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Storytelling na educação: o poder das histórias para encantar e educar 

Por Raquel Tiburski

Estimativa de leitura: 15min 13seg

26 de julho de 2024

Descubra como o storytelling na educação pode transformar a aprendizagem com narrativas envolventes memoráveis e engajadoras. 

Em um mundo saturado de informações, onde a atenção é disputada a cada clique, os métodos tradicionais de ensino enfrentam desafios significativos para manter a atenção e o engajamento dos alunos. Nesse cenário, o storytelling na educação surge como um farol, que ilumina o caminho para o aprendizado significativo e engajador. 

Imagine uma aula em que os alunos não apenas ouvem, mas também se envolvem ativamente com o conteúdo. Isso é o que o storytelling na educação proporciona. Mais do que simples contação de histórias, é uma arte de tecer narrativas que prendem a atenção, despertam emoções e transmitem conhecimento de forma memorável

Vem comigo, pois vamos desvendar alguns dos segredos do storytelling, uma ferramenta pedagógica que cativa, ilustra e conecta. 

O que é storytelling? 

Storytelling, em tradução livre “contação de histórias”, é a arte de criar e compartilhar narrativas cativantes que conectam com o público em um nível emocional. Através de personagens, conflitos e resoluções, o storytelling nos transporta para outros mundos, nos faz refletir e nos ensina sobre a vida. 

A contação de histórias transcende o mero entretenimento. Ela é uma habilidade ancestral que cativa, educa e conecta. Quem não se lembra das histórias ouvidas na infância, da leitura de um livro envolvente ou daquele filme que nos manteve grudados na tela?

Eis o poder do storytelling: uma narrativa que, quando bem contada, tem um impacto profundo e duradouro na mente humana, o que a torna um recurso valioso no contexto educacional. 

Por que usar storytelling na educação? 

O cérebro humano é naturalmente atraído por histórias. Estudos comprovam que ouvir histórias aumenta a atividade cerebral, libera dopamina (hormônio do prazer) e facilita a memorização. 

Por isso, o storytelling na educação vai além de apenas narrar eventos. Envolve um conjunto de técnicas para criar narrativas com funções específicas. Ou seja, é uma forma de ensino que potencializa a fixação e a compreensão dos conteúdos através de uma abordagem mais humana e envolvente. 

Então, ao utilizar o storytelling na sala de aula, os professores criam um ambiente mais dinâmico, no qual os alunos se sentem motivados a aprender e a participar do processo. 

Referencial teórico sobre storytelling na educação 

Diversos autores e pensadores contribuíram para o desenvolvimento do storytelling na educação, cada um com perspectivas e abordagens únicas. Curiosamente, os mais relevantes são norte-americanos. Dentre eles, destacamos: 

1. Jerome Bruner  

Psicólogo americano que defendeu a importância da narrativa na construção do conhecimento. Segundo Bruner, aprendemos melhor através de histórias que despertam nossa curiosidade e nos conectam com as informações de forma emocional. Bruner afirma que a probabilidade de memorização de uma história é 20 vezes maior do que a de informações isoladas e descontextualizadas. 

2. Joseph Campbell  

Antropólogo americano que identificou o modelo da Jornada do Herói, em seu livro O herói de mil faces. Presente em diversas culturas e utilizado em muitas histórias famosas, Campbell argumenta que essa jornada representa a busca universal do ser humano por significado e realização. Segundo ele, toda história eficaz segue um padrão, no qual o protagonista enfrenta desafios, recebe ajuda, supera obstáculos e, finalmente, alcança uma transformação. Este modelo pode ser adaptado para diversas disciplinas e níveis de ensino. 

3. Howard Gardner  

Psicólogo americano que propôs a Teoria das Inteligências Múltiplas, reconhecendo que as pessoas aprendem de diferentes maneiras. Gardner defende que o storytelling é uma ferramenta eficaz para alcançar alunos com diferentes estilos de aprendizagem. 

4. Lucy Calkins  

Educadora americana que desenvolveu o método de “Workshop de Escrita”, no qual o storytelling é utilizado como ferramenta para estimular a criatividade e a expressão dos alunos. 

