Quais os impactos dos jogos no cérebro das crianças e adolescentes? Entenda como o vício em jogos afeta a saúde mental dos adolescentes e descubra estratégias para uma abordagem equilibrada.
No cenário atual do entretenimento, os videogames têm exercido uma influência significativa sobre os adolescentes brasileiros. Esses jogos não são apenas uma forma popular de passatempo, mas também se integraram profundamente na cultura jovem, gerando tanto fascínio quanto preocupações entre pais, educadores e profissionais de saúde mental.
No Brasil, uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que 85% dos adolescentes jogam videogames, com 28% desses jovens atendendo aos critérios do Transtorno de Jogo pela Internet (TJI).
O TJI é caracterizado pelo uso excessivo de jogos que prejudica outras áreas da vida, como o desempenho escolar e as atividades sociais, e que causa abstinência quando os jogos são retirados (Jornal da USP, 2023). Este dado sublinha a necessidade de considerar os riscos associados ao uso intensivo de videogames.
Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry revela que 0,3% a 1% da população juvenil mundial sofre de TJI. Em países com altos níveis de acesso a videogames, como os EUA e o Brasil, as taxas podem ser ainda maiores devido ao uso intensivo e à falta de regulação (American Journal of Psychiatry, 2022).
Este artigo explora os diversos efeitos dos jogos na saúde mental dos adolescentes no Brasil, avaliando tanto os aspectos positivos quanto os desafios associados.
Por meio da análise de pesquisas e dados relevantes, entenderemos a complexidade do impacto dos videogames na saúde mental dos jovens e ofereceremos orientações para uma abordagem equilibrada e informada.
Quais são os impactos positivos dos jogos de videogames na saúde mental dos adolescentes?
Antes de discutirmos os possíveis danos, é importante reconhecer também os benefícios dos videogames.
Além de serem uma fonte de entretenimento, os jogos podem servir como uma plataforma para interação social. Eles criam comunidades virtuais onde os jogadores colaboram em tarefas comuns, oferecendo uma oportunidade de conexão em um cenário de crescente solidão social. Isso é particularmente valioso em um país como o Brasil, onde a interconexão social pode ser facilitada através de plataformas digitais.
Os jogos de videogames também têm mostrado potencial em áreas como a educação e a reabilitação. Alguns estudos indicam que jogos educativos podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como a atenção e o raciocínio espacial.
Embora a extensão desses benefícios para a vida real ainda esteja sendo estudada, há evidências de que jogos bem projetados podem melhorar a capacidade de concentração e resolução de problemas (Revista Brasileira de Psicologia, 2022). Além disso, videogames têm sido utilizados com sucesso em contextos médicos e terapêuticos.
Jogos têm sido empregados para ajudar pessoas com doenças degenerativas a melhorar o equilíbrio e a coordenação motora, bem como para auxiliar adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) a aprimorar habilidades cognitivas e de controle executivo (Universidade Federal de São Paulo, 2021).
Esses usos especializados demonstram o potencial dos videogames como ferramentas valiosas em contextos terapêuticos e educacionais.
Vício em jogos e os impactos negativos para a saúde mental dos adolescentes
1. Dependência e comportamento compulsivo
O uso excessivo de jogos de videogames pode levar a comportamentos compulsivos e dependência. Estudos mostram que uma parcela significativa dos adolescentes, especialmente no Brasil, pode desenvolver o Transtorno de Jogo pela Internet (TJI).
Esse transtorno é caracterizado por uma obsessão pelos jogos que prejudica outras áreas da vida, como o desempenho escolar e a vida social. A necessidade constante de jogar e a irritabilidade ao ser privado dos jogos são sinais claros de dependência.
2. Impacto no desempenho acadêmico
Estudo da American Psychological Association (APA) relatou que adolescentes que passam mais de 3 horas por dia jogando videogames têm maior probabilidade de ter um desempenho acadêmico inferior. A pesquisa sugere que o tempo excessivo de tela pode reduzir a atenção e a capacidade de concentração, impactando negativamente o desempenho escolar (APA, 2021).
Pesquisadores da Universidade de Iowa encontraram uma correlação entre o tempo excessivo de jogo e notas baixas. Os adolescentes que jogam por mais de 2 horas diariamente mostram uma redução significativa nas notas de matemática e leitura (Journal of Educational Psychology, 2022).
3. Exposição à violência e ao comportamento agressivo
Muitos videogames contêm conteúdo violento, o que pode influenciar o comportamento dos adolescentes. A exposição prolongada à violência virtual pode dessensibilizar os jovens à agressão e aumentar a propensão para comportamentos agressivos na vida real.
A APA identificou uma relação entre a exposição a jogos violentos e o aumento da agressividade em adolescentes. A pesquisa revelou que jovens expostos a conteúdo violento tendem a apresentar comportamentos mais agressivos e a ter menos empatia em comparação com aqueles que jogam jogos não violentos (APA, 2022).
Um estudo conduzido na Universidade de Michigan afirma que adolescentes que jogam videogames violentos têm uma maior tendência a exibir comportamentos agressivos e a mostrar uma menor capacidade de controlar impulsos (Journal of Adolescence, 2021).
4. Implicações sociais
O isolamento social é uma preocupação significativa. Adolescentes que passam longas horas jogando podem se distanciar de interações sociais reais, preferindo o ambiente virtual. Isso pode afetar suas habilidades sociais e levar ao isolamento, diminuindo a qualidade das relações interpessoais e a capacidade de lidar com situações sociais complexas.
Pesquisa realizada pela Universidade de Oxford indicou que adolescentes que passam mais de 4 horas diárias jogando videogames apresentam níveis mais altos de isolamento social e menor habilidade em interações sociais comparados aos que jogam menos (Journal of Social and Clinical Psychology, 2022).
5. Impacto na saúde física
O sedentarismo associado ao uso excessivo de videogames pode ter efeitos negativos na saúde física dos adolescentes, incluindo problemas como obesidade e má postura. A falta de atividade física e o tempo prolongado sentado contribuem para uma série de problemas de saúde que podem afetar o bem-estar geral.
Uma pesquisa da Universidade de Wisconsin revelou que o tempo excessivo dedicado a videogames pode levar a um isolamento social, reduzindo a participação em atividades comunitárias e a qualidade das interações face a face (Developmental Psychology, 2021).
Conclusão
Os dados mostram que os videogames têm um impacto considerável na saúde mental dos adolescentes, gerando efeitos tanto negativos quanto positivos. Entre as preocupações negativas estão a dependência e o comportamento compulsivo, o impacto no desempenho acadêmico, a exposição à violência, as implicações sociais e os problemas de saúde física.
Por outro lado, os videogames oferecem valiosas oportunidades para o desenvolvimento cognitivo, a estimulação da criatividade, a socialização e o alívio do estresse.
Adotar uma abordagem equilibrada e informada é essencial para maximizar os benefícios dos videogames enquanto se mitigam os riscos, promovendo assim uma experiência saudável e enriquecedora para os adolescentes.
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