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Contextualização nas aulas de Matemática

Por Joamir Souza

Estimativa de leitura: 4min 20seg

4 de maio de 2023

Professor, para que serve esse conteúdo? Onde vou usá-lo em minha vida? 

Se você é professor de Matemática, provavelmente já ouviu essas perguntas diversas vezes nas aulas. Elas estão diretamente relacionadas à contextualização em Matemática. 

De modo geral, a contextualização pode ser compreendida como algo que reveste os conteúdos matemáticos, é a interface entre esses conteúdos e o leitor. Por exemplo, uma operação de subtração pode ser trabalhada por meio de uma situação na qual pretende-se determinar o troco a receber em uma compra realizada na cantina da escola. Nesse exemplo, divisão é o conteúdo matemático e a situação da compra é o contexto. Quando tratamos de contextualização em Matemática, uma proposta interessante é considerar sua classificação em três tipos: Matemática pura, Semirrealidade e Realidade.1 

Nessa classificação, em linhas gerais, a contextualização em Matemática pura é aquela que se dedica a aplicações internas à Matemática. Por exemplo, podemos trabalhar a adição no cálculo do perímetro de um polígono, que corresponde a soma das medidas de seus lados. Nesse caso, tanto a adição quanto o perímetro do polígono, que são respectivamente o conteúdo e o contexto, pertencem à Matemática. 

Já a Semirrealidade pode ser compreendida como uma contextualização que trata de aplicações “inventadas”, ou seja, uma dramatização ou aproximação da realidade com fins pedagógicos. Se pretendemos explorar o conteúdo de frações, por exemplo, podemos propor uma situação que envolva como contexto o corte de um bolo em determinada quantidade de fatias exatamente idênticas umas às outras, de maneira que cada fatia corresponda a uma fração do bolo. No entanto, sabemos que essa divisão perfeita do bolo não se confirma na prática. 

Por último, mas não menos importante, a contextualização em Realidade objetiva aplicar os conteúdos matemáticos em situações do cotidiano, desenvolver modelos reais, propor abordagens a partir de vivências pessoais e explorar conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento. É sobre esse tipo de contextualização que os estudantes se referem quando trazem para a sala de aula as questões apresentadas no início deste texto. É legítimo que eles tenham curiosidade em saber qual a importância prática daquele conteúdo, uma vez que é esperado que dediquem tempo e esforço para compreendê-lo. 

Do ponto de vista do professor, propor abordagens de contextos em Realidade pode servir para motivar a turma, fomentar um ensino e aprendizagem mais significativos da Matemática e contribuir para a formação plena dos estudantes. Mas como obter bons contextos em Realidade? 

Existem diversos mecanismos para captar esses contextos, como conversar com professores de outros componentes curriculares ou com profissionais de diferentes áreas do conhecimento, ficar atento às notícias nas diversas mídias, consultar variadas fontes de informação confiáveis, sempre buscando identificar situações em que a Matemática possa contribuir para sua compreensão ou resolução. Mas acredito que a maneira mais eficaz de “pescar” contextos em Realidade, que sensibilizem os estudantes, está no simples ato de ouvi-los. Nada chama mais a atenção deles do que tratar de um assunto sobre o qual estejam envolvidos e, portanto, interessados. 

Algum tempo atrás, logo que entrei na sala de uma turma do 9º ano, notei que um grupo de estudantes discutiam calorosamente. Ao me inteirar do assunto que demandava tanta energia do grupo, descobri que a aflição deles estava relacionada à impossibilidade de instalar no celular um determinado jogo, uma vez que o aparelho sinalizava estar com sua capacidade de armazenamento cheia. A discussão se baseava em resolver tal situação excluindo um ou mais aplicativos que já estavam instalados. Percebi que, por mais que esses estudantes estivessem conectados às tecnologias, eles não dominavam as relações entre as unidades de medida de armazenamento de dados: baite, quilobaite, megabaite etc. E foi a partir desse contexto em Realidade que pude desenvolver um trabalho com potências e raízes com essa turma. Posteriormente, levei esse contexto para livros que publiquei tanto nos anos finais do Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. 

Devido à sua natureza, os contextos em Realidade se articulam muito bem com diferentes tendências em Educação Matemática, como a Resolução de Problemas, a Modelagem, a Investigação, a Etnomatemática, a Matemática crítica e o uso das tecnologias da informação e comunicação. 

Vale destacar que todos os tipos de contexto – Matemática pura, Semirrealidade e Realidade – são importantes de serem tratados nas aulas de Matemática, uma vez que cada um deles tem finalidades próprias. O desafio para o professor está em equilibrar essas abordagens para potencializar o processo de ensino e aprendizagem. 


1 Classificação definida a partir da proposta de Ole Skovsmose, no livro Desafios da reflexão em educação matemática crítica. Tradução: Orlando de Andrade Figueiredo, Jonei Cerqueira Barbosa – Campinas, SP: Papirus, 2008. 

Joamir Roberto de Souza
Professor da rede pública de ensino, autor de livros didáticos de Matemática para o Ensino Fundamental e Ensino Médio.
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