Muitas pessoas envolvidas no processo educacional – estudantes, pais e professores, por exemplo – podem pensar imediatamente na sala de aula ao ouvirem o termo “ambiente educacional”. E isso está correto: a sala de aula é um ambiente educacional. Porém, ela não é o único.
Então, para você, o que é um ambiente educacional?
Antes de prosseguirmos com esse texto, é bom discutirmos melhor o significado de “ambiente educacional”, que pode ser entendido como qualquer ambiente em que ocorra o processo de ensino e aprendizagem, seja esse um ambiente físico ou virtual. A sala de aula e a biblioteca são exemplos de ambientes educacionais físicos, enquanto uma plataforma digital de ensino é um exemplo de ambiente educacional virtual.
Os ambientes educacionais podem ser compostos por elementos materiais e de caráter afetivo. Por exemplo, em uma sala de aula há diversos mobiliários, como lousa, carteiras, projetor dentre outros itens que correspondem a elementos materiais. Mas, nesse mesmo ambiente educacional, também há interação entre professor e estudante e entre os próprios estudantes: respeito, segurança, resiliência e outros elementos de caráter afetivo. E é claro: a variedade e a qualidade dos elementos que o compõem determinam o quanto eficaz é um ambiente educacional.
Compreendida essa ideia, responda agora outra questão: que imagem vem a sua mente quando escuta, em uma mesma frase, as palavras “laboratório” e “escola”? É comum que muitas pessoas, ao ouvirem essa questão, logo pensem em Ciências da Natureza, e visualizem mentalmente uma série de objetos e substâncias: microscópio, tubo de ensaio, manequim de esqueleto, pequenos animais conservados em frascos, líquidos coloridos etc.
Para além do laboratório de Ciências, podem existir na escola diversos outros tipos de laboratório, que se constituem também como ambientes educacionais. Por exemplo, é cada vez mais comum nas escolas os laboratórios de informática, normalmente equipados com dispositivos como computadores, tabletes, lousa digital, acesso à internet, dentre outros.
No entanto, um importante tipo de laboratório ainda é pouco explorado como ambiente educacional nas escolas: o LEM – Laboratório de Ensino de Matemática. O LEM pode ser compreendido como um ambiente educacional em que são disponibilizados materiais para o professor e para os estudantes que potencializem o processo de ensino e aprendizagem de conteúdos matemáticos. E que tipo de material deve haver no LEM?
Para essa questão a resposta é bem ampla, uma vez que podemos considerar que qualquer material que contribua com o ensino e a aprendizagem de conteúdos matemáticos pode ser disponibilizado no LEM. Por exemplo: representações de sólidos geométricos em madeira ou acrílico, trena, balança, termômetro, jogos de tabuleiro ou de cartas, ábaco, tangram, livros, instrumentos de desenho, dentre outros. Para além dos materiais manipuláveis, há também os virtuais, como jogos digitais, objetos educacionais digitais, planilhas eletrônicas, softwares de geometria dinâmica e de linguagem de programação etc.
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E que espaço físico a escola deve reservar para constituir o LEM? Uma opção óbvia é reservar uma sala especialmente para a implantação do LEM. Mas, existem outras opções mais acessíveis, como um armário onde os professores que ensinam Matemática tenham acesso e possam acondicionar os materiais, que nesse caso são levados para a sala de aula ou outro espaço quando forem ser utilizados.
Já tive a oportunidade de visitar diversas salas onde foram implantados laboratórios de ensino de Matemática, alguns deles bem amplos, equipados e modernos. No entanto, o LEM que mais me surpreendeu e cativou foi um que visitei em uma escola de Belo Horizonte (MG). Tratava-se de uma espécie de armário móvel, como um carrinho de mão. Idealizado por uma professora de Matemática, o LEM-móvel (como eu o apelidei), continha diversos jogos didáticos, que possibilitavam abordar o estudo de diferentes conteúdos (frações, porcentagem, área etc.), peças em madeira representando prismas, pirâmides e outros sólidos geométricos, fita métrica, e muitos outros materiais. Esse acervo era periodicamente acrescido de novos itens cuja necessidade surgia no decorrer do ano letivo. A ideia do LEM-móvel, a meu ver, foi sensacional por diversos aspectos: dispensa a necessidade de uma sala exclusiva, pode ser levado a diferentes salas de aulas e outros ambientes e tem um custo financeiro relativamente baixo.
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Quando se pretende criar um LEM na escola, é necessário ficar atento não apenas às questões estruturais. Tão importante quanto o espaço físico e os materiais, são os aspectos didáticos e pedagógicos envolvidos. O uso eficaz do LEM, ou seja, que traga resultados significativos no processo de ensino e aprendizagem, exige um planejamento detalhado das aulas que serão realizadas nesse ambiente educacional. As intencionalidades e objetivos pedagógicos devem estar bem definidos. Os materiais selecionados para aquela aula no LEM têm, de fato, de trazer resultados que dificilmente poderiam ser atingidos em uma aula “convencional”.
Outro aspecto a ser explorado é a possibilidade de os próprios estudantes poderem confeccionarem materiais para o LEM. Nas coleções de livros didáticos que tenho produzido mais recentemente, em especial destinadas aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, procuro inserir seções que proponham a confecção de materiais para serem utilizados no LEM, inclusive para a produção pelos estudantes; por exemplo, a construção de jogos, ábaco, tangram, garrafa medidora de capacidade e paquímetro. A confecção do material, em si, pode ser tão explorada pedagogicamente quanto seu uso posterior.
Querido leitor, vimos que há muitas alternativas para a construção de um LEM e que os benefícios para o processo de ensino e aprendizagem de conteúdos matemáticos são inúmeros. Então, seja você um educador, estudante, pai ou outro membro da comunidade escolar, cabe-me agora fazer-lhe um desafio: