O que as pesquisas nos dizem sobre novas gerações e o estigma da impaciência?

A geração Z, ou GEN-Z em inglês (lê-se “djen-zi”) tornou-se a referência de praticamente todos os esforços de Educação, trabalho e entretenimento desse momento na história. Isso porque os Gen-Z são aqueles que nasceram entre 1997 e 2012, ou seja, eles possuem entre 12 e 27 anos em 2024. Esta parcela da população já se tornou a maior parte dos trabalhadores nos Estados Unidos em 2024, mas fora isso, eles contemplam também a imensa parcela dos estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e do Ensino Superior também no Brasil. Eles estão exigindo mudanças drásticas na forma de pensar nas empresas e também quando atuam como jovens profissionais em todas as empresas.
E uma das principais alcunhas dadas às novas gerações, que se tornou de certa forma um símbolo delas, é a aceleração constante do tempo. Esta aceleração se reflete em dois aspectos quando tratamos de informação:
- Quantidade de informação consumida.
- Fragmentação da informação consumida.
Primeiro nós temos o podcast e as lives como duas das principais linguagens consumidas pelo público de 12 a 27. E por um motivo muito interessante: podcasts são considerados menos tóxicos do que alguns outros formatos. Já as lives (lê-se “laives”) ou livestreams, são conteúdo “ao vivo” e nada mais são do que pessoas jogando ao vivo e demonstrando o processo para os seguidores, geralmente seguido de comentários e suas reações. Para ter uma ideia do fenômeno, os streamers da Twitch (principal site de conteúdo ao vivo) transmitem, em média, mais de 2,5 milhões de horas de conteúdo diariamente em 35 idiomas em todo o mundo. Estas transmissões são diárias, e muitas vezes superam as quatro horas de duração. Embora não sejam tráfego de conteúdo como os podcasts, geralmente centrados em entrevistas, são escapes mentais para conteúdo alongado sobre um único tema. As causas variam, e inclusive levantam muito dinheiro, por exemplo o evento anual Z na França, que no ano passado arrecadou €10 milhões em 50 horas para causas ambientais e climáticas.

As plataformas digitais tradicionais também reconhecem esta trend, e incluíram em seus funcionamentos mecânicas condizentes, por exemplo o Instagram adicionou os stories, vídeos curtos e efêmeros, em uma plataforma que era originalmente famosa por fotografias com efeitos. Isso segue o formato de plataformas que já nasceram com a proposta de vídeos curtos, como o Snapchat (não muito famoso no Brasil), e o TikTok, famoso mundialmente. Não tardou para o Instagram inserir a opção do que chamam de reels, ou seja, vídeos curtos postados direto na timeline, não apenas efêmeros. Esta moda também se estendeu para o YouTube que inseriu o recurso chamado shorts (curtos), novamente, em uma plataforma que originalmente focava em conteúdo longo.
Mas essa aceleração de fato é um sintoma específico do nosso tempo?
Bom, a resposta curta é: Não.
A “dromocracia”, é um termo que se refere ao modelo de mundo supostamente regido pela aceleração. “Dromos” do grego, significa “velocidade”, e “cracia”: poder/controle. Este modelo de controle impositivo da aceleração, representado no termo Dromocracia, foi criado por Paul Virilio em 1977, portanto há 47 anos. A denúncia na obra era semelhante; estamos em um momento em que a aceleração é imposta pelos meios tecnológicos, e esses seguem agendas estritamente comerciais. Na verdade, para Virilio, o contrário ocorre, isto é, a velocidade como característica dessas redes representaria a própria aceleração do modelo de mercado capitalista, ou seja, a tecnologia seria um efeito colateral do modelo mental de consumo acelerado.
A cada dia na Terra, geramos 500 milhões de tweets, 294 bilhões de e-mails, 4 milhões de gigabytes de dados no Facebook, 65 bilhões de mensagens no WhatsApp e 720 mil horas de novo conteúdo adicionado diariamente no YouTube.
Esta perspectiva pode ser analisada de diversos ângulos, e a depender do recorte, ser verdadeira ou falsa. Por exemplo, se nos afastarmos dos pequenos períodos de 5 a 10 anos, podemos notar uma clara aceleração contendo os elementos de quantidade de informação e fragmentação, citados acima, ao longo do último século. É inegável que todos os seres humanos recebam, hoje em dia, mais informação e mais curta, do que no começo do século XX. A cada dia na Terra, geramos 500 milhões de tweets, 294 bilhões de e-mails, 4 milhões de gigabytes de dados no Facebook, 65 bilhões de mensagens no WhatsApp e 720 mil horas de novo conteúdo adicionado diariamente no YouTube. Entretanto, dentro desses grandes ciclos, existem ciclos menores de relação com a aceleração no consumo de informação.
É aqui que nos deparamos com um cenário inesperado. Os dados apontam um crescimento da busca por conteúdos mais longos entre os jovens da Geração Z.

