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Educação Digital: O caminho para os estudantes alcançarem todo seu potencial 

Por Jeniffer Rodrigues

Estimativa de leitura: 9min 59seg

14 de dezembro de 2023

Você já leu ou ouviu por aí que usar celular demais faz mal? Que ficar tempo demais frente a telas prejudica o desenvolvimento das crianças e jovens? Então, você – educador, mãe, pai, família – deve se questionar: se causa todo esse problema, por que trazer isso para dentro da escola? 

Essa é a pergunta sobre a qual conversaremos neste artigo. Muito se fala sobre os malefícios do uso das tecnologias, mas muitas coisas se tornam ruins se utilizadas do jeito errado… É preciso encontrar estratégias para promover a adoção segura, criativa e vantajosa desses recursos onipresentes nas salas de aula. Para enriquecer este nosso bate-papo, convido Fernanda Ramos de Andrade, editora de Conteúdo Digital da FTD Educação e mãe de duas pré-adolescentes. 

E já que tocamos no assunto, nada mais justo começar por ele. Para nossa discussão sobre a relevância da Educação Digital, trataremos aqui quatro pontos muito importantes: competências digitais, tipo de dispositivo, tempo de telas e intenção.  

O foco é na pessoa e não na tecnologia 

Toda vez que falamos de Educação Digital, as pessoas logo pensam nas tecnologias. E aqui convidamos você a uma reflexão conosco: Para que servem as tecnologias na escola?  

Em nosso subtítulo, já demos uma superdica. Quando falamos de Educação Digital, trazemos a maior (e mais importante em nossa opinião) contribuição que todo contexto digital nos oferta – o foco na experiência de aprendizagem do estudante, atendendo às necessidades de desenvolvimento dele. Assim, se um professor utiliza um recurso digital, a intenção deve ser melhorar a experiência, o engajamento ou o desenvolvimento de competências dos estudantes. O ensino ganha novos caminhos a favor da melhoria da aprendizagem.  

Então, se essa é a principal contribuição, isso significa que a tecnologia é mais um recurso que favorece o atendimento às necessidades do estudante. E é assim que ela deve ser utilizada. Tarefa fácil? Nem sempre. Necessária? Com certeza! 

Em uma pesquisa realizada com professores em 2020, apresentada pelo Instituto Reúna, informa que a maioria dos profissionais da Educação Básica no país considera a Competência Digital uma das mais difíceis de conquistar na sua atuação. Para superar esse desafio, é fundamental que os educadores busquem recursos e estratégias como atualização constante, explorem novas metodologias, aprimorem o repertório tecnológico e desenvolvam o pensamento crítico dos estudantes sobre o mundo contemporâneo que vivemos. 

Como competência digital, no contexto educativo, podemos citar a capacidade de analisar dados, o desenvolvimento do pensamento computacional, a literacia digital, a criação de conteúdo digital, a compreensão dos dilemas éticos associados e a utilização de ferramentas e plataformas digitais. Tais competências são essenciais para que os estudantes desenvolvam habilidades necessárias para uma atuação plena na sociedade atual onde a tecnologia desempenha um papel fundamental. 

Em resumo, o uso de tecnologias digitais em sala de aula deve trazer benefícios para o aprendizado, como estimular a pesquisa, a criatividade, a colaboração e a autonomia dos estudantes. No entanto, é preciso que haja uma mediação atenta dos professores, que devem planejar as atividades, orientar os estudantes e avaliar os resultados. Além disso, é fundamental que as instituições de ensino apoiem e incentivem o desenvolvimento de competências digitais dos professores, promovendo a cultura digital e a adoção de práticas pedagógicas inovadoras. 

Autorregulação: Será que eu consigo? 