5. Rita Pearson  

Educadora americana que pesquisa a relação entre leitura e storytelling. Pearson argumenta que as histórias podem ajudar os alunos a desenvolverem habilidades de leitura crítica e analítica. 

storytelling: o que é

Storytelling na prática: um guia para professores e alunos 

Professores podem utilizar histórias para ilustrar conceitos complexos, promover a interdisciplinaridade e incentivar a criatividade dos alunos. Por exemplo, ao invés de apenas explicar uma teoria científica, o educador cria uma narrativa em que um personagem enfrenta desafios e descobre soluções baseadas nos princípios dessa teoria. 

Então, storytelling, na prática, envolve criar um ambiente onde a narrativa é usada para ensinar e engajar. Veja algumas dicas para planejar e contar histórias em sala de aula. 

Planejando sua história 

1. Em primeiro lugar, é superimportante definir seu objetivo.  

Qual conhecimento você quer transmitir? Qual mensagem você quer que seus alunos levem consigo? Para escolher um tema significativo, selecione algo relevante para a matéria que você está ensinando. Pode ser um conceito abstrato, um evento histórico ou até mesmo uma situação cotidiana. 

2. Depois, conhecer seu público.  

Quem são seus alunos? Quais são suas expectativas? Isso é relevante para criar personagens e contexto. Quem são essas pessoas? Onde estão? O que estão enfrentando? Assim, é possível desenvolver personagens fictícios ou usar figuras históricas que atendam às necessidades da matéria e aos interesses dos estudantes. 

3. O próximo passo é escolher sua narrativa. 

Que tipo de história vai contar? Será uma fábula, um conto histórico, uma biografia ou uma ficção? Para construir uma narrativa, elabore uma história envolvente em torno do tema escolhido. Introduza os personagens, estabeleça o cenário e apresente um conflito ou desafio. 

4. Agora, é hora de estrutura sua história. 

Utilize o modelo da Jornada do Herói, com seus sete passos: introdução, problematização, recusa ao chamado, ajuda, superação em etapas, desafio final e conclusão. Seguindo esse modelo, incorpore a história ao conteúdo. Isto é, integre a narrativa à sua aula. Por exemplo, se você está ensinando Matemática, crie uma história em que os personagens resolvem problemas matemáticos. Se for História, imagine uma viagem no tempo com os alunos. 

5. Lembre-se de enriquecer sua narrativa. 

Utilize recursos como imagens, sons, dramatizações e debates para tornar sua história ainda mais envolvente. Se possível, utilize vídeos ou objetos tangíveis para ilustrar a história. Isso ajuda a tornar a experiência mais vívida e memorável. 

6. Não meça esforços para promover a participação ativa. 

Peça aos alunos que se envolvam na história, nem que para isso você tenha de oferecer alguns incentivos. Eles devem assumir papéis de personagens, debater soluções para os dilemas apresentados ou até mesmo criar desfechos alternativos. 

7. Por fim, reserve um tempo para refletir e discutir

Como final do processo de storytelling, promova discussões e debates para que os alunos compartilhem percepções e entendimentos. Como eles se sentiram? O que aprenderam? Como a história se relaciona com o conteúdo da aula? 

Contando sua história 

Na hora de contar sua história, lembre-se de: 

  • Dominar a arte da narração: Pratique sua dicção, entonação e linguagem corporal para prender a atenção do seu público. 
  • Criar um ambiente propício: Organize a sala de aula de forma que todos os alunos possam ver e ouvir sem barreiras ou distrações. 
  • Variar os formatos: Além de contar histórias oralmente, explore outras formas, como quadrinhos, podcasts ou até mesmo teatro. A diversidade de formatos mantém o interesse dos alunos. 
  • Explorar diferentes gêneros: Não limite o storytelling a um único estilo. Experimente contos de fadas, mitos, biografias ou até mesmo histórias de suspense. 
  • Interagir com seu público: Faça perguntas, incentive a participação dos alunos e crie um diálogo durante a história. 
  • Avaliar o impacto: Observe como os alunos reagem. O storytelling está ajudando na compreensão? Eles estão mais engajados? Use o feedback para aprimorar suas técnicas. 

Lembre-se de que o storytelling não precisa ser perfeito. O importante é criar conexões emocionais e tornar o aprendizado mais significativo. Boas histórias ficam na memória por muito tempo! 

O storytelling na educação é uma jornada contínua de aprendizado e descoberta. Experimente diferentes técnicas, explore novas narrativas e, acima de tudo, adapte as velhas e boas histórias ao nível de compreensão dos alunos e crie discussões significativas após a apresentação. 