Por exemplo, a pesquisa Ipsos de 2022 destaca um traço marcante da Geração Z: a disposição crescente para consumir vídeos de longa duração sobre temas que despertam seu interesse. Contrariando a suposta tendência de atenção reduzida, a busca por conteúdos mais longos está vinculada à relação com criadores de conteúdo (oficiais, como canais de notícias ou de influenciadores pessoais). Prova disso é que 61% da Geração Z se considera “grande fã” ou “superfã” de algo ou alguém, evidenciando um profundo envolvimento com suas paixões. Neste contexto, os vídeos longos, como ensaios em vídeo e conteúdo relacionado à cultura de fãs, ganham popularidade no YouTube, oferecendo uma plataforma para exploração aprofundada de temas que variam desde história e ciência até moda e filosofia. Um exemplo é Iberê Thenório, criador do canal Manual do Mundo, que conta com mais de 18 milhões de seguidores, e cujos vídeos, de cunho científico, possuem entre 15 e 20 minutos, chegando a uma hora, no formato podcast.

Apesar de terem muito acesso a vídeos curtos, segundo a Google, 59% da Geração Z demonstra um hábito peculiar: assistir a versões mais extensas de vídeos que descobrem em aplicativos de vídeo de curta duração, ou seja, eles possuem o primeiro contato pelos vídeos curtos, mas em seguida, procuram os canais para assistir as versões longas. E são longas mesmo, estatisticamente variando entre 30 minutos e uma hora!
Esta transição fluida entre formatos sugere uma inclinação natural para a busca de conteúdo mais detalhado e analítico após uma primeira exposição a conceitos de forma mais concisa.
Esta transição fluida entre formatos sugere uma inclinação natural para a busca de conteúdo mais detalhado e analítico após uma primeira exposição a conceitos de forma mais concisa. À medida que os Gen-Z se estabelecem como a principal força de trabalho nos EUA em 2024, a indústria toda, assim como educadores, devem compreender a necessidade de oferecer experiências profundas e personalizadas, alinhando-se às preferências dessa geração que moldará o futuro. Talvez, captando sua atenção com conteúdo curto primeiro, mas dando os direcionamentos para a fonte mais profunda das informações em vídeo. E claro, como a pesquisa demonstra, essa aderência tem direta relação com o grau de afinidade com o tema do conteúdo.
Esta dinâmica complexa do consumo de informação revela, por fim, uma dualidade fascinante na era digital contemporânea. Enquanto testemunhamos uma explosão ininterrupta na produção e distribuição de dados, especialmente pela Geração Z, percebemos uma surpreendente inclinação dessa geração por conteúdos mais longos e aprofundados. A pesquisa Ipsos de 2022 destaca esse fenômeno, indicando um aumento na disposição da Geração Z para consumir vídeos extensos sobre temas que despertam seu interesse, desafiando a suposição de uma atenção fragmentada. Esta busca por conteúdo longo está intrinsecamente ligada à relação estabelecida com criadores de conteúdo, evidenciando um engajamento profundo e duradouro com seus gostos.
Há também a transição fluida entre vídeos curtos e longos da Geração Z, que optam por versões mais extensas dos vídeos que viram em aplicativos de vídeo de curta duração, o que destaca uma busca natural por informações detalhadas e análises aprofundadas. À medida que a Geração Z se torna predominante na força de trabalho em 2024, compreender e atender a essa necessidade intrínseca por conteúdo significativo e personalizado, torna-se essencial para a indústria e os educadores moldarem efetivamente o futuro.