Em 21 de abril de 2025, um dia após a celebração da Páscoa, a Igreja Católica e o mundo se despedem de um líder que personificou a esperança e a misericórdia: o Papa Francisco. Não poderia ser diferente, considerando o peso simbólico da data e do Papa!
Desde sua eleição em 13 de março de 2013, o cardeal Jorge Mario Bergoglio trouxe um novo espírito ao papado, caracterizado por um acolhimento caloroso, especialmente para os jovens, os mais pobres, os imigrantes e todos aqueles que se sentiam marginalizados. Seu pontificado foi marcado por um diálogo aberto e sincero com pessoas de todas as crenças, um chamado à humanização da sociedade e uma paixão inabalável pela justiça social e ambiental.
Francisco nos ensinou a importância de construir pontes, não muros, e de ver o rosto de Cristo em cada pessoa, independentemente de sua origem ou crença. Seu legado na educação católica, em particular, é um testemunho de sua visão transformadora e de seu compromisso com um mundo mais justo e fraterno.
Um Chamado à União: O Pacto Educativo Global
No cerne do legado de Francisco encontra-se sua preocupação com a educação integral da pessoa humana. Nessa perspectiva, mostrando seu comprometimento com um projeto de conversão pessoal e social, lançou, em 2020, no difícil ano em que explodiram os casos que transformaram a Covid-19 em uma das mais dolorosas páginas do século XXI, o Pacto Educativo Global. Em um mundo assolado por divisões e desigualdades, ele convocou educadores, famílias, líderes religiosos e a sociedade civil a se unirem em um pacto para criar uma educação mais inclusiva, justa e humana.
O pacto não se limita a um programa, mas é um convite para repensar o paradigma educacional, colocando a pessoa no centro do processo de aprendizagem, uma proposta de tomada de consciência daquilo que cada educador e cada educando pode de fato construir em seu cotidiano. No documento, atento aos sinais dos tempos, preconizou uma reparação na educação das meninas e da valorização das mulheres também no universo da ciência. Francisco promoveu a cultura do encontro, o diálogo intergeracional e o respeito pela diversidade, deixando um legado duradouro para as futuras gerações.
A Urgência da Consciência: Educação para o Cuidado da Casa Comum
A preocupação ambiental do Papa Francisco, expressa nas duas encíclicas sobre o meio-ambiente, “Laudato si” e “Laudato Deum”, moldou seus doze anos de pastoreio. Nas cartas, o pontífice convidava toda a sociedade humana a cuidar da nossa “Casa Comum”, reconhecendo a interconexão de todas as formas de vida e a necessidade de um estilo de vida mais sustentável e comprometido com a preservação de todas as formas de vida no planeta. Sua perspectiva se traduziu em uma educação que promove a consciência ecológica, o respeito pela natureza e a responsabilidade pelas futuras gerações.
Neste sentido, garantiu amplitude ao conceito ecologia, elevando-o ao patamar de ecologia integral, inserindo o ser humano como parte do ambiente e da criação, e responsável macro pelo equilíbrio e manutenção da vida no planeta.
No entendimento de Francisco, a educação para o cuidado da casa comum é um chamado à ação, um convite a repensar nossos valores e hábitos em busca de um futuro mais justo e equilibrado.
Construindo Pontes: A Perspectiva da Teologia do Encontro na Educação
A teologia do encontro do Papa Francisco permeou sua atividade pastoral, convidando-nos a sair de nossas zonas de conforto e a dialogar com aqueles que são diferentes. A educação, sob essa perspectiva, se torna um espaço privilegiado para o diálogo, onde jovens de diversas origens podem aprender a se respeitar e a colaborar com a construção de novas possibilidades para o mundo. O encontro com o outro, para Francisco, é uma oportunidade de enriquecimento e crescimento mútuo.
Restaurando Laços: Humanidade e Fraternidade como Horizonte Educacional
Em um mundo fragmentado, Francisco nos lembrou da importância de restaurar o sentido de humanidade e fraternidade. A educação, segundo ele, deve construir uma sociedade mais justa e solidária, onde todos se sintam acolhidos. Ele nos convidou a cultivar a empatia, a compaixão e a responsabilidade social, formando cidadãos engajados na construção de um mundo melhor. Promoveu uma pedagógica do profundo e do silêncio, das responsabilidades consigo e com o outro na permanente busca da promoção humana. Neste sentido, mais do que nunca, a palavra solidariedade ganhou destaque de forma direta ou indireta em seu discurso: não há caminhos, separações, dicotomias, escolhas que permeadas por solidariedade não sejam conduzidas a bom termo e a novas trajetórias.
A Alma das Palavras: O Incentivo à Literatura na Formação Integral
A recente carta do Papa Francisco sobre a importância da literatura na formação humana reforça seu compromisso com uma educação integral. Ele reconheceu o poder da literatura de nos conectar com nossa humanidade, fazer refletir sobre os grandes temas da vida e inspirar a buscar a verdade, a beleza e o bem. A literatura, para Francisco, é um instrumento essencial para cultivar a imaginação, a criatividade e o senso crítico.
Um Legado de Esperança: A Educação como Agente de Transformação Mundial
O legado de Francisco para a educação católica é um chamado à transformação, um convite a repensar nossos paradigmas e a construir um futuro de esperança e humanidade.
Através do Pacto Educativo Global, da preocupação ambiental, da teologia do encontro, da restauração da humanidade e fraternidade e do incentivo à literatura, ele nos inspirou a ver a educação como um instrumento poderoso de transformação social e pessoal.
Seu legado é um convite para que cada educador, pai, aluno e membro da sociedade se torne um agente de transformação, construindo um futuro em que a educação seja sinônimo de esperança, justiça e amor.
Este conteúdo foi desenvolvido em parceria com Celia Bitencourt, da Consultoria Institucional FTD Educação.