desenvolvimento competencias socioemocionais
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O papel dos gestores e coordenadores no desenvolvimento das competências socioemocionais na escola 

Por Ailton Dias

Estimativa de leitura: 8min 36seg

9 de maio de 2025

A formação integral dos estudantes, hoje, não pode mais ser pensada sem a devida atenção às competências socioemocionais. Atitudes como empatia, colaboração, resiliência e responsabilidade ganharam contornos significativos em documentos oficiais, a exemplo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que as apresenta como dimensões fundamentais do processo educativo (BRASIL, 2017).

Nesse contexto, gestores e coordenadores pedagógicos assumem papel estratégico, pois são eles os grandes articuladores de uma cultura escolar que valorize o desenvolvimento integral. Mas, na prática, como essas lideranças podem promover atitudes e valores que preparem crianças e jovens para os desafios contemporâneos? Este texto, propõe reflexões e sugestões de rotinas para ajudar gestores e coordenadores a favorecerem o desenvolvimento socioemocional no dia a dia escolar. 

Historicamente, o foco da educação formal no Brasil esteve voltado ao domínio dos conteúdos tradicionais. Entretanto, a expansão dos estudos sobre inteligência emocional (GOLEMAN, 1995) demonstrou que o sucesso acadêmico e profissional depende não apenas de conhecimentos conceituais, mas também de habilidades como autocontrole, comunicação e cooperação. A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu art. 2º, reforça a formação plena do indivíduo para o exercício da cidadania (BRASIL, 1996). A BNCC, por sua vez, consolidou esse olhar ao definir dez competências gerais, várias delas com clara ênfase em aspectos emocionais e sociais, como a competência geral 9, que aborda empatia e cooperação (BRASIL, 2017). 

Diante disso, percebe-se que, se a escola busca formar sujeitos competentes para atuar em sociedade, precisa investir em metodologias e ambientes que promovam a construção de vínculos saudáveis, desenvolvam a autorregulação emocional e deem voz aos estudantes na resolução dos problemas que surgem durante a convivência. E é aqui que a função de diretores e coordenadores pedagógicos se mostra primordial: eles são os mediadores que dão unidade ao trabalho docente e ajudam a alinhar práticas e discursos institucionais às políticas educacionais e às demandas da comunidade escolar. 

Liderança e gestão de clima institucional 

Uma das atribuições mais relevantes dos gestores é estabelecer um clima institucional propício ao diálogo e à inclusão (PEREZ, 2018). Independentemente do tamanho ou da localização da escola, o diretor que pratica a escuta ativa junto aos professores, funcionários, famílias e estudantes abre caminho para o fortalecimento das competências socioemocionais. Isso porque, ao vivenciarem um ambiente respeitoso, os sujeitos entendem a importância de acolher diferentes pontos de vista e de gerenciar conflitos de forma não violenta. 

Em termos práticos, pode-se pensar em rotinas de assembleias escolares, fóruns de debate e rodas de conversa, envolvendo todos os segmentos. Nessas ocasiões, a gestão pode propor acordos de convivência, promover discussões sobre valores como empatia e solidariedade e incentivar que os estudantes liderem projetos socioemocionais, por exemplo, campanhas contra o bullying ou iniciativas de mentoria entre turmas. 

Coordenação pedagógica e formação de professores 

Se o diretor organiza a ambiência e a infraestrutura, o coordenador pedagógico tem o papel de acompanhar diariamente os encaminhamentos didáticos e as demandas pedagógicas. Para que as competências socioemocionais façam parte efetiva do currículo, é fundamental que o coordenador priorize esse tema na formação contínua com os professores (PERRENOUD, 2000). Nesse sentido, algumas estratégias podem ser aplicadas: 

  1. Estudo de casos: Analisar situações concretas de sala de aula, por exemplo, um episódio de conflito entre estudantes ou um estudante desmotivado. Em grupo, os professores discutem possíveis abordagens, relacionando-as às habilidades emocionais envolvidas. 
  1. Acompanhamento efetivo das aulas: O coordenador pode programar, junto aos professores, momentos para observar a dinâmica em sala, sempre de maneira acordada e com objetivos claros. Antes da entrada em classe, ambos definem quais aspectos serão observados (por exemplo, estratégias de mediação de conflitos ou estímulo à empatia). Após a observação, o coordenador e o professor agendam um encontro para analisar os pontos fortes e, se necessário, estabelecer ajustes ou inovações metodológicas. Esse acompanhamento estruturado permite que o professor se sinta apoiado, e não “fiscalizado”, tornando o processo mais colaborativo e centrado no desenvolvimento socioemocional. 
  1. Projetos interdisciplinares: Promover espaços em que os professores trabalhem juntos, planejando sequências didáticas ou projetos que integrem habilidades cognitivas e socioemocionais. Um exemplo é um projeto de leitura sobre narrativas de superação, em que se discutam resiliência, perseverança e valores éticos. 

Nessas formações, o uso de dinâmicas de grupo também ajuda os professores a vivenciarem, em primeira pessoa, a construção de autoconfiança, a resolução de conflitos e o exercício do diálogo. Quando os docentes se sentem à vontade para partilhar fragilidades e conquistas, aumenta a coerência entre o discurso e a prática em sala de aula. 