Recentemente, a UNESCO publicou um relatório problematizando o uso de celulares em sala de aula. A discussão é profunda e merece um artigo especial só para isso. Citamos este documento para enfatizar que nos preocupamos com essa questão pelo mesmo problema que o uso dos celulares causa em nós, adultos: a dificuldade de autorregulação

As últimas décadas foram marcadas pela transformação cultural causada pelas redes sociais e seus algoritmos baseados em dados que engajam seus usuários de forma viciante. Isso inclui crianças e jovens que estão aprendendo a se autorregular. Além das redes, temos os jogos, que liberam altas doses de dopamina em nosso organismo, reforçando a relação de prazer que temos quando focamos no aparelho. No fim das contas, é muita concorrência para qualquer evento, seja uma reunião de trabalho ou uma sala de aula. 

Um primeiro movimento que sugerimos é dar preferência ao uso de notebooks bem configurados, viabilizando um distanciamento das redes e jogos. No entanto, sabemos que apenas trocar o dispositivo não resolve o problema, afinal, lidamos com jovens hiperconectados, que buscam seus atalhos ao navegar no mundo digital.  

Tal habilidade não deve ser encarada como algo ruim, mas sim como uma realidade e precisamos criar mecanismos para lidar com isso. Exemplos para isso são os bons e velhos combinados com a turma ou a criação de um sistema de controle de uso (e o controle é outro tema polêmico na Educação, voltaremos a ele em outro bate-papo 😉). Enfim, é possível buscar um equilíbrio entre recursos tradicionais e hightechs que podem apoiar tanto a escola quanto a família.  

Outro ponto importante é o tempo de uso de telas. Existem diversas recomendações acerca do assunto, mas poucos incluem o uso delas para a aprendizagem. Para estratégias em sala de aula, os estudantes não devem ficar focados horas em um dispositivo. O bom uso prevê a atenção ao professor, a colaboração com colegas e atividades práticas fora dos dispositivos. Dessa forma, o uso não deve ser contínuo, mas sim segmentado em pequenas etapas e permeado por estratégias diversificadas de ensino. 

Sem intenção, se der certo, foi sorte 

Toda experiência de aprendizagem exige de quem a propõe, a intencionalidade e, quando se trata do ambiente digital, isso não é diferente. A Educação Digital deve ser organizada de forma a permitir que a adoção de recursos digitais traga benefícios reais aos estudantes.  

Para isso, é necessário um planejamento cuidadoso que articula os desafios de uma cultura digital cada vez mais avançada e a participação ativa do estudante de forma contextualizada, ou seja, de acordo com sua realidade. O objetivo final é ir além da simples transmissão de conhecimento, mas potencializar o protagonismo dos alunos no processo de aprendizagem. 

E como conseguimos viabilizar isso? Três verbos refletem nossa indicação – explorar, descobrir e aproveitar:  

>>> Explorar dispositivos, recursos, estratégias e metodologias.  
>>> Descobrir para que serve cada item explorado e até onde você consegue chegar utilizando cada um deles.  
>>> Aproveitar os saberes dos nossos estudantes, que (garantimos) conhecem muito mais recursos e suas funcionalidades que a gente. Geração diferente, com necessidades diferentes: nada melhor que obter deles o que está “quente” em suas vidas. 

Essa mudança de mentalidade é exigência do contexto contemporâneo em que as escolas devem ser capazes de promover a troca de saberes, dar espaço ao exercício da individualidade e incentivar uma revisão crítica do entorno em que está inserida. Com esse objetivo, é preciso considerar as transformações culturais, formando cidadãos capazes de compreender, dialogar e agir em um mundo em constante mudança.  

O uso da tecnologia é essencial nesse processo e não pode se restringir à reprodução de uma sala de aula tradicional em formato digital e on-line, mas precisa ser apropriado, desmistificado e compreendido para além de uma simples ferramenta. Afinal, o universo digital que habitamos é composto por instrumentos visíveis (gadgets, aplicativos etc.) e invisíveis (códigos, algoritmos etc.). 

