filme Adolescência
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Adolescência sem cortes: Você está vendo mesmo seu filho? 

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 6min 44seg

27 de março de 2025

A minissérie Adolescência, da Netflix, não é apenas um suspense envolvente filmado em impressionantes planos-sequência. É, acima de tudo, um espelho — por vezes doloroso — de como olhamos (ou deixamos de olhar) para nossos filhos adolescentes.

No centro da trama está Jamie Miller, um garoto de 13 anos envolvido em uma investigação policial. Mas não é só Jamie que está sendo investigado. Nós também somos. Como pais, mães, responsáveis, educadores. A lente da série escancara a falta de escuta, o silêncio das emoções, os ruídos de uma comunicação truncada dentro de casa. 

Filmar sem cortes é uma escolha técnica ousada. Mas, simbolicamente, é também um convite: ver a adolescência sem pular cenas. Sem atalhos. Sem apertar o botão de avançar. Observar o detalhe. A nuance. Aquilo que se esconde por trás de uma resposta curta, de um olhar baixo, de um “tá tudo bem” automático. Porque, no fundo, o que mais falta aos adolescentes não é liberdade ou acesso, mas detalhamento. Presença detalhada. Escuta que repara. Cuidado que enxerga. 

Na era das relações rápidas e das mensagens instantâneas, é fácil perder de vista a profundidade. E a adolescência é, por definição, um mergulho profundo em emoções turvas, identidades em construção e dilemas silenciosos. Adolescência, a série, expõe o que muitas famílias vivem: o distanciamento gradual que pode se transformar em abismo se não for percebido a tempo. 

Inteligência emocional: um mapa em construção 

Os adolescentes não nascem prontos. Estão sendo moldados — pelo mundo, pelas redes, pelas escolas, mas sobretudo, pelas relações mais próximas. O desenvolvimento da inteligência emocional nessa fase não depende apenas de boas orientações ou palestras escolares, mas da convivência com adultos emocionalmente disponíveis. Jamie, o protagonista da série, carrega em seus gestos toda a confusão de um menino que precisa ser ouvido com mais profundidade. Quantos “Jamies” estão por aí, sentados à mesa, no sofá da sala, esperando um olhar que vá além do superficial? 

É por isso que o detalhamento importa. Porque só quem se aproxima com respeito e sensibilidade consegue perceber os sinais do sofrimento — que nem sempre são gritantes.  

Como bem aponta o psicólogo Aender Borba, mestrando em Ciência da Religião pela PUC-MG, “a adolescência é um tempo de transformações intensas, uma fase marcada pela busca de identidade e pertencimento. No entanto, essa jornada muitas vezes se desenrola de forma silenciosa, com dores não verbalizadas e angústias que passam despercebidas pelos adultos ao redor. A série Adolescência, da Netflix, nos confronta com esse cenário ao apresentar um jovem envolvido em uma situação extrema, desafiando-nos a enxergar os sinais sutis do sofrimento emocional”. 

Segundo o psicólogo, os adolescentes não costumam expressar sua dor de forma direta. “Em vez disso, sua angústia pode se manifestar em pequenas mudanças de comportamento: isolamento repentino, alterações no padrão de sono, oscilações no desempenho escolar ou na forma como interagem nas redes sociais. No entanto, esses sinais são frequentemente interpretados como ‘drama’ ou ‘rebeldia’, quando na verdade podem indicar uma busca desesperada por reconhecimento e apoio”. 

Educação midiática: um pacto geracional 

A série Adolescência também toca em feridas urgentes: o bullying, a exposição nas redes sociais, os julgamentos instantâneos. Em um mundo em que adolescentes estão constantemente conectados, é impossível educar emocionalmente sem falar sobre mídia. E aqui está o ponto: educação midiática não é só sobre saber usar a tecnologia, mas sobre desenvolver consciência crítica, empatia digital e responsabilidade na exposição do outro. 