Exemplo como fator formador 

Outra dimensão inquestionável é a do exemplo que gestores e coordenadores oferecem aos demais. O desenvolvimento de competências socioemocionais não ocorre apenas pelo ensino explícito de conceitos, mas, sobretudo, pela observação dos comportamentos das lideranças. Quando o diretor ou a coordenadora lidam com situações desafiadoras de maneira empática, equilibrada e colaborativa, a comunidade escolar percebe, na prática, a importância dessas habilidades (LIBÂNEO, 2013). 

Para reforçar esse aspecto, é benéfico que a equipe gestora: 

  • Esteja aberta à escuta, reconhecendo angústias e expectativas, e oferecendo encaminhamentos acolhedores. 
  • Pratique a comunicação não violenta nos momentos de avaliação do trabalho docente, dando feedbacks construtivos e sugerindo caminhos de melhoria. 
  • Mantenha coerência entre o que se propõe na dimensão pedagógica e as atitudes do dia a dia. Por exemplo, se a escola preconiza o valor do diálogo, também deve encontrar soluções coletivas para problemas internos. 

Projetos e práticas que favorecem o socioemocional 

Algumas sugestões de projetos e rotinas possíveis: 

  1. Semana da Empatia: Reservar alguns dias para debates, exibição de vídeos e atividades que estimulem a percepção do outro. Nesse período, professores podem propor dramatizações em sala, rodas de leitura de relatos de pessoas que superaram dificuldades e convidar a comunidade local para partilhar histórias. 
  1. Mentoria reversa: Estudantes mais velhos orientam os mais novos no uso de ferramentas tecnológicas ou em atividades criativas. Isso cria um espaço de colaboração e de valorização da autonomia do aluno, reforçando a atitude de responsabilidade. 
  1. Conselho de convivência: Além do tradicional conselho de classe, estabelecer um conselho voltado especificamente para as relações interpessoais, em que representantes de cada turma se reúnem com a equipe gestora para discutir e encaminhar questões de clima escolar, conflitos e estratégias de integração. 
  1. Vivências artísticas: Oficinas de teatro, música ou artes visuais podem se tornar palco para que os estudantes externalizem emoções, aprendam a lidar com a frustração e construam coletivamente resultados artísticos, reforçando a cooperação e o respeito mútuo. 

Avaliação formativa do socioemocional 

Embora as competências socioemocionais não sejam mensuradas em avaliações em larga escala, gestores e coordenadores podem incentivar formas de avaliação formativa que envolvam rubricas de observação e autoavaliações. Nessas rubricas, aspectos como “capacidade de colaboração”, “respeito às diferenças” ou “persistência diante de desafios” podem ser observados, registrando progressos ou necessidades de intervenção (BRASIL, 2017). Esse material, aliado a entrevistas pontuais com alunos e professores, gera um panorama mais amplo de como a escola avança no trabalho socioemocional. 

O impacto na vida dos estudantes e na comunidade 

Quando as lideranças escolares se empenham em criar um ambiente que estimula o crescimento socioemocional, os reflexos ultrapassam os muros da escola. Cresce o sentimento de pertencimento, a redução de conflitos, o engajamento acadêmico e a melhora no clima de sala de aula (GOLEMAN, 1995). Além disso, pais e responsáveis tendem a valorizar mais a escola quando percebem a evolução dos filhos em termos de autocontrole, responsabilidade e empatia. 

Nesse sentido, a parceria com os familiares se faz fundamental. Gestores e coordenadores podem organizar encontros de pequenos grupos, rodas de conversa com especialistas em desenvolvimento humano, convidando as famílias a compartilharem experiências e orientações. Assim, constrói-se uma rede de apoio que sustenta e aprofunda o trabalho socioemocional. 

Gestão – A estimulante responsabilidade 

O papel dos gestores e coordenadores na promoção das competências socioemocionais é de protagonismo, pois cabe a eles não apenas integrar tais habilidades ao PPP e às práticas pedagógicas, mas também vivenciá-las e difundi-las como valores intrínsecos da cultura escolar. Um ambiente onde a equipe gestora abraça o diálogo, incentiva a criatividade e acolhe as diferenças torna-se fértil para que professores e estudantes ampliem suas potencialidades emocionais e sociais. 

Em última instância, educar para o socioemocional é uma escolha ética: ao valorizar o ser humano em sua inteireza, formamos cidadãos mais críticos, participativos e solidários. E é justamente nessa direção que as normativas brasileiras, como a BNCC e a LDB, têm avançado, sinalizando a escola como um espaço de desenvolvimento integral. Gestores e coordenadores, portanto, assumem a estimulante responsabilidade de construir, de modo coletivo, estratégias que tornem a formação socioemocional uma realidade cotidiana em nossas instituições de ensino. 

Referências 

  • BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. 
  • BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. 
  • GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. 
  • LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. 
  • PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000. 
  • PEREZ, Tereza. A Base Nacional Comum Curricular na prática da gestão escolar e pedagógica. São Paulo: Editora Moderna, 2018. 

professor Ailton Dias
Professor, estudante, filósofo, psicólogo, ator, dançarino e brincante de rua… Pessoa com sede de pessoas numa busca constante do entendimento do maior mistério da existência: o fenômeno da formação humana.  leia também Conteúdo formativo Competências socioemocionais: o segredo para formar alunos que transformam o mundo  Educador Novo Ensino Médio: Câmara aprova mudanças com carga horária flexível […]
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