O storytelling na educação ajuda a construir pontes entre diferentes culturas e perspectivas, enquanto promove a inclusão e o respeito à diversidade. 

Exemplo inspirador: O storytelling é bastante útil para abordar temas complexos e provocar reflexões profundas. Na sala de aula, histórias como a de Thomas Edison, cuja mãe reescreveu o “bilhete do professor” para motivá-lo, exemplificam como a narrativa pode transformar percepções e incentivar a perseverança. 

Veja esta história, de um autor desconhecido:

Bilhete à mãe de Thomas Edison. 

Certo dia, Thomas Edison chegou em casa com um bilhete para sua mãe. Ele disse: – Meu professor me deu este papel para entregar apenas a você. 

Os olhos da mãe lacrimejavam ao ler a carta e ela resolveu ler em voz alta para seu filho: – Seu filho é um gênio. Essa escola é muito pequena para ele e não tem suficientes professores ao seu nível para treiná-lo. Por favor, ensine-o você mesma! 

Depois de muitos anos, Edison veio a se tornar um dos maiores inventores do seu século. Após o falecimento de sua mãe, encontrou novamente o bilhete recebido na infância, porém o conteúdo era diferente do que sua mãe leu anos atrás. 

– Seu filho é confuso e tem problemas mentais. Não vamos deixá-lo vir mais à escola! 

Edison chorou durante horas e, depois, escreveu em seu diário: – Thomas Edison era uma criança confusa, mas graças a uma mãe heroína e dedicada, tornou-se o gênio do século. 

Sem dúvida, existem certos momentos da vida em que é necessário mudar o “conteúdo do bilhete” para que o objetivo seja alcançado. 

Thomas Edison (11/02/1847 – 18/08/1931) foi um prolífico inventor norte-americano. Apesar de não ter frequentado a escola formal, é responsável por 1993 patentes de invenções. As mais famosas são: microfone, telefone, equipamentos de telegrafia, fonógrafo, câmara de filmar, fotocopiadoras e lâmpadas elétricas incandescentes. Ele foi educado em casa, por sua mãe. 

Biógrafos e estudiosos da vida e obra de Thomas Alva Edison negam a existência desse bilhete. O que pouco importa, afinal, a relevância e a beleza dessa história são sua construção e propósito: abrir inúmeras possibilidades para o ensino e a aprendizagem, além de uma alternativa às aulas expositivas tradicionais. Um belo exemplo de storytelling na prática. 

Benefícios do storytelling em sala de aula 

Essa abordagem beneficia professores, gestores, alunos e famílias, transformando a sala de aula em um espaço de criatividade e conexão. Quando bem executado, o storytelling aumenta o engajamento dos alunos e torna a aprendizagem mais efetiva. 

Veja alguns dos benefícios de levar o storytelling para as salas de aula. 

  • Engajamento: As histórias capturam a atenção dos alunos e tornam as aulas mais dinâmicas e participativas. 
  • Multidisciplinaridade: Uma narrativa bem estruturada pode abordar conceitos de diferentes matérias, enriquecendo o aprendizado. 
  • Contextualização: O storytelling ilustra contextos e situações e, assim, torna os conteúdos mais tangíveis e relevantes. 
  • Memorização: Alunos lembram melhor quando a informação é apresentada em forma de história. 
  • Criatividade: A criação e compartilhamento de histórias estimula a imaginação e a expressão dos estudantes. 
  • Conexão com autores e filmes: Referências literárias e cinematográficas, com toda a certeza, enriquecem o repertório cultural e socioemocional dos alunos. 

Storytelling e interdisciplinaridade 

O storytelling na educação não se limita a uma única disciplina. Através de histórias bem elaboradas, é possível integrar diferentes áreas do conhecimento e, sobretudo, proporcionar aos alunos uma visão abrangente do mundo. 

Confira alguns exemplos e formatos para usar o storytelling como ferramenta educacional

  • Utilize livros e filmes! Explore histórias clássicas da literatura e do cinema para abordar diferentes conteúdos curriculares de forma integrada. 
  • Crie histórias em conjunto com a turma. Incentive seus alunos a criarem suas próprias histórias, a partir dos conhecimentos adquiridos em sala de aula. Os estimule a relacionar e incluir diferentes disciplinas em uma história. 
  • Promova concursos de storytelling. Desafie seus alunos a escrever, ilustrar ou apresentar suas próprias histórias. 

O storytelling é muito mais do que contar histórias. É uma estratégia pedagógica que conecta, inspira e potencializa o aprendizado em sala de aula. 

