No ano passado, a FTD Educação lançou o livro Cada bicho um seu canto, uma coletânea de 25 poemas de Edimilson Pereira de Almeida, ilustrados pelo artista gráfico Edson Ikê.
O livro, que tem as crianças como público-alvo, apresenta os bichos a partir de uma perspectiva diferente da que costumamos ver em outras obras, onde linguagem escrita e visual fazem com que os leitores saiam do lugar comum.
Edson, que assina as artes, produz um trabalho gráfico muito único com ilustrações inspiradas na xilogravura popular brasileira que dialogou, e muito, com o conteúdo literário da obra. E para entender um pouco de como foi ilustrar Cada bicho um seu canto, nós fomos conversar com ele!
Confira agora na íntegra uma entrevista com o ilustrador Edson Ikê:
- Quais são as suas maiores referências na ilustração?
Tenho uma afinidade de referências pelo mundo, gosto muito de uma ilustradora Victo Ngai, um trabalho incrível e metódico, e uma ilustração contemporânea que leva em conta o seu país de origem – China. Gosto dos artistas brasileiros: William Santiago, Rômolo D’Hipólito e Zansky, dos xilogravura popular brasileira, artistas como Dila e J. Borges, da xilogravura de Eduardo Ver, Lasar Segall, Rubem Grilo, Gilvan Samico e Oswaldo Goeldi.
- Por que escolheu trabalhar com essa técnica no “Cada bicho”?
Minha ilustração tem como base e inspiração a xilogravura popular brasileira e a gravura popular sempre retrataram uma vida rural, com pássaros, peixes, a natureza brasileira é exuberante.
- Você é leitor de poesia?
Sou leitor de poesia. Sempre me impactou poesias/personagens de Fernando Pessoa.
- Qual foi sua inspiração para ilustrar “Cada bicho um seu canto”?
Inspirado nos próprios poemas de Edimilson de Almeida, nas nuances dos poemas cheios de jogos imaginativos.
- Como costuma ser o seu processo para ilustrar um livro?
Cada livro é um processo diferente. No caso do “Cada bicho um seu canto”, primeiro fiz uma primeira leitura desenhando e fazendo interpretação criativa dos poemas, experimentei e fiz rascunhos à lápis e montei um storyboard para apresentar para o editor de arte e a partir daí fui melhorando e lapidando os desenhos e ideias do editor.
- Você era uma criança mais leitora ou sempre preferiu desenhar?
Sempre fui uma criança imaginativa e minha introspecção foi canalizada no desenho e criação de universos imaginários, sempre desenhando e imerso nos desenhos. Na adolescência, passei a ler mais e me encantar com a literatura brasileira e literatura universal.
- Quem são seus autores e artistas favoritos?
Gosto muito do escritor moçambicano Mia Couto e li alguns livros e adorei, sua busca de retratar uma Moçambique fantástica e com passado e ancestralidade tão marcantes, me fez olhar para a Literatura Brasileira, principalmente, o Guimarães Rosa. Tenho muitos artistas como referência nas artes visuais, como citei acima, mas sempre fico fascinado pelos clássicos também, como Rembrandt, os desenhos de Gustave Doré, as gravuras japonesas, me tiram o fôlego.
- Você toca algum instrumento musical? Você acha que as artes da música e da ilustração têm algo em comum?
Sou um desenhista que toca trompete. Penso que as artes se encontram de alguma forma, seja no desenvolvimento de uma disciplina, no fazer artístico, no desenvolvimento contínuo e constante, experimentação… e aprender tocar trompete, aprender música, me fez entender o desenho de outra forma, menos intuitivo e mais racional. Acredito que a arte é um trabalho como qualquer outro, com estudo e disciplina moldamos nossa mente e podemos criar coisas incríveis.
- Alguma dica para quem está começando agora e deseja se tornar ilustrador?
Uma dica é sempre manter a curiosidade ativa, ainda mais com tanto dispositivo de distração, tentar fazer e acreditar no que faz, não se comparar e se manter produtivo.
Edson Ikê é ilustrador, designer gráfico e artista gráfico. Trabalha com diversas técnicas diferentes de ilustração, tendo a xilogravura como principal referência. Ikê busca o desenho como pensamento e inspiração para suas explorações pessoais. Ao longo dos 18 anos de profissão, já desenvolveu trabalhos para diferentes frentes – nacionais e internacionais -, foi indicado para os prêmios Esso e Abril Jornalismo, em 2015, e ganhou o prêmio promovido pelo projeto Territórios Afro Criativos, organizado pela Feira Preta e Itaú Cultural, em 2016.