Falar sobre respeito, limites e consentimento pode parecer uma tarefa desafiadora para nós adultos, que temos o pensamento já condicionado a certas opiniões. Mas, para os pequenos que estão descobrindo o mundo, falar sobre esse assunto é muito mais simples e fácil do que parece. E é justamente sobre isso que iremos falar no artigo abaixo.
Os dados de violência e abuso infantil no Brasil nos mostram uma urgência em abordar assuntos como consentimento, respeito e limites com crianças e adolescentes. Somente no ano de 2022, foram registradas 124 denúncias de violência sexual contra crianças e jovens a cada 24 horas, segundo a Fundação Abrinq.
Embora para muitos adultos pareça ser um assunto impossível de se falar com uma criança, a abordagem pode ser muito mais simples e direta do que imaginamos. O mundo das crianças é muito lúdico e repleto de criatividade, e acessar essa ludicidade para abordar temas sérios é uma excelente maneira de conscientizar e contribuir com o pensamento crítico. Entender os limites do corpo e ter autoconfiança para impor esses limites é uma construção diária, que começa no diálogo e em casa.
O que é violência infantil?
Para que possamos entender a abordagem correta que utilizaremos, é preciso entender antes o que é a violência infantil e como identificá-la.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a violência infantil e juvenil é caracterizada por qualquer ação ou omissão que cause dano ou sofrimento físico, psicológico ou sexual a pessoas com até 19 anos de idade. Os diferentes tipos de violência podem acontecer dentro de casa, com parentes, vizinhos, colegas ou até mesmo desconhecidos. Vamos entender a diferença entre cada tipo de violência.
- Violência física: envolve o uso de força para causar dor ou lesões, como bater, chutar ou sufocar.
- Violência psicológica: ocorre quando palavras ou gestos são usados para humilhar, ameaçar ou rejeitar a criança, como insultos ou privação de afeto.
- Violência sexual: abrange qualquer envolvimento de crianças em atividades sexuais impróprias, como abuso, exploração ou pornografia.
- Violência patrimonial: é a destruição ou apropriação indevida dos bens da criança, como roubar ou danificar objetos pessoais.
- Negligência: é a falta de cuidado com as necessidades básicas, como alimentação, higiene e proteção.
- Trabalho infantil: explora a mão de obra de crianças em atividades que prejudicam seu desenvolvimento físico e mental, como o trabalho doméstico ou escravo.
Entenda mais sobre os tipos de violência e como agir clicando aqui.
Como combater o abuso e violência infantil
Para falar do combate ao abuso e violência infantil, é preciso olhar para a primeira infância, onde conseguimos trabalhar a prevenção. São nos primeiros anos da criança que conseguimos ensinar sobre o seu corpo, seus limites, e manter um diálogo aberto para que as crianças se sintam seguras para denunciar casos de violência. Quando conscientizamos as crianças sobre o que é certo e o que é errado, elas conseguem discernir e identificar situações que estão vivendo.
A Campanha Maio Laranja, voltada para o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, destaca a importância da prevenção desde os primeiros anos de vida. Essa iniciativa nacional busca sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de proteger as crianças e adolescentes, promovendo o debate, a denúncia e a educação preventiva, essencial para que as crianças possam reconhecer e denunciar situações de abuso.
Uma criança que vive em um ambiente onde a violência é normalizada ou não se sente segura para questionar comportamentos, dificilmente será uma criança que conseguirá denunciar o que vive, gerando sequelas para toda a vida, muitas vezes irreversíveis.
As relações de poder estabelecidas entre um adulto e uma criança podem ser abusivas e gerar conflitos em uma mente que ainda está aprendendo a lidar com seus sentimentos e a compreender o mundo. Por isso, é importante que dentro do seu lar, com seus responsáveis, a criança consiga se sentir segura para falar sobre sua rotina, seus sentimentos e suas inseguranças, sem que seja reprimida ou cerceada.
Conheça a Campanha Defenda-se!
Para entrar no universo lúdico das crianças, o Centro Marista de Defesa da Infância, do grupo Marista, criou a Campanha Defenda-se, tendo como base o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, especialmente os Eixos de Prevenção e Protagonismo Infanto-juvenil, e o 3º Protocolo Facultativo da Convenção sobre os Direitos da Criança, que prevê a possibilidade de a criança denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) violações de seus direitos.
Composta por uma série de vídeos educativos com linguagem acessível e amigável, apropriados para meninas e meninos entre 4 e 12 anos de idade, a ação conta com histórias que apresentam situações em que as crianças têm condições reais de agir preventivamente, especialmente pelo reconhecimento dos seus direitos sexuais e de estratégias que dificultam a ação dos agressores.
Você pode exibir os vídeos para as crianças em casa ou na sala de aula, por exemplo, como uma série mesmo, passando por capítulos e construindo uma narrativa. Todas as histórias estão disponíveis em libras e audiodescrição, além de legendas em português, inglês e espanhol.
Como denunciar
Você pode receber relatos de violência de terceiros ou diretamente da criança ou adolescente, o que chamamos de Revelação Espontânea. Em ambos os casos, seu papel é de ouvinte, e não é necessário verificar a veracidade do relato antes de acionar os canais oficiais de denúncia.
Toda a sociedade é responsável por proteger crianças e adolescentes. Os canais oficiais de denúncia são:
- Conselho Tutelar da sua cidade.
- Delegacias especializadas ou comuns.
- Disque 100 ou WhatsApp +55 61 9 9611-0100 para relatos não emergenciais.
- Ligue para o 190 em situações de emergência ou flagrante.
- Para denunciar violência on-line, acesse: SaferNet.
Não hesite em denunciar e buscar ajuda. A sua ação pode salvar vidas!
Embora seja uma situação delicada identificar e denunciar uma situação de violência, lembre-se que existem profissionais preparados e qualificados, que lidam com essas ocorrências diariamente. Contribua com a sua parte denunciando, e deixe que o restante seja cuidado e resolvido por profissionais da linha de frente ao enfrentamento e combate à violência e abuso infantil e juvenil.
Informe-se sobre o assunto e contribua. Juntos, somos mais fortes e vamos mais longe. Até a próxima!
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