Há um tempo para todas as coisas.
Quase todos já ouviram a expressão “dar tempo ao tempo”, especialmente quando estamos diante de um momento difícil. Existe sempre aquela voz de um amigo, um familiar ou alguém que cuida da gente dizendo “Calma, tudo tem seu tempo”.
Mas afinal de contas, a que nos referimos quando usamos essa palavra tão preciosa ‘tempo’? Longe de ser algo único como um objeto, o tempo é uma das experiências mais subjetivas que nós, humanos, vivemos.
Diferente de plantas e animais, nos desconectamos do tempo real da natureza e cada vez mais tem sido assim. As plantas se abrem e se fecham de acordo com os ciclos naturais. Há aquelas que se abrem à noite, como a Dama da Noite, há aquelas que não se abrem nunca, mas permanecem, como os cactos e as leguminosas, e existem aquelas que se abrem pela manhã.
Percebemos com muita magia os ciclos naturais dos seres vivos, como os animais, com suas trocas de pelos ou escamas, mas facilmente esquecemos que fazemos parte dessa mesma natureza. Isso porque usamos sapatos e nos desconectamos da terra, utilizamos roupas e nos desconectamos da temperatura natural dos ventos, do calor, do frio, utilizamos luz artificial e nos desconectamos da claridade do dia.
É claro que muito do que se conquistou em termos civilizatórios e tecnológicos vem devido à essa capacidade tão humana de manusear os recursos externos e internos. O tempo é algo construído pelo ser humano, que desconectado, em certo modo, da natureza, maneja a vida de acordo com o seu tempo, nem sempre com maestria e nem sempre com o controle que gostaríamos.
Existe o tempo da dor, esse passa lentamente. Pense em um minuto com uma unha encravada, pense uma hora com dor de barriga. O tempo da dor não passa, parece paralisado, como se o ponteiro do relógio espetasse aquilo que nos machuca, fazendo-nos ficar de mal com a vida. Existe o tempo da felicidade, parece uma criança brincando no relógio, acelerando, sentimos que o tempo nos escapa. E como é triste perceber que justamente diante da felicidade, o tempo se torna fugaz, veloz, atroz.
Existe o tempo da mãe, que possui vários relógios concomitantes. Há o tempo do filho, o tempo da escola das crianças, o tempo do seu trabalho, o tempo da casa, o tempo dos pais do marido, o tempo dela própria, do supermercado, relógios que se conectam e às vezes se colidem.

Vem daí boa parte da exaustão da mãe moderna, que sente uma dificuldade enorme de equilibrar tantos relógios. Mesmo que se diga que as relações entre homens e mulheres estão mudando, estamos ainda longe de conquistar uma sincronia lógica ou cronológica nos afazeres domésticos.
Existe o tempo das conquistas, esse é o tempo que nos motiva, que nos impulsiona, que nos direciona, o tempo que significa nossa vida, haja vista que diversos estudos comprovam que quando temos uma meta clara, um objetivo de vida consistente, o tempo da vida parece ganhar um sabor especial, afinal de contas, cada minuto tem um significado diferente.
Existe o tempo da saudade. Este é um misto agridoce de sentimentos, pois a saudade é a presença que pede por mais, dentro de nós mesmos. O tempo da saudade urge quando do nada surge para dentro de nós o amor que já existe em nossos corações. Clama pela presença da pessoa, esteja ela próxima ou distante, viva ou não.
Esse tempo é bastante singular, pois nos remete ao passado do que foi, com sua preciosidade, nos remete ao futuro do que virá ou do que poderia ser, mas se faz ainda mais intenso no presente, trazendo a doçura da presença da falta e ao mesmo tempo, a dor da ausência.
Existe o tempo do arrependimento, aquele que gostaríamos de ter um poder mágico de girar o ponteiro do relógio para a esquerda, para voltar a oportunidade perdida, a palavra mal falada, a atitude mal colocada.
Existem muitos tempos e muitos relógios dentro de nós e de nossas mentes, em nossos corações, em nossas almas. Aprender que não vivemos no cronológico e sim no tempo lógico, no tempo simbólico, no tempo significativo de nossas próprias vidas é um ingrediente fundamental para o autoconhecimento, pois como diz o ditado “a palavra falada, a oportunidade perdida, a emoção não vivida não voltam atrás”.
O tempo do passado, quando nos esquecemos de nos apropriar das lições, das memórias, de nosso patrimônio afetivo, pode nos encerrar na tristeza, na amargura e até na depressão. O tempo, quando ancorado no futuro, nos traz ansiedade.
Há quem diga que quando vivemos o tempo presente, acabam-se os problemas, acabam-se os dilemas, acabam-se as dores, pois quando abraçamos o real, percebemos que há apenas a vida nos perguntando a cada momento do que somos feitos.
Se lembrarmos da natureza, podemos perceber que assim como o planeta Terra, nosso próprio corpo também é composto, em sua maior parte, de água. E nada mais nos lembra da natureza transitória de tudo, do que justamente esse composto tão mágico que é a água.

Quando se exploram planetas, galáxias, corpos celestes distantes, um dos maiores sinais da vida é a percepção da presença de água. Podemos então lembrar que se pudermos molhar um pouco mais a nossa imaginação e perceber que tudo passa, tudo muda, poderemos aproveitar melhor os momentos, percebendo que tanto a dor é passageira e poderá sim nos ensinar algo, como as alegrias.
Então, poderemos aproveitá-las melhor, sabendo que nada é para sempre. O ponteiro do relógio nunca para de andar para a direita, ele passa em diversos ritmos e com diversos sussurros nos ensinando sobre a riqueza da transitoriedade da vida.
Assim como a água, podemos aprender a fluir melhor, podemos aprender a ter um pouco mais de paciência diante dos sofrimentos que inevitavelmente nos visitam, mas podemos também, utilizando da mesma fluidez, molhar nossos corações e nosso olhar diante da vida. Afinal de contas, o tempo é uma criação humana.
Que tal então nos conectarmos com o tempo que pulsa dentro de nós e entre nós? É no encontro do ser humano com a vida e com outros humanos que se constrói o tempo das nossas preciosas emoções. Que essas palavras tragam um pouco de carinho, cor, conforto e sabor à sua vida. Dê tempo ao tempo. Dê vida ao seu tempo enquanto ainda é tempo.