Colunistas Professor

É clima de Copa do Mundo: curiosidades sobre o torneio feminino para discutir com os estudantes 

Por Caroline Lina

Estimativa de leitura: 7min 29seg

13 de julho de 2023

Mundial feminino será disputado entre 20 de julho a 20 de agosto em dois países diferentes da Oceania

A cada quatro anos, as ruas são pintadas, camisas da seleção brasileira batem recordes de vendas, as pessoas marcam encontros para assistir a todos os jogos e até as escolas se vestem de verde e amarelo. Mas a verdade é que esse clima festivo só acontece, de fato, para o grande torneio masculino. Para a Copa do Mundo de Futebol Feminino a empolgação é um pouco diferente. 

Ou pelo menos era. O esporte feminino tem crescido bastante nos últimos anos, saindo de uma atividade amadora para uma modalidade cada vez mais profissionalizada, com investimento, visibilidade e valorização da categoria. O caminho tem sido lento, mas finalmente as mulheres estão tendo seu espaço reconhecido.  

E para mudar esse paradigma, precisamos falar – e também viver – o futebol feminino. 

Última edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, em 2019. Reprodução: Getty Images

Entre os meses de julho e agosto, acontece a 9ª edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, disputado em sede dupla no continente da Oceania: os jogos serão nos países da Austrália e Nova Zelândia. E diferente da seleção masculina, os jogos da Copa do Mundo Feminina só começaram a ser transmitidos ao vivo na televisão aberta no Brasil apenas em sua última edição, em 2019, 28 anos após o surgimento do torneio. 

A Seleção Brasileira Feminina participou de todas as edições do mundial e sonha com seu primeiro troféu. A grande aposta para o título é nesta edição, com o esquadrão sob o comando da técnica sueca Pia Sundhage. Em retrospecto, nossas mulheres conquistaram o 3° lugar em 1999, e em 2007 chegaram à final e ficaram com a medalha de prata na China.  

2023 – A maior Copa do Mundo de Futebol Feminino de todos os tempos 

Grupos da Copa do Mundo 2023; Brasil está no grupo F. Reprodução: FIFA

Além de ser realizada em dois países diferentes, essa edição será o maior evento futebolístico feminino da história: contará com 32 seleções, transmissão para mais de 150 países e com estimativa de 2 bilhões de espectadores. A premiação será recorde e somando todas as quantias pagas chega a R$ 733 milhões para times e jogadoras.  

Segundo a FIFA, todas as jogadoras serão premiadas e vão receber, no mínimo, US$ 30 mil (R$ 144 mil) podendo conquistar até US$ 270 mil (R$ 1,3 milhão) com a medalha de ouro. Os valores dessa Copa são 3x maiores do que na última edição, em 2019, e 10x acima do torneio em 2015. Já na Copa do Catar, em dezembro de 2022, foram R$ 2 bilhões (!) em premiações para as seleções masculinas. Diferença absurda, não é? 

Mas nem sempre foi assim – elas precisavam de autorização para jogar 

Para que hoje as mulheres pudessem jogar futebol e participar de grandes torneios, como a Copa do Mundo, Olimpíadas e outros campeonatos nacionais foi preciso muita luta e caminhada. Durante muitas décadas do século XX (e não, não é tão longe quanto a gente imagina), o futebol feminino foi proibido em diversos países, como Brasil, Reino Unido, Alemanha, entre outros. 

Aqui, no Brasil, Getúlio Vargas, então presidente em 1941, proibiu a prática do esporte por mulheres em todo território nacional. Foi somente em 1983, que o Conselho Nacional de Desportos regulamentou e “autorizou” a prática do futebol feminino por aqui. Foram 42 anos de violação que resultaram em um atraso no desenvolvimento, popularização e profissionalização entre as mulheres. 

19 maio 1940, no Jornal Correio Paulistano (SP). Foto: Acervo Fundação Biblioteca Nacional 

Marta – a melhor jogadora do mundo [entre homens e mulheres] 

Nem Messi. Muito menos Cristiano Ronaldo. O maior jogador, na verdade, é uma mulher: Marta Viera da Silva, brasileira, nordestina e eleita pela FIFA seis vezes como a melhor jogadora do futebol do mundo. A alagoana de 37 anos, recebeu os prêmios nos anos de 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018. E já marcou mais gols que o Pelé na Seleção Brasileira: 119 gols contra 95 do Rei.  

