Quanto maior o navio, maior a demora em se corrigir a rota.
Imagine uma sala de aula simples e funcional, situada em um edifício de arquitetura tradicional, iluminada por algumas janelas estreitas. Através delas, a luz do dia penetra, e próximo a uma das janelas, está a lousa, que ocupa boa parte da parede, contrastando com o restante da sala.
O professor está diante da lousa com giz em mãos. Ele escreve com cuidado e precisão, traçando letras cursivas que formam palavras e frases, cada traço deixando uma marca temporária e branca na superfície escura da lousa. As carteiras dos alunos estão alinhadas em fileiras, dispostas de forma ordenada em direção à lousa. Os alunos, de mesma faixa etária, estão sentados em suas carteiras, e seus olhares estão voltados para o professor, acompanhando suas palavras e as reescrevendo em seus cadernos.
A descrição feita retrata uma sala de aula típica do ano de 1710, e curiosamente, também se assemelha às nossas salas de aula contemporâneas. Isso implica que um professor recém-formado ingressará em um ambiente que evoca quase três séculos de história.
Mas por que a Educação é tão lenta em seu processo de mudança? Quais motivos levam-na a ser influenciada pelas mudanças na sociedade, e não a ser a propositora de tais novidades?
Mudança implica em movimento, em adaptação, em abandonar a previsibilidade e o conforto que os hábitos e a rotina estabelecida proporcionam, mesmo quando essas ações ocasionalmente se tornam monótonas. Essa ideia está enraizada na própria essência humana, que ao longo de milênios reduziu significativamente o estilo de vida nômade para se fixar em regiões onde pudesse cultivar e domesticar seres vivos. Resumindo, a mudança nunca se revela uma jornada simples.
Ao analisarmos a escola, percebe-se que ela é a responsável tanto por transmitir as normas sociais quanto por difundir os conhecimentos construídos por meio de processos e procedimentos solidificados ao longo do tempo. Esta percepção indica que a escola, como instituição, mantém um foco mais voltado para o passado do que para o futuro. Ela prioriza a evolução gradual em vez de mudanças abruptas, dando mais importância ao expor e preservar as regras estabelecidas, em vez de promover sua alteração. A essência educacional reside na manutenção da estabilidade e da certeza, em oposição à promoção da instabilidade e incerteza que as mudanças podem trazer. Isso é particularmente relevante quando os impactos das mudanças propostas ainda são desconhecidos e não foram explorados.1
Entretanto, semelhante a outras atividades, a Educação é suscetível a se moldar conforme as exigências da sociedade. Para viabilizar essas mudanças, uma série de fatores diversos pode contribuir, incluindo2:
— A personalização do currículo conforme as particularidades dos alunos e o contexto social em que estão inseridos.
— O papel do professor como facilitador e mentor, orientando os estudantes no enfrentamento de desafios.
— O favorecimento da atuação ativa dos estudantes, fomentando o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais que os capacitem a assumir responsabilidades, tomar decisões e buscar soluções.
— O reconhecimento dos professores como gestores do processo educativo, possibilitando uma facilitação das dinâmicas de aprendizado de todos os envolvidos.
— A integração proativa dos pais ou responsáveis no processo educativo em parceria com a escola.
— A orientação de especialistas externos para o enriquecimento das discussões sobre o processo de ensino-aprendizagem.
— O emprego das tecnologias para fortalecer a comunicação entre escola e sociedade, bem como para aprimorar a experiência de aprendizado por meio de diversos recursos.
Vários outros fatores poderiam ser citados. Entretanto, é no próprio ser humano que se alicerça a Educação. Enquanto a disposição para mudança não florescer, o processo de transformação estará estagnado, ou no mínimo, ocorrerá em passos lentos.
Na raiz reside o sustento de uma árvore. Replantar uma grande árvore de um local para outra demanda significativos recursos tecnológicos e financeiros. De maneira análoga, no contexto da Educação, o alicerce, a raiz da formação, é o próprio ser humano.