Exemplos de filmes e livros 

Histórias bem-sucedidas em sala de aula podem variar em formato e abordagem, mas todas têm em comum o poder de envolver os alunos e tornar o aprendizado mais significativo

O storytelling está presente em diversos filmes e livros que podem ser utilizados em sala de aula para abordar diferentes temas e conteúdos curriculares. Alguns exemplos: 

Filmes inspiradores 

  • A Cor Púrpura: Drama baseado no livro de Alice Walker, que narra a história de Celie, uma mulher negra que enfrenta a pobreza, o racismo e o sexismo no sul dos Estados Unidos. 
  • A Sociedade dos Poetas Mortos: Drama sobre um professor de literatura que inspira seus alunos a seguirem seus sonhos e a desafiarem as expectativas da sociedade. 
  • A Vida é Bela: Este filme italiano aborda temas como resiliência, amor e esperança durante o Holocausto. Pode ser usado para discutir a importância da perseverança e da positividade. 
  • O Pianista: Baseado em uma história real, este filme retrata a vida de um pianista judeu durante a Segunda Guerra Mundial. É uma oportunidade para explorar a história e a cultura desse período. 
  • Tempos Modernos: O clássico de Charlie Chaplin aborda questões sociais e industriais. Pode ser usado para discutir a Revolução Industrial e as mudanças na sociedade. 
  • Karatê Kid: Drama sobre um jovem que aprende karatê com um sensei sábio e, nessa jornada, supera medos e alcança seus objetivos. 
  • Up – Altas Aventuras: Animação sobre um senhor aposentado que realiza o sonho de sua vida ao viajar pela América do Sul com sua casa amarrada a balões. 
  • Toy Story: Aventura animada que conta a história de um grupo de brinquedos que ganham vida quando seus donos não estão por perto. 

Livros clássicos e contemporâneos 

  • O Nome da Rosa: Um romance histórico de Umberto Eco, que se passa em um mosteiro medieval, abordando questões religiosas, filosóficas e culturais. 
  • O Último Rei da Escócia: Baseado na vida do ditador ugandense Idi Amin, esse livro de Giles Foden pode ser usado para discutir política e liderança. 
  • O Senhor dos Anéis: Trilogia épica de J.R.R. Tolkien que conta a história de um hobbit que precisa destruir um anel mágico para salvar a Terra-Média. 
  • Harry Potter: Série de livros de J.K. Rowling que narra as aventuras de um jovem bruxo em uma escola de magia. 
  • O Diário de Anne Frank: Diário de uma jovem judia que se escondeu dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. 
  • Matilda: Livro de Roald Dahl sobre uma menina com poderes mágicos que enfrenta uma diretora cruel e ajuda seus colegas de classe. 

Histórias em quadrinhos 

  • Calvin e Haroldo: As tirinhas desse quadrinho podem ser utilizadas para ensinar história de forma lúdica e criativa. 
  • As Aventuras de Tintim: Essa série de quadrinhos oferece oportunidades para explorar geografia e aventuras ao redor do mundo. 

Com toda a certeza, a prática de contar histórias é uma estratégia poderosa. Inicialmente baseada na oralidade, é uma tradição que vem desde a antiguidade greco-romana, quando os trovadores transmitiam notícias, lendas e poemas através de canções. Hoje, os educadores podem usar essa abordagem para envolver os alunos, estimular a imaginação e transformar a aprendizagem pela experiência do storytelling na educação. 

O storytelling na educação 

Agora, depois das informações e abordagens deste post, tenho certeza, fica claro o potencial do storytelling como ferramenta educacional. Afinal, tem grande potencial para transformar a sala de aula em um palco de aprendizado mais dinâmico, envolvente e significativo, onde a criatividade, a colaboração e o conhecimento florescem. 

Ao utilizar histórias para transmitir conhecimento, os professores têm a chance de despertar a paixão dos alunos pelo aprendizado, estimular a criatividade, o pensamento crítico e a resolução de problemas. E, como resultado, prepará-los para os desafios do presente e do futuro

Enfim, o storytelling ajuda a construir pontes entre diferentes culturas e perspectivas, enquanto promove inclusão, empatia e o respeito à diversidade

Sócia-fundadora do superApp Diário Escola, tem expertise em negociação e liderança. Ama a filha Felícia, as cadeladies e a gata Perry.
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