Pais e responsáveis precisam se engajar nessa conversa. Não como censores ou controladores, mas como aprendizes junto com seus filhos. Estar disposto a ouvir, perguntar, debater sobre o que se vê, consome e compartilha on-line é parte essencial do cuidado. Afinal, como proteger emocionalmente um adolescente se não entendemos o universo simbólico e social no qual ele está imerso?  

Conforme Aender Borba, “assuntos como bullying, violência e os perigos das redes sociais são inegavelmente delicados, mas transformá-los em tabus, ou padrões psicopatológicos de monstruosidade, ou discursos moralistas apenas amplia a distância entre pais e filhos. Em vez de interrogações inquisitivas, o caminho pode estar em um diálogo que parte da curiosidade genuína: ‘O que você pensa sobre isso?’, ‘Como você se sente quando vê esse tipo de situação?’. Quem sabe essas perguntas não surjam ao assistir essa série juntos, inclusive? Abertura e acolhimento são chaves para que o adolescente se sinta seguro para compartilhar suas vivências sem medo de punição ou reprovação”. 

Os desafios na relação entre pais e filhos 

Um dos grandes desafios da parentalidade na adolescência é encontrar o equilíbrio entre presença e respeito ao espaço. Os filhos crescem, e junto com eles, cresce a necessidade de autonomia. Mas essa autonomia não significa abandono. Estar perto não é sinônimo de vigiar, mas de oferecer segurança afetiva. É garantir que, mesmo em meio ao caos hormonal e às dúvidas existenciais, o adolescente saiba: “meus pais são meu porto”. 

Detalhar a relação significa criar espaços de escuta ativa, onde o adolescente possa expressar suas emoções sem medo de julgamento. Significa também, muitas vezes, deixar o celular de lado, pausar a rotina corrida e simplesmente estar. Não para consertar, mas para acolher. Para que os filhos não precisem cometer erros graves para finalmente serem notados. 

Aender Borba comenta que “um dos erros mais comuns dos pais é tentar resolver o sofrimento do adolescente com soluções pragmáticas, sem antes compreender sua experiência subjetiva. Muitas vezes, na tentativa de ajudar, os adultos impõem conselhos, minimizam a dor do jovem ou exigem respostas imediatas. Isso pode gerar um distanciamento ainda maior, pois o adolescente se sente incompreendido ou pressionado a se ajustar a expectativas externas. A escuta ativa e empática é uma ponte essencial para o diálogo verdadeiro. Isso significa estar presente sem exigir confissões sob ameaça, demonstrar interesse sem invadir e sem invalidar as emoções do adolescente com julgamentos desproporcionais”.  

Em outras palavras, antes de tentar oferecer soluções, é fundamental que os pais aprendam a ouvir de forma genuína, respeitando o tempo e os sentimentos dos filhos, pois só assim se constrói uma base sólida de confiança e conexão emocional. 

“Na era digital, onde as redes sociais funcionam como palco de autoafirmação, a presença emocional dos pais se torna ainda mais essencial. Mais do que restringir o uso da tecnologia, é necessário construir um vínculo afetivo que dê ao jovem um referencial seguro fora das telas. A autoestima e o senso de pertencimento não se fortalecem pelo controle, mas pela segurança de saber que há um porto seguro na relação com seus pais”, conclui Aender Borba. 

Ver com o coração 

No fim, Adolescência é um grito silencioso. Um chamado para que olhemos para os nossos filhos com mais atenção. Não só para os boletins escolares, para o comportamento na igreja ou para os horários de chegada. Mas para o que pulsa por dentro. Para as emoções mal-explicadas, para os medos não ditos, para os conflitos que nem eles mesmos conseguem nomear. 

A adolescência não é um problema a ser resolvido. É um território a ser compreendido. E para isso, precisamos parar de pular cenas. Precisamos ver o filme inteiro. Sem cortes. Com tempo. Com escuta. Com amor. Com detalhamento. 

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