Confira a entrevista com Ana Luiza Mendonça, professora de francês, e veja como um novo idioma pode abrir portas para novas possibilidades.
Não me lembro bem ao certo quando o desejo de falar outra língua surgiu, mas lembro de me sentir encantada pelas palavras desde a infância.
Foi a partir daí, da curiosidade de saber por que os objetos tinham os nomes que tinham, que comecei a procurar mais palavras além do português e mais tarde, sentir vontade de fazer um pouco mais com elas. De lá para cá, saber falar outros idiomas me abriu muitas portas na vida pessoal e também profissional.
O desejo de falar uma nova língua carrega também muitos outros desejos: O de ampliar suas possibilidades, de ter uma nova versão de si, de calçar os sapatos de alguém distante de você e, através do idioma, viver e sentir um pouco do que os outros sentem.
Hoje, posso dizer que aprender idiomas não só me proporcionou oportunidades, mas me mostrou uma nova eu. E descobri que a sensação de construir uma nova personalidade ao falar uma nova língua, antes vista como mito, já foi comprovada em pesquisas científicas.
Essa jornada de estudo de idiomas me apresentou à Ana Luiza, professora de francês há 8 anos e com quem tive minha primeira experiência estudando o idioma. Ela fala, – além do português -, francês, inglês, libras e também um pouco de alemão.
Aos 31 anos, Ana já coleciona muitas experiências incríveis que só puderam acontecer porque ela ouviu aquela voz dentro de si que queria abraçar um pouco mais do mundo.
>> Como surgiu esse interesse e quais as maiores mudanças que sentiu em você mesma desde que começou a estudar idiomas?
Acontece com muitas pessoas, e foi o meu caso, de querer aprender línguas por gostar do mundo, querer conhecer o mundo. Desde a adolescência, quando eu tive essa curiosidade, foi muito por esse motivo. Tem algumas coisas únicas de cada língua que fazem a gente perceber muitas coisas, por exemplo: como os nomes das coisas e as palavras foram criadas.
Em português a gente tem as palavras maçã e batata. Em francês, a gente tem apenas pomme, para maçã, e a batata seria uma pomme de terre. A partir daí, você vai criando conexões que não existiam antes. Acho também que cada língua é uma porta para mais línguas. Por exemplo, peguei um voo de uma empresa holandesa e consegui entender várias palavras porque o holandês parece um pouco o alemão.
Quando eu fazia intercâmbio na França, viajei para a Itália e apesar de não saber falar, entendi bastante do que ouvia.
>> Quais experiências de vida você teve que só aconteceram devido ao aprendizado de idiomas?
A porta para ser professora foi uma delas, que se abriu para mim com muita naturalidade. Eu estudava arquitetura na época, que é um curso bem corrido, mas arranjava sempre um tempinho para estudar o francês com muita tranquilidade. O inglês também, mas acabei gostando mais do francês e acabou sendo algo que dominou minha vida. E eu acho maravilhoso! (Risos) Realmente adotei essa profissão.
A primeira experiência foi o intercâmbio que fiz em 2013, pelo Ciências sem fronteiras. Tive a opção de vários países, inclusive Portugal, mas escolhi a França porque já vinha estudando a língua há 3 anos. Depois de alguns anos, tive a oportunidade de participar de um evento financiado pela União Europeia, para pessoas com deficiência, em Strasbourg. Era um evento sobre capoeira como uma forma de integração na sociedade. Uma oportunidade que só tive a chance de ter pelo conhecimento de francês e da língua de sinais juntos.
No ano passado, fiz um intercâmbio voluntário na Alemanha pelo Worldpackers, em que trabalhei num Hotel. Lá perguntei bastante para conseguir me comunicar e levei a viagem como uma verdadeira imersão na cultura e na língua. Alemão é uma língua que achei bem difícil, mas faz parte também, foi uma experiência (Risos). E agora, consegui uma bolsa de um curso para professores de francês promovida pela embaixada francesa, que vai acontecer em Vichy, na França. Vou no próximo mês e estou bem animada!

>> A familiaridade com o português foi uma vantagem significativa ao aprender um novo idioma? Como foi essa relação?
A gente tem uma vantagem enorme de ter uma língua latina como o português! É uma estrutura de verbo e sujeito muito parecida com o Francês, por exemplo, e eu gosto de fazer essas conexões para que a gente tenha uma naturalidade maior se comunicando. No caso do francês, italiano e espanhol, principalmente, ajuda muito! Mas para o inglês também, 30% do vocabulário do inglês vem do francês. Já o alemão foi uma língua que tive muito mais facilidade pelo conhecimento do inglês, apesar de serem superdiferentes já dá uma ajudinha. Inclusive, português é uma língua muito difícil e complexa, então já temos essa “sorte” de nascer falando um idioma que traz essa complexidade importante para o conhecimento de outras línguas.

>> Como professora, como você vê o papel do multilinguismo na formação cultural e na ampliação de perspectivas?
Uma coisa que acho muito boa em estudar línguas é ter acesso a conteúdos que você não tem na sua língua materna. Nas aulas, assisto com meus alunos muitos vídeos, debatemos. Recentemente, vimos um vídeo sobre um escritor africano e pensei que em português não encontraria nem uma matéria online sobre ele. Conhecer outros idiomas te faz ter acesso a um mundo de conhecimento, amplia muito essas possibilidades. É também graças às línguas que tenho amizades no mundo todo! Fiz uma amiga húngara que conheci na Alemanha, uma amiga grega que conheci no intercâmbio e muitos outros. Sem contar músicas, filmes, livros… A literatura de outros países é incrível e ler as obras originais é sempre muito interessante. Ver um filme sem legendas é muito gostoso, ouvir uma música e entender a letra também.
Gostou da entrevista? Por aqui, espero que essa conversa tenha te inspirado a estudar um idioma!