Nesse contexto da Educação Digital, um dos desafios relacionados à escolha dos recursos, além de garantir infraestrutura adequada de equipamentos e conectividade, é saber explorar ferramentas diversas, como videoaulas, jogos, plataformas educativas, relatórios de desempenho, ambientes imersivos, simuladores entre outros objetos educacionais digitais. Com isso, o educador amplia o repertório de possibilidade para explorar diversas áreas de conhecimento, fazendo relação com diferentes conteúdos do currículo escolar. 

Ser mentor ou não ser: eis a questão. 

Como tópico extra de nossa conversa, trazemos um dos itens mais importantes para a potencialização do aprendizado dos estudantes: o papel do professor.  

Há muito tempo, vemos nas referências da Educação Brasileira a mudança no posicionamento desse profissional. O professor tem o importante papel de ir além da transferência de conhecimentos sistematizados e deve refletir sobre como trabalhar com conteúdos digitais, orientando os estudantes em suas produções e processos de forma construtiva e crítica. Duas estratégias são relevantes para atingir esse objetivo: a formação continuada de professores e o uso de metodologias ativas. 

Uma formação docente eficiente possibilita alinhar repertórios e experiências muito diferentes – afinal, professores e alunos vivenciaram a revolução digital em diferentes momentos da vida. Além disso, o uso de metodologias ativas convida o aprendiz a uma postura ativa que muitas vezes é exigida de nós na cultura digital. Nele, somos constantemente solicitados a interagir, reagir e nos expressar e não apenas consumir e observar. Por isso, nossas crianças e jovens precisam desenvolver maturidade, pois, mesmo que não tenham plena consciência disso, precisam agir de forma crítica, ativa e ética.  

Em suma, a união das estratégias e contextos descritos acima sustentam a Educação Digital na escola, que, para ser significativa, necessita de agentes competentes e métodos eficazes. 

E finalizando este nosso bate-papo, convidamos todos e todas a mergulharem nesse mundo digital. O desenvolvimento de competências digitais é de extrema importância para que nossos estudantes sejam relevantes no futuro do trabalho (e de vida) que os espera. E isso é a Educação Integral: preparar para que eles tenham sucesso na vida, dando recursos para que tenham opções e possam escolher o melhor caminho, independente de qual seja 😉.  


Saiba mais! 

UNESCO – Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 

Em 2023, o relatório focou seu olhar em analisar o tema “A Tecnologia na Educação: Uma ferramenta a serviço de quem?”. Aqui, eles problematizam a aquisição de tecnologias em detrimento de materiais didáticos de qualidade, o que causa um vale ainda maior entre países ricos e pobres. Muito resumidamente, destacam a necessidade de investimento em materiais didáticos de qualidade, formação de professores e intencionalidade pedagógica para o sucesso da Educação. 

>> Acesse aqui o relatório completo. 
>> Acesse aqui o relatório resumido.  

INSTITUTO REÚNA – Relatório Consensos e Dissensos sobre Alinhamento à BNCC 

Em 2020, o Instituto Reúna encomendou a pesquisa que “buscou identificar consensos e dissensos no que se refere à compreensão de alinhamento à BNCC nas áreas de avaliação, currículo, formação e materiais didáticos em relação à Base”. Em sua trajetória de pesquisa, trouxe à tona os principais estímulos e desafios que a BNCC acarretou para o cotidiano escolar. 

>> Acesse aqui o relatório completo. 

CIEB – Centro de Inovação para a Educação Brasileira 

O CIEB é uma importante referência quando falamos de tecnologias na Educação. É uma associação sem fins lucrativos que promove a cultura de inovação na Educação Pública brasileira. Defendem o uso das tecnologias como forma de realizar uma transformação sistêmica nos processos de aprendizagem.  

>> Acesse aqui os materiais publicados pelo CIEB.  

Jeniffer Rodrigues
Gerente de Engajamento Digital na FTD Educação, professora de Língua Portuguesa, editora e autora de Material Didático Digital.
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