a beleza surge ainda na adolescência das filhas, quando aprendeu a fazer tranças para cuidar do cabelo das meninas. 

Dona Nalva e Maiara. Foto reprodução: Maiara 

“No início, me obriguei a aprender a fazer tranças para fazer em minhas filhas, que gostavam, mas não tínhamos como pagar. Foi nesse processo que descobri o amor por essa profissão. Então, indiretamente, minhas filhas me motivaram”, relata dona Nalva. 

Dona Nalva conta como é dividir esse espaço com a filha, uma vez que além de trabalharem juntas, elas também dividem sonhos e responsabilidades: 

“É maravilhoso! Ela me ensina muito, hoje em dia somos muito amigas e me sinto feliz por isso. Tenho diálogos que eu não tinha antes. Eu cresci muito aprendendo com ela e tenho muito mais para aprender. A gente aprende a cada dia”. 

Maiara atuou muito tempo em outra área, até decidir abrir o próprio negócio ao lado da mãe. Para ela, a sensação de trabalhar juntas é muito parecida: 

“É ótimo trabalhar com a minha mamãe! Eu ganhei uma sócia e uma amiga!  Foi a oportunidade que nos trouxe uma aproximação mais íntima. Hoje somos GRANDES AMIGAS! Ela me inspira há muito tempo. No trabalho ela é paciente, determinada, e com seu carisma e fé, em um mês de faturamento na média ou abaixo, ela me motiva a fazermos mais para alcançarmos mais! A Dona Nalva tem uma energia surreal.  Não dá pra ficar triste perto dela! Ela tem ideais admiráveis. Toda a trajetória dela como profissional, mãe e mulher preta me inspira muito! Ela é minha inspiração da vida!”, relata Maiara. 

Perguntei à Maiara como foi esse processo de atuar na área da beleza e o que a motivou a investir nesse sonho: 

“Quando de fato eu entendi que queria trabalhar com sobrancelhas, empreender e tudo mais, percebi que no CLT eu trabalhava e construía o sonho de alguém e que eu precisava fazer isso por mim, porque eu já tinha o amor pelo meu trabalho e a certeza sobre ele há um bom tempo. Olhar para minha rotina de 4 horas só de trajeto, mais 8 horas de carga de trabalho, além de ver o quanto eu me entregava e não tinha o retorno esperado, foi o start para refletir: ‘eu preciso construir e trabalhar pelo meu sonho, meu projeto!’”. 

Juntas, elas compartilham uma rotina de empresárias, profissionais da beleza e de amigas. Ambas se fortalecem e se apoiam, sem perder a individualidade e seus sonhos pessoais. A importância de estarem ao lado uma da outra, em uma profissão que remonta também seu passado, é de grande potência. Hoje, mais do que cuidar uma da outra, elas também cuidam da autoestima e beleza de inúmeras mulheres que passam pelo salão diariamente. 

A música une mais que laço sanguíneo 

Elisa é formada em Música e atua como cantora e professora de canto. Ela ingressou na carreira artística por influência de seu irmão, 10 anos mais velho, que é músico. Em um bate-papo, perguntei a ela qual a importância de seu irmão no seu processo profissional: 

“Total importância, em número, gênero e grau. Meu irmão, Élcio Dias, é 10 anos mais velho que eu. Todas as minhas memórias de infância são regadas de música, tanto vendo ele cantar, pegando a estrada com banda, quanto com ele me mostrando um disco e me contando as histórias por trás das canções e, principalmente, quando a gente cantava juntos! Eu tive uma infância muito simples, porém muito privilegiada, pois era regada de muita música e arte, como se eu vivesse em um ‘mundo encantado’. Todas as vezes que via meu irmão cantando, eu tinha a certeza dentro de mim de que era isso que faria pelo resto da minha vida.” 

Elisa conta que Élcio, além de seu melhor amigo, sempre foi seu guardião:

“Ele me ensinou tudo que eu sei sobre respeito, amor, empatia, política, arte e música. Já tivemos muitas brigas, o que é normal entre irmãos, é claro, ainda mais pelo fato de ser caçula e, por muitas vezes, minha opinião não ser levada a sério. O que também acho muito natural.  Minha primeira aula de canto foi aos 6 anos de idade e foi dada por ele. Meu irmão foi meu primeiro professor e ainda hoje continua sendo. Sempre peço sua opinião sobre repertório, ou quando tenho alguma dificuldade musical, é a ele que recorro! A nossa relação com a música é algo quase espiritual! Tivemos por muitos anos um projeto musical que se chamava “Canções e Poesia”. Nesse projeto, cantávamos as músicas que mais amávamos e declamávamos poesia”.

“A música é um elo tão forte entre nós que nos une mais do que nosso laço sanguíneo. Eu costumo dizer que se não tivéssemos vindo nessa vida irmãos de sangue, o universo com toda certeza iria nos unir e seria através da música”, relata Elisa Dias.

Elisa Dias com o irmão. Foto reprodução: Elisa Dias. 

Seguir em uma carreira tão delicada e independente, por inspiração de uma pessoa tão importante em sua vida, lhe rendeu alguns momentos emocionantes e inesquecíveis. Elisa relata um desses momentos como sendo um dos dias mais felizes de sua vida. 

“Eu tive momentos musicais lindos! Realizações de sonhos que pareciam impossíveis, como cantar em programas de TV, e o Élcio sempre me ajudou a escolher repertório, estudar e mesmo quando ele não estava presente em corpo, tinha a energia dele no que fazia. Recentemente, eu fiz uma turnê em homenagem à Elis Regina e fazia muitos anos que meu irmão não me assistia ao vivo. Durante uma das apresentações, eu tive a surpresa dele aparecer no show com meu sobrinho. Dediquei uma das músicas a ele, que no caso foi ‘Travessia’ de Milton Nascimento. Nós não conseguimos conter as lágrimas, eu chorando no palco e ele na plateia. Foi, sem dúvidas, um dos dias mais felizes da minha vida.” 

Seja pelo exemplo direto ou pela transmissão de valores e paixões, a família tem o poder de inspirar e orientar na busca por significado e realização profissional. Ao reconhecer a importância desse impacto na vida dos pequenos, podemos cultivar ambientes familiares que nutrem o crescimento pessoal e profissional das gerações futuras, como nos casos de Maiara e Elisa, que podem compartilhar com pessoas que amam seus sonhos e ambições e serem acolhidas e compreendidas por esses, que compartilham da mesma trajetória profissional. 

Ter em casa sua maior inspiração é um presente que poucos podem desfrutar! 

Bárbara Barbero  
Graduanda em jornalismo pelo Faculdade Católica Paulista e estudante de teatro. Ama gatos, arte e as palavras.
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