Marta começou no futebol profissional com 14 anos pelo time carioca Vasco da Gama e tinha apenas 17 anos quando fez sua estreia em Copas do Mundo, em 2003. Em sua trajetória já foram 20 partidas disputadas e 17 gols no torneiro, que marcam a alagoana como uma das maiores artilheiras da competição. E nesta Copa, mais quantos gols a Rainha vai anotar? 

Além de ser considerada uma das grandes referências do futebol da história, Marta ainda usa sua visibilidade para pautas importantes no esporte feminino. Ela é porta-voz para discussões de desigualdade salarial no futebol entre homens e mulheres, já que eles costumam ganhar até cinco vezes mais que as mulheres. Em comparativo, por exemplo, Neymar – o camisa 10 da Seleção masculina – ganha 125 vezes mais que a número 10 da Seleção feminina, Marta. 

Jogadoras fizeram apelo para torcedores e organizações brasileiras em 2007 por mais apoio – e só então a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou o primeiro campeonato feminino. Reprodução: FIFA 

A lenda “Formiga” – a pessoa que mais participou de edições de Copas do Mundo  

A ex-jogadora Formiga também fez história no futebol brasileiro: ela é a única atleta, entre homens e mulheres, a disputar sete edições da Copa do Mundo e a todas as edições de Jogos Olímpicos da modalidade. Além disso, a baiana de 45 anos, chegou a defender a Amarelinha em 233 jogos disputados e 37 gols marcados. 

Baiana da cidade de Salvador, Formiga é recordista e participou de sete edições da Copa do Mundo Feminina. Reprodução: FIFA

Pela primeira vez – agora elas também têm trajes de apresentação 

A chegada dos jogadores à concentração, seja nos estádios ou em hotéis, e as passagens pelo aeroporto são sempre marcadas pelos trajes muito bem alinhados de todo o time, com ternos de alta-costura e muita elegância. Momento até muito esperado pela imprensa e público, marcando o nome de estilistas, e conferindo poder e confiança aos jogadores. Mas as jogadoras da Seleção Feminina não tinham o mesmo cuidado e sempre se apresentaram com roupas esportivas, como calça e agasalho.  

Nessa edição do torneiro, o Brasil embarcou para a Oceania com trajes feitos sob medida para todas as convocadas pela primeira vez na história. As roupas foram desenvolvidas por uma marca feminina e contou até com a participação das meninas no processo de criação. A roupa social feita em alfaiataria tem a cor azul clara e respeita a individualidade de cada jogadora. 

Antônia Silva, zagueira do Brasil, disse em uma entrevista, que esses trajes não são um fator que vai mudar algo que elas vão fazer dentro de campo. “Mas isso também dá um gás e demonstrar que a gente merecia já isso há muito tempo atrás e não só agora”, comenta.  

Jogadoras brasileiras foram para o Mundial trajadas com roupas exclusivas. Reprodução: CBF

Por falar em roupa… – elas nem sempre tiveram uniformes 

No torneio da Copa do Mundo de 1999, que aconteceu nos Estados Unidos, a seleção brasileira não tinha sequer uniforme próprio e as jogadoras tiveram que usar o que tinha restado do time masculino. Agora, o novo uniforme da seleção feminina de futebol conta até com tecnologia de ponta para prevenir que escapes durante a menstruação aconteçam. 

Com referências à biodiversidade brasileira, a roupa de jogo vem com o brasão do Brasil sem nenhuma estrela. Na última edição da Copa, as meninas jogaram com o brasão de 5 estrelas, que celebra as conquistas da seleção masculina de futebol. E como as amarelinhas ainda não conquistaram o título mundial, a ideia aqui é que a seleção feminina escreva a própria história e, aos poucos, rechearem o brasão com estrelas também.  

Reprodução: CBF

Não falta apenas um título de Copa do Mundo para que o futebol Feminino seja enfim equiparado não só em valores financeiros, mas também em respeito.  Ligado a história de um passado repleto de desvalorização e com preconceitos dentro e fora de campo, o futebol feminino vive boa fase, mas ainda está longe de viver seu auge. Para isso, precisamos falar sobre o futebol feminino, incentivar a prática do esporte pelas garotas na escola desde os primeiros passos, e principalmente, combater estereótipos e falas machistas sobre a modalidade. 

A caminhada é longa, mas não impossível. BORA, BRASIL! 

Caroline Lina
Editora, jornalista e especialista em Marketing pela USP. É baiana, mas vive em São Paulo. Adora literatura, esportes, cultura e latinidades.
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