Desde shows a teatros, a inclusão da LIBRAS na arte tem revolucionado o fazer artístico.
O Brasil possui duas línguas oficiais: o Português, que é herança dos colonizadores lusitanos, e a LIBRAS, que é a sigla para Língua Brasileira de Sinais.
Apesar de língua de sinais compor a segunda língua oficial do nosso país, a comunidade surda enfrenta diariamente o desafio da inclusão.
De acordo com dados do IBGE, 5% da população brasileira é surda, o que representa cerca de 10 milhões de pessoas. Bastante, não é mesmo?

Foto reprodução: Pexels
Quem compõe a comunidade surda?
Uma grande dúvida a respeito de quem utiliza a LIBRAS é sobre a comunidade surda. Não necessariamente todos são não ouvintes, pois a surdez existe em diferentes estágios. Para compor a comunidade, estão os não ouvintes, pessoas com deficiência auditiva, intérpretes e tradutores de LIBRAS e também os CODAs, como são conhecidos os filhos de pais surdos.
Alguns não ouvintes, devido à ajuda de aparelhos auditivos, conseguem oralizar algumas palavras, além da leitura labial. Mas há uma grande parcela que se utiliza da LIBRAS para se comunicar.
E pensando nesse cenário, onde a língua de sinais é algo ainda novo para a maioria das pessoas, mesmo sendo a segunda língua do país, realizar arte e cultura de forma inclusiva se torna não somente um desafio, como também uma necessidade.
Quando falamos de comunicação, precisamos pensar com quem nos comunicamos e em como. E dentro dessa análise, precisamos refletir sobre como viabilizar a arte e a comunicação, de maneira que o cenário cultural se torne para todos.
Dificuldades no cenário cultural
O alimento da arte para a comunidade surda parte muito dos estímulos visuais, por isso, inclusive, a língua de sinais contém muitas expressões faciais, pois elas ajudam a comunicar sentimentos e intensificam as reações.
Porém, como transformar shows, teatros e outras artes que se utilizam tanto da fala, em algo acessível e compreensível para a comunidade surda?
Pensando nisso, diversas empresas têm se preocupado em como tornar o cenário cultural mais democrático, abraçando comunidades e as trazendo para mais próximo da arte, mudando essa visão tradicional de usar intérpretes e tradutores de forma neutra no canto de uma tela ou de um palco.
Rihanna no Super Bowl e a língua de sinais

Rihanna no Super Bowl em fevereiro de 2023. Foto reprodução: ESPN Sports.
A cantora e empresária Rihanna, recentemente fez uma aparição um tanto quanto hilária no Super Bowl, considerado o maior evento esportivo de apenas um dia do mundo. Em sua apresentação, além de cantar novamente depois de muitos anos afastada do cenário musical, a cantora também anunciou a gravidez do segundo filho. Mas, apesar dos inúmeros acontecimentos, o que chamou mesmo a atenção do público foi a intérprete de língua de sinais americana Justina Miles.

Justina Miles traduzindo o show da cantora Rihanna para língua de sinais, fevereiro de 2023. Foto reprodução: ESPN Sports.
Em sua tradução, a intérprete se jogou no ritmo das músicas e abusou das expressões faciais e corporais. Em um evento tão grande, com um nome tão conhecido como o de Rihanna, pensar em como democratizar o acesso, tornando a comunicação acessível, é abrir espaços para sonhos e permitir com que comunidades se sintam incluídas.
Teatro em Libras no Brasil

Espetáculo teatral “Lugar de Ser Inútil”, evento Praça Viva, Curitiba, 2022. Foto Reprodução: Fluindo Libras
Em Curitiba, no Paraná, um grupo de tradutores e intérpretes surdos e ouvintes se uniram para criar o grupo Fluindo Libras, que realiza espetáculos teatrais em LIBRAS e também a tradução de produções artísticas audiovisuais.
Nos espetáculos realizados pela Fluindo Libras, há uma interpretação interativa com a plateia, fugindo daquela imagem que estamos acostumados, que é a de colocar o intérprete em local de “legendar” o espetáculo, e assim, colocando o artista tradutor como parte da cena.
Com performances, figurinos coloridos, cenários e composições artísticas, a comunidade surda pode experienciar assistir a um espetáculo totalmente inclusivo, rico em diálogos em LIBRAS e detalhes cênicos.
Como a arte pode atravessar o espectador surdo
Democratizar o acesso a arte faz com que mais pessoas se sintam abraçadas, e consequentemente, abre espaços para que mais pessoas queiram produzir arte. E quando falamos em arte, falamos em suas diferentes formas de existir em nossa sociedade.
“Pense em quantas pessoas são transformadas diariamente por se sentirem vistas, ouvidas, acolhidas e incluídas no cenário cultural.”
Falamos de crianças que podem experienciar momentos mágicos, de adultos que podem participar de debates tão importantes para o cenário artístico e cultural, entre outras situações que podem passar como banais para quem é ouvinte não ativo na comunidade, mas que se torna um marco para a comunidade surda.
Olhar para nossa sociedade num todo e buscar inclusão e acolhimento é a chave para nossa transformação e